(Vol. IX) Ano XII p.e. ⎥ 2. Raiva;

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EU DESEJAVA ESTAR EM QUALQUER lugar

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EU DESEJAVA ESTAR EM QUALQUER lugar. Qualquer outro lugar que fosse, apesar de ter a certeza de que eu deveria estar ali.

Conhecia e entendia as minhas responsabilidades, a sensatez e a necessidade de passarmos pelo momento coletivo de luto. Mas, "consolo" não era exatamente a palavra que eu estava procurando desesperadamente naquele momento.

A sensação cortante que perfurava o meu peito parecia muito com espinhos que nasciam em minha garganta e se emaranhavam por toda a minha alma. Me impediam de falar, nem ao menos um sussurro sequer, sobre as coisas que eu estava sentindo no momento. Descendo aquela angústia por todos os meus músculos e me tornando cada vez mais miserável com o passar do tempo.

O meu corpo tremia em espasmos que pareciam surgir como pequenas ondas frias de choque. Se tornando torturante simplesmente estar viva e respirar.

Cruzei os meus braços e abracei a mim mesma com força. O inverno estava pairando sobre nós como o manto da morte, contudo, eu sabia que não se tratava da reação normal contra a natureza, o fato da minha pele estar constantemente arrepiada. Ou os meus lábios permanecerem secos enquanto os meus olhos vertiam lágrimas até estourar a minha cabeça em dor.

O motivo de tudo aquilo, todo aquele sofrimento, lamentações, frio e desenganos, era justamente porque havíamos acabado de fazer um funeral simbólico.

Havíamos acabado de enterrar algumas cabeças. Só as cabeças! E isso estava me enojando como uma serpente se infiltrando à força por meus lábios até o meu estômago.

Após todos os floreios que um funeral digno poderia exigir para as pessoas que se foram (pessoas amadas e conhecidas que deixavam entes queridos para trás), nós havíamos nos reunido no centro da Feira do Reino, drasticamente interrompida pelo ocorrido com os Sussurradores.

O palco que antes guardava a expectativa de música, teatro e outras apresentações alegres, dessa vez contemplava uma única cortina vermelha feita em veludo. Um local aonde um único homem de cabelo escuro se encontrava de pé diante de uma plateia silenciosa.

Siddiq ainda tinha os olhos vermelhos pelo choro, as mãos trementes de dor e uma faixa de tecido amarrada ao redor da testa como um curativo.

O seu semblante estava devastado. Os olhos meio temerosos ainda pareciam observar dentro da sua mente as cenas que presenciou. Era fácil perceber no modo como ele respirava fundo e lentamente algumas vezes, tentando recuperar o seu próprio eixo enquanto era encarado por um grande grupo de pessoas destruídas também. Inclusive eu.

Meus olhos não permaneciam por muito tempo em Siddiq. Todas às vezes que eu ousava olhá-lo diretamente, me lembrava do que havia acontecido no dia anterior e isso me fazia passar mal de novo. Assim como doía olhar para Earl segurando Adam em seus braços; ou para Alden limpando suas lágrimas por Enid; ou o rei Ezekiel e Carol, abraçados um ao outro enquanto tentavam aguentar o peso terrível de perder um filho.

STING [𝐋𝐈𝐕𝐑𝐎 𝐈𝐕] daryl dixon⼁The Walking DeadOnde histórias criam vida. Descubra agora