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JAIME

— Mãe, cheguei!– digo entrando em casa, depois de chegar da "viagem" até a cidade do México.

— Oh, mi hijo! Seja bem vindo...– diz correndo até a sala e me dando um abraço.– Vamos, vamos. Me conta!

— Ah, tirando o fato de que tem alguns mauricinhos mimados que acham que pessoas inferiores não merecem estar nos mesmos ambientes e ter acesso às mesmas oportunidades que eles têm, foi tudo tranquilo...– falo, ainda irritado pela forma como o tal de Marcelo me tratou, assim como com os olhares que vários deles me lançaram.

— Meu filho, por favor...não arruma confusão com essa gente. Se eles são assim tão influentes, podem acabar com a sua vida lá...

— Ah, não, mãe! A senhora sabe bem que não pode me pedir isso. Nunca fui de aceitar humilhação calado. E não vai ser agora que eu vou começar. A cada deboche, olhar torto ou desrespeito, eu vou responder à altura...– digo a ela, que faz carinho no meu rosto.

— Ah, Jaime. O que eu faço com você, meu filho? Sempre querendo ser revolucionário.

— É assim que a gente muda o mundo, mãe. Não é abaixando a cabeça e desistindo na primeira humilhação, mas lutando por isso. Cada dia. É o que eu tô fazendo. Eu vou ser muito melhor do que todos aqueles playboys juntos, mãe. Pode ter certeza...

— Sei que vai, meu amor. Confio em você.– diz sorrindo.– Agora vai descansar. Vou sair para o trabalho daqui a pouco...

— Eu vou arrumar um emprego também, aí a senhora não vai precisar trabalhar tanto.

— Tá bom, filho. Mas não se preocupe. Foque nos estudos...– diz dando um beijo na minha bochecha enquanto entro no meu quarto e tomo um banho, deitando pra descansar do dia que eu tive, sabendo que amanhã teria que fazer tudo de novo e encontrar com aqueles babacas.

Mas tendo a certeza de que não desistiria.

Meses depois...

— O que vocês pensam a respeito do Capitalismo?— o professor pergunta e, é claro, levanto a minha mão, pra falar o que penso a respeito desse modelo de produção. Começo a ouvir risadinhas e olho ao redor. Acabo revirando os olhos.

É claro que o Marcelo também tinha levantado a mão, ao mesmo tempo que eu. Nossos embates eram diários. Sempre discordamos em tudo, porque temos visões de mundo muito diferentes. Duvido que alguma vez, vamos conseguir concordar em alguma coisa, a não ser no fato de que não concordamos em nada.

Já consegui fazer alguns amigos aqui e eles sempre me dizem que acham que nós fazemos isso de propósito. Não é possível que duas pessoas não concordem em nada, mas, bom, acho que somos a prova de que é, sim, possível.

— Jaime...– o professor aponta pra mim, com um suspiro, sabendo que era só o começo de uma longe discussão...

— Bom, não dá pra negar que o Capitalismo é o meio de produção mais forte atualmente e que vários avanços no mundo se deram graças a ele. Mas...um dos principais problemas é justamente que a riqueza e os avanços só chegam pra pessoas que tem um poder aquisitivo maior, que são uma parcela muito pequena da população. A maioria de nós nunca vai saber o que é ter a vida que essas pessoas tem porque nós trabalhamos pra que eles possam ter essa vida. E o que nós recebemos pelo trabalho não é, nem de longe o que contribuímos pra que os ricos sejam ricos...— exponho a minha opinião, recebendo aplausos de alguns alunos da sala.

— Obrigado pela contribuição, Jaime. Marcelo...– e olha pro outro, que estava de braços cruzados e uma expressão debochada direcionada a mim.

— Acho que é muito fácil condenar o Capitalismo nas palavras. É bonitinho protestar e dizer que a riqueza dos ricos é gerada pelos pobres que não recebem nem uma mísera parcela do que produzem. Mas a verdade é que tivemos provas mais que claras de que o mundo só avança, de fato, com o Capitalismo. Todos aqui acompanharam o que aconteceu a países que adotaram o socialismo como modo de produção. A maioria deles quebrou e precisou de investimento dos capitalistas. Quer prova maior de qual dos dois funciona?

Your Song| Jaime e MarceloOnde histórias criam vida. Descubra agora