- E...foi isso que nós estudamos até aqui, pessoal.- Marcelo encerra a nossa apresentação de revisão das aulas anteriores.
- Pois é, gente. Qualquer dúvida, podem perguntar pra gente...- digo e todos batem palmas pra nós.
- Meus parabéns. Vocês fizeram um ótimo trabalho.- o professor diz.- Parece que arrumaram uma forma de trabalhar juntos.
- É...não foi tão ruim assim.- digo - Mas também não foi um mar de rosas.
- Você fala como se fosse alguém fácil de conviver, né Negrete?- Marcelo diz e rio.
- Perto de você, garanto que sou um amor de pessoa.
- Enfim...vou precisar que vocês atualizem um material de aula pra mim. Vou viajar essa semana e não vou ter tempo. Acho que na biblioteca tem um livro exatamente com os tópicos de que precisam. Aqui está o pendrive com os slides.- diz pra nós.- A parte que preciso que vocês ajustem está marcada em vermelho.
- Tá bom, professor. Obrigado!- digo pegando o pendrive da mão dele.
- Bom, biblioteca hoje de novo então?- pergunta e assinto.
- Parece que sim, né?- digo e ele assente enquanto ando até meus amigos, que começam a elogiar a apresentação e dizer que eu e o Marcelo formamos uma ótima dupla, o que eu sou obrigado a concordar. Quando a gente não está brigando, até que conseguimos nos virar bem juntos...
Depois da aula, como de costume, vamos pra biblioteca fazer o que o professor havia pedido. Ele deu a indicação de onde o livro estaria na biblioteca e fomos até lá. A gente só não contava que ele estaria justamente na parte mais alta da estante, nos obrigando a subir a escada.
- Ele podia ter facilitado um pouco mais que fazer a gente subir uma escada, né?- digo.- Quem sobe?
- Eu...mas se me deixar cair, eu mato você Negrete!- diz apontando um dedo pra mim e reviro os olhos, segurando a escada enquanto ele sobe, procurando o livro.- Aqui! Achei!- e se estica pra pegar o livro.
- Cui...- começo, mas mal termino a frase quando ele se desequilibra e cai lá de cima, bem em cima de mim, mas com o livro na mão.- dado.
Acabamos os dois no chão, ele por cima de mim, no meio do corredor estreito da biblioteca. Nossas respirações se encontram e, instantaneamente, sinto meu coração acelerar. E a causa estava longe de ser o susto com a queda.
Porque ter a boca daquele playboy mimadinho e insuportável com a respiração dele tão perto da minha me fez perceber...
Que eu queria beijar ele.
- Eu não falei pra você não me deixar cair?- pergunta, saindo de cima de mim.
- Mas quem tá no chão sou eu, não você! Eu amorteci sua queda. Eu podia ter batido a cabeça e morrido.
- O que não seria grande perda!- retruca, se levantando de vez do chão e saindo do corredor das estantes.
Eu só posso ter enlouquecido!
Admito que, ao longo desses dias, o Marcelo se tornou mais...tolerável, muito embora seja o mesmo playboy arrogante na maior parte do tempo. Aprendi, aos poucos, que é mais humano do que eu imaginei e do que ele mostra e que tem seus problemas e questões, como todo mundo.
Acho que...comecei a gostar dele. Mas só agora eu percebi que...estou fazendo isso mais do que deveria.
Minha sexualidade estava longe de ser uma questão pra mim. Sinto atração por mulheres, mas também por homens, embora não tenha me envolvido com muitos durante a vida. Minha mãe demorou um pouco pra entender isso, mas me aceitou porque me ama acima de tudo e de qualquer preconceito.
Mas é que...com tantos caras nesse mundo pra eu sentir alguma atração, tinha que ser logo por esse babaca que com certeza é hétero? Eu, definitivamente, devo estar passando tempo demais estudando e trabalhando. Eu preciso sair pra me divertir um pouco, pra esquecer do que eu acabei de sentir.
Ando até o computador da faculdade com o Marcelo e começamos a fazer a tal atualização das aulas para o professor. O trabalho não é muito demorado e, no final, devolvemos o livro pra biblioteca, dessa vez quem sobe a escada sou eu.
- Bom, terminamos. Melhor eu ir embora, ou me atraso.
- Você não...quer uma carona?- Marcelo pergunta e fico indeciso entre negar ou não, mas acabo decidindo por provocar ele.
- E por que quer me dar uma carona?
- Ah, porque você disse que vai se atrasar. Não quero que...sei lá, tome alguma advertência no trabalho por...causa da monitoria da faculdade...
- Não lembro de ter te dito que eu ia trabalhar hoje...- especulo.
- Ah, vá à merda então. Se não quer aceitar a carona é só falar.- diz.
- Não, perai. Vou trabalhar sim. E aceito a sua carona...- digo sorrindo.
- Ótimo. Mas não se acostuma.
- Jamais...- digo enquanto sigo ele até seu carro. Assim que entramos, vejo uma foto de uma mulher muito parecida com ele no painel.- Essa...É sua mãe?- ele assente.- Ela era...muito bonita...
- Sim, ela era. Por dentro e por fora. Minha mãe era...a pessoa mais incrível que eu conheci.
- Então você não puxou pra ela...- comento e ele me olha, mas não um olhar bravo. Um olhar triste.- Não, olha eu...não quis te ofender. Foi uma brincadeira. Eu juro.
- Não...você tá certo. Eu nunca conseguiria ser tão bom quanto ela foi. Já me acostumei com isso, tá tudo bem...- diz voltando seu olhar pra estrada.
- Você...sabe que não precisa ser assim né? Acho que...quanto mais tempo eu passo contigo, menos eu...te acho um idiota babaca.
- Devo agradecer pelo elogio? E...você também não é tão insuportável. Só quando me irrita! - diz e sorrio.
No fim, depois de tudo, ele estaciona em frente ao bar em que eu trabalhava.
- Obrigado pela carona, Marcelo...
- De nada, Jaime...- diz e dá partida no carro, saindo pela rua enquanto entro no bar, pensando no que é que eu estou me metendo. E onde essa história vai parar.
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Agora sabemos que o Jaime se apaixonou primeiro...
Mas acho que já dá pra saber quem vai amar mais forte né?