JAIME
Dias depois...
— Está mesmo certo disso?– Marcelo pergunta quando já estamos a um passo de encontrar o Juan— Se quiser, podemos dar meia volta e ir pra casa. Não precisa ter mais nenhum contato com ele.
Depois de conversar com a minha mãe, falei pro Marcelo que queria encontrar com o Juan e insisti, mesmo que ele achasse uma loucura. Marcelo me apoiou e, juntos, fomos atrás do endereço do Juan. Assim que o encontramos, resolvemos ir até a casa dele.
— Eu tenho, Marc. Preciso falar com ele, colocar um ponto final nisso de uma vez por todas. Preciso ouvir tudo aquilo da boca dele.
— Pra se torturar mais um pouco?
— Pra seguir em frente. Não foi o que você fez quando seu pai te pediu pra vir até aqui, ver ele no leito de morte? Você podia não ter vindo. Ter apenas ignorado ele e deixado morrer sozinho...
— Mas foi o que eu fiz!
— Depois de falar com ele e perceber que, mesmo à beira da morte, ele não se arrependia do que fez. Não tinha remorso algum. Mas você precisava disso pra seguir em frente, pra finalmente dizer a si mesmo que o seu pai não era mais ninguém na sua vida. É isso que eu quero fazer por mim...– digo e ele revira os olhos, assentindo.
— Odeio como você está sempre certo.
— Temos dores parecidas, querido. Não foi isso que você me disse?— pergunto e ele sorri, me dando um beijo antes de tocar a campainha do apartamento que meu pai estava morando e aguardar que ele abra, o que não demora a acontecer. Juan olha pra nós de cima a baixo, surpreso.
— O que estão fazendo aqui?— pergunta.
— Vim...conversar com você.— digo e ele olha pro Marcelo.
— Nem me dirija o olhar! Se dependesse de mim, essa visita não estaria acontecendo!– Marcelo diz de braços cruzados do meu lado.
— Entrem.– Juan diz e dá espaço pra entrarmos.– Nao liguem pra bagunça. Passo a maior parte do tempo no hospital. Não tenho tempo de arrumar a casa.
— É pra gente sentir pena? Não funcionou...— Marcelo resmunga e belisco o seu braço.
— Então, você mudou de ideia, Jaime?
— Não, Juan.– digo de uma vez.– Você acha mesmo que voltar depois de 30 anos e, pior, admitir que voltou porque precisa de mim e não porque realmente quer se aproximar de mim vai me fazer te perdoar?
— Eu...não achei que fosse fazer isso.
— O que é pior! Você tá praticamente admitindo que só precisa de mim pra doar o fígado pra você!
— Eu sou seu pai.
— Um pai que nunca se importou comigo desde que eu tenho 3 anos. Você não tava aqui quando eu aprendi a andar de bicicleta, não tava no meu primeiro dia de aula e também não tava quando eu, com dezesseis anos, tomei um porre e voltei pra casa bêbado. Você não estava aqui nos dias dos pais, nem nos meus aniversários. Mas sabe quem estava? Em cada um desses dias? Minha mãe. Sempre a minha mãe. Se ela me pedisse pra doar um pedaço de mim pra ela, eu doaria sem pensar duas vezes. Mas você? Não. Você é praticamente um estranho pra mim...
— Por que veio, se nada mudou?
— Porque eu queria dizer tudo isso olhando nos seus olhos. E te dizer que não quero ter qualquer contato com você. Nem quero que meu filho tenha. Você sabia? Eu tive um filho. Um filho que eu tô criando muito melhor do que você criou. Então, entre na fila de transplantes e não nos incomode mais!— digo pra ele e me levanto pra ir embora, seguido por Marcelo, que olha bem nos meus olhos. Me odeio por sentir lágrimas saindo deles.
— Ei, acabou. Você colocou um ponto final nessa história, do jeito que você queria. Estou orgulhoso de você...— diz e me abraça.
— Obrigado por estar aqui. Eu amo você...– digo beijando ele e saímos do lugar abraçados, voltando pra casa. Havia finalmente colocado um ponto final na história que já dura trinta anos e já me causou tanta coisa. Hoje, eu finalmente a deixaria pra trás e poderia seguir em frente. Finalmente.
MESES DEPOIS
— Finalmente! Já estava achando que ia ter que tirar vocês dois da frente do espelho à força.– digo quando vejo Marcelo e Luka descendo as escadas.
Hoje teríamos a festa de Natal com nossos amigos. E iríamos pra ceia na casa da Pilar.
O problema era que o Marcelo e o filho demoravam muito se arrumando.
Tal pai tal filho...
— Desculpa, tio. É que...nós somos Coluccis. Temos que ficar bonitos!– Luka diz sorrindo e olho pra Marcelo.
— Eu juro que não fui eu que ensinei ele a falar isso.– se defende.
— Até parece...– digo.– Mas acho que valeu a pena esperar. Vocês estão muito bonitos...
— Estão mesmo.– Oscar concorda.
— Vamos, queridos?– minha mãe pergunta, vindo da cozinha com a sobremesa que ela cozinhou e assentimos, indo até o carro de Marcelo, e dirigindo até a casa de Pilar.
Ao chegarmos lá, cumprimentamos a todos e as crianças vão brincar juntas enquanto ficamos conversando, mas percebo que Marcelo e Pilar parecem estranhos, sussurando toda hora, até a hora de servir o jantar.
— Boa noite a todos. Quero agradecer por terem vindo passar a noite de Natal aqui conosco. Essa é uma época muito bonita e gostaria de dizer que todos vocês são importantes na minha vida. Obrigada por estarem aqui!– diz e todos sorrimos, batendo palmas.
— Aproveitando, já que estamos todos reunidos aqui, queria agradecer a todos os presentes. Depois de dez anos fora, finalmente estou em casa de novo e passar essa data ao lado de pessoas tão especiais e da minha família. Em especial, meu filho, meu enteado, minha sogra e o homem que eu amo. – diz e sorrio. Ele se vira pra mim. – Certamente, a parte mais especial do meu ano foi ter te reencontrado e poder viver esse amor de novo com você. E me fez ter cada vez mais certeza que eu quero passar minha vida inteira ao seu lado. E que não quero perder mais tempo. Então, Jaime, eu queria te perguntar...– e tira uma caixinha de anel do bolso, abrindo-a enquanto se ajoelha na minha frente.– Se você aceita se casar comigo...
— Ah, meu Deus...– digo ao ser pego totalmente de surpresa por ele.
— Aceita, papai!– Oscar diz.
— É claro que eu aceito, Marc!– digo e nos levantamos. Ele coloca o anel no meu dedo e faço o mesmo com ele.— Eu te amo tanto.
— Eu também te amo, meu noivo...– diz sorrindo e me dá um beijo, sob aplausos e sorrisos de todos.
Definitivamente, uma vida nova.
O casamento é o último capítulo da fase dois. Depois disso, começa a fase 3 com nossos meninos (irmãozinhos kkkkk) crescidos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Your Song| Jaime e Marcelo
RomanceComo teria sido a história de Lo Siento se o Gus não existisse?