OKANE
Acho que não conseguir descrever em palavras o ódio que me percorreu quando vi aquele cara agarrar o braço do Luka e tentar forçá-lo a algo que ele claramente não queria.
Eu sei que ele é bem capaz de se defender sozinho e que, se eu não tivesse me metido, teria dado um chute nas bolas do cara e se soltado. Conheço bem o pinsher com o qual fui criado e por quem me apaixonei. Não era eu que era motivo de chamadas dos nossos pais na escola quando éramos mais novos, porque tinha me metido numa briga ou porque mordi um moleque que chamou nossos pais de nojentos, ou algo assim. Eu tinha raiva, mas me segurava. Luka sempre foi o impulsivo de nós dois.
Mas o fato dele saber se defender sozinho não quer dizer que eu devesse deixar aquele cara continuar tocando nele daquela forma. Agora meu rosto está doendo como o inferno e meu olho nem abre. Mas ele com certeza estava pior que eu e teve o que merecia por ter tocado no Luka.
— Meu Deus, seu rosto tá muito inchado...– Luka diz pegando meu rosto, virando de um lado pro outro pra ver o estrago, enquanto estamos no Uber a caminho de casa.– Eu teria dado conta dele sozinho. Não devia ter se metido. Agora seu rosto tá todo machucado por minha causa.
— Não foi por sua causa. Foi culpa daquele babaca desgraçado. E eu sei que você era capaz de se defender sozinho eu só...fiquei com ódio quando vi ele te pegar daquele jeito.
— Ódio por que?
— Porque...– porque se eu estivesse com você do jeito que eu quero, aquele babaca nunca teria encostado em você. – Ah, você sabe porque. Porque eu me importo muito contigo. Eu sou...
— A porra do meu irmão mais velho, tá bom. Já entendi. Eu não preciso de babá, tá legal?– diz e é o momento em que nosso Uber chega no portão de casa. Dou graças a Deus porque senão seria briga na certa. Pagamos o valor e descemos.
— Ei, espera aí!– sussurro.– Nossos pais podem estar na sala. Na hora que eu saí, eles dois estavam vendo série na Netflix.
— E o que tem? Não é como se você fosse conseguir esconder sua cara deles por muito tempo.
— É, mas até amanhã ela vai estar menos pior do que tá agora...— argumento– Por favor. Você conhece seu pai. Ele vai surtar se me vir assim. E o meu pai vai passar meia hora discursando sobre o porquê eu não posso brigar em festas...
— Verdade. Lembra quando a gente era pequeno e eu chegava da escola com uma advertência porque tinha brigado com alguem na escola? Meu pai perdia a cabeça e ameaçava processar os pais da pessoa. E o Jaime passava meia hora discursando sobre eu não brigar com ninguém.
— Acho que a gente nunca foi muito bom em seguir regras, no fim das contas...– digo dando de ombros e ele assente, sorrindo. Entramos pela porta dos fundos.
— As luzes da sala estão apagadas...— Luka sussurra.– Eles já devem ter ido dormir.
— Melhor assim...– digo e ele começa a procurar a caixinha de primeiros socorros na despensa.– Acho que tá na prateleira de cima.
Digo e ele se coloca na ponta dos pés, puxando a caixa, que eu acho que deveria estar enroscada em alguma coisa. Ele coloca força demais nela e acaba se desequilibrando, caindo em cima de mim que estava atrás dele.
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Your Song| Jaime e Marcelo
RomanceComo teria sido a história de Lo Siento se o Gus não existisse?