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JAIME

É claro que eu não queria dizer aquilo. É claro que, depois de anos com ele, eu imaginava um futuro ao seu lado e dizer o contrário disso me dilacerava por dentro. Mas eu precisava fazer isso. Do contrário, ele nunca iria embora.

E a dor de não ter o Marcelo comigo só não era maior que a de saber que ele não se tornou tudo que poderia ser por minha causa. Eu nunca me perdoaria se isso acontecesse.

Chego em casa, cansado do dia de trabalho longo. Já era quase meia noite e, no outro dia, eu teria que acordar às cinco da manhã para não me atrasar pro trabalho. Eu sabia que o Marcelo já teria ido embora dali. Mas só não esperava encontrar minha mãe sentada no sofá me esperando.

— Mãe, a senhora deveria estar dormindo. – digo assim que entro em casa.– Não pode ficar acordada até tão tarde...

— Eu dizia a mesma coisa quando você ficava acordado até tarde me esperando voltar pra casa, meu filho. Que história é essa que você terminou com o Marcelo?

— Então ele te contou?

— Contou.

— E ele disse que queria desistir de ir para os Estados Unidos por minha causa? Eu não podia deixar isso acontecer, mãe. Uma oportunidade dessas não bate na mesma porta duas vezes...

— Então você se separou dele...

— Sim, mãe. E não me arrependo. Se eu não fizesse isso agora, o Marcelo se arrependeria no futuro.

— Ele ficou tão triste, filho...

— Eu também fiquei, mãe. Muito. Mas saber que pelo menos assim, ele vai poder conquistar o que deseja, faz ser mais suportável.

— Então você vai deixar ele ir?— pergunta e assinto — Bom, eu sei que você já é bem grandinho e pode tomar suas próprias decisões. Mas, meu filho, é bom que voce esteja completamente certo disso. Uma decisão como essa não dá pra voltar atrás. Você vai perder o Marcelo pra sempre. Vai conseguir ser feliz sem ele?

Não. Eu sabia que não ia conseguir. Mas também não vou voltar atrás.

— Eu vou tentar, mãe.– digo  pra ela.— Agora...que tal a senhora ir dormir? Está realmente tarde...

— Já vou, filho. Vai você também...– diz e sorrio, subindo as escadas e entrando no carro. E é agora, quando olho meu quarto sem ele aqui, deitado na cama me esperando, sem suas coisas espalhadas por aqui, que a saudade aperta mais ainda. Entro no banheiro, tomo banho e troco de roupa e, assim que me deito na cama, o cheiro dele vem direto nas minhas narinas. Luto contra uma lágrima que sai dos meus olhos.

Acabou.

Semanas depois...

Minha mãe ia precisar ficar mais um tempo de repouso, então eu continuava trabalhando no bar, como segurança, à noite.

— Boa noite...– escuto uma voz conhecida e foco no rosto da pessoa. Pilar estava parada na minha frente.

— O que você faz aqui?

— O Marc foi embora hoje.– ela diz, como se não fosse nada.– E disse que não volta mais

— Que ele seja feliz lá então...

— Por que abriu mão dele?

— Porque mais cedo ou mais tarde ele se arrependeria de ter me escolhido ao invés dos sonhos dele.

— Então você preferiu perder ele pra sempre, do que simplesmente ter que lidar com a dor dele te deixar? Você deixou ele, pra que ele não te deixasse...

— Chame de egoísmo, altruísmo, amor...Eu só fiz o que era melhor pra ele.

— Eu chamo de coragem. Não é todo mundo que abre mão de um amor e da própria felicidade pela pessoa que ama.

— E agora ele me odeia?

— Nem se o Marcelo quisesse ele seria capaz de te odiar. Ele sofreu muito, mas não foi atrás de você.

— Eu não esperava que ele viesse...– digo.

— Bom, Jaime, eu...vou ali ficar com meus amigos, mas eu quero que saiba que torço muito pela sua felicidade. E pela do Marcelo. Até logo. A gente se vê por aí.

— Tchau, Pilar...— digo e ela se afasta, me deixando ali, fazendo meu trabalho, até que vejo que um homem estava assediando uma das garçonetes do bar, passando a mão nela.– Oi, tudo bem aqui?— pergunto chegando perto da menina e olhando feio pro homem.

— Tudo...tudo sim.– ela diz.

— Não era o que tava parecendo não...

— A moça já disse que tá tudo bem, rapaz. Que tal voltar pro seu posto?

— Eu volto...Mas vou te deixar avisado que, se eu ver que você tá tentando qualquer coisa com ela, vou te tirar daqui a pontapés!– digo a ele e volto ao trabalho, mas continuo olhando feio pra aquele homem.

No fim de expediente, acabo saindo junto com a garota.

— Ei, posso te levar em casa? Não acho muito certo que você fique andando sozinha depois do que aconteceu hoje.

— Claro...deixa só eu pegar minhas coisas...– diz e assinto, enquanto termino de arrumar as minhas.

Ela volta e saímos juntos, caminhando pela rua até a casa dela, que, pelo que vi, não era tão longe do lugar em que a gente trabalhava.

— Bom, é aqui. Obrigada, Jaime, por me defender e...por me acompanhar até em casa.

— De nada...agora que eu percebi que não sei seu nome.— digo. Ela havia sido contratada há pouco tempo. Ainda não a conhecia muito bem, menos ainda tinha tido alguma interação com ela.

— Ah, é Carmen. Carmen Cabarra.

— Bom, Carmen. Tá entregue. Até amanhã.

— Até...— diz e me dá um beijo na bochecha e a vejo entrar em casa, enquanto sigo pela rua, ainda pensando no Marcelo, que agora estava do outro lado da fronteira.

Eu vou ser feliz. Preciso ser. Tenho que reconstruir minha vida longe dele.

Porque é assim que vai ser daqui pra frente.

Sim, vocês acabaram de conhecer a mãe do nosso menino rebelde

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Sim, vocês acabaram de conhecer a mãe do nosso menino rebelde.

E no próximo capítulo, vocês conhecem a mãe do nosso Colucci preferido.

Your Song| Jaime e MarceloOnde histórias criam vida. Descubra agora