Your Song| Jaime e Marcelo

7.

MARCELO

Ta bom, aquilo foi bem estranho...

Eu caí em cima dele, e a maneira como o Jaime me olhou...fez eu me sentir estranho. Principalmente quando eu vi seu olhar descer pra minha boca.

E isso me fez me arrepiar...

Isso não estava acontecendo! Não podia estar!

— Tá, Marc, por que me chamou aqui? Com certeza não foi pra te ver desfilando pelo seu quarto, andando de um lado pro outro!

— Eu te chamei aqui, sua diabinha desalmada, porque a culpa do que tá acontecendo comigo agora é sua!– e aponto o dedo pra ela.

— E o que eu fiz?

— Você...ficou enchendo a minha cabeça com aquela história de tensão sexual entre eu e o Jaime e agora eu não consigo tirar esse idiota da minha cabeça!

— Ah, que bonitinho! Você tá tendo sua primeira crise bissexual, meu amor?

— Bi...o que?

— Bissexual. É como se chamam as pessoas que sentem atração por mulheres e...por homens.

— E como você sabe disso?

— Oh, querido...eu já tive algumas experiências que me fizeram descobrir isso. Chegou a sua vez...– diz sorrindo.

— Meu Deus, que droga. Minha vida era tão melhor quando esse cara não tinha aparecido...Aí ele chegou e virou tudo de cabeça pra baixo...

— Tá bom, mas como você chegou à conclusão de que tá sentindo alguma coisa por ele?

— Bom...desde que a gente foi praticamente obrigado a ser monitores juntos, tivemos que...passar algum tempo juntos. Digamos que eu fui percebendo que ele não é tão arrogante como eu achei. Tanto que...acabei contando um pouco da minha vida pra ele. Depois que ele falou da dele pra mim. Ele não esqueceu dos problemas que eu disse que tenho com meu pai. E até disse...palavras de conforto. Mas hoje...Acho que se eu não tivesse...cortado o clima mais rápido, a gente teria se beijado.

— O que também faz cair por terra aquela sua teoria que ele é Hétero. Eu sempre desconfiei...

— Pili, ele perguntou se você tava solteira e ficou te jogando charminho!

— Ué, ele é tão Bi quanto eu e quanto você!– ela diz.— Então, meu amigo, sejamos práticos: o que você vai fazer a respeito disso?

— Nada...não tem nada pra fazer a não ser esquecer disso.

— E perder a chance de viver um amor, Marc?

— Amor? A gente se destruiria, Pili. Não ia dar certo...

— Você não vai saber se não tentar.

— Meu pai nunca ia aceitar isso, Pilar. Ele já me acha um incompetente, que só dá desgosto. Isso seria o fim. Ele ia me deserdar...– digo, preocupado.

— E desde quando você tem medo do seu pai?

— Desde que isso...parou de ser só uma provocação. E virou algo real...

Eu não teria um surto ou crise por conta disso, como Pilar estava dizendo. Óbvio que...descobrir de uma hora pra outra que você não é o que achou que seria a vida toda é um grande choque, mas eu não ia negar. Agora, que eu realmente parei pra pensar, alguns sinais meio que já estavam ali.

Assistir ao futebol na TV e...sentir o coração acelerar por ver eles correrem suados no campo, um ou outro rapaz, na época do colégio, que eu achava bonito, personagens de filmes por quem eu sentia atração e...tantas outras coisas.