Louise
Quando eu era criança, meu pai me dizia que os episódios de esquizofrenia que eu sofria não era culpa minha e que eu não tinha controle sobre as coisas que eu via, então eu não devia chorar escondida no banheiro da nossa casa. Mas o que papai não sabia era que eu não estava chorando por culpa ou vergonha de algum dos nossos familiares ter me visto falando sozinha, eu chorava porque tinha medo. Todas aquelas criaturas monstruosas que eu enxergava me faziam mijar nas calças todas as vezes sem exceção. Eu tentava seguir as instruções do psicólogo sobre entender que não era real, mas nada continha minhas lágrimas de pânico. Havia vezes que eu me escondia no guarda-roupa, mas não era o bastante. Eles sempre me encontravam. Não havia um lugar sequer onde aqueles monstros não conseguissem me achar.
Hoje, no entanto, é culpa que move minhas lágrimas. O garoto podia ter morrido..
Henry ainda dorme tranquilamente na cama que Alec arrumou horas trás. O quarto não é tão grande quanto o meu, mas está servindo. Limpei o sangue superficial que havia nos seus braços e rosto, mas ele ainda precisa de um banho depois que acordar. Ainda não sei como faria para explicar tudo isso a ele. Sei que Henry é compreensível, mas... Inferno? Levei dias para realmente acreditar. Sei que Aren não vai mover mais um músculo para me ajudar nisso, então terei que pensar em algo antes que ele acorde.
Ouço um ranger da porta e endireito minhas costas no divã. Alívio toma conta de mim quando noto Ravena entrando no quarto.
– Oi – ela murmura suavemente. – Vim assim que soube. Eu sinto muito.
Forço um sorriso o máximo possível, mas não sai nada.
– Obrigada.
Ela assente e estuda Henry em seguida. Ravena usar roupas de couro, o que me leva a crer que estava na busca pela Tríade.
– Ele está bem?
– Acho que sim, ele... Aren disse que ele não morreria. – Falar o nome dele me custa uma vacilada na voz. – Mas não faz tanto tempo que ele está dormindo, só algumas horas. Deve acordar em breve.
– E você? Está bem? – Ela se senta ao meu lado, e eu inspiro o ar que agora é mais familiar do que nunca.
– Eu... – Uma risada seca escapa da minha boca. Não tem motivo para mentir para Ravena aqui. – Para falar a verdade, não. Eu... Alec te contou sobre...? – A confusão no seu rosto me faz acreditar que não. – Enfim, eu fiz uma merda grande envolvendo esse garoto e... eu iria resolver hoje... Resumindo, eu não estou bem e não faço a mínima ideia do que fazer agora.
Compreensão acende no rosto de Ravena. Uma compreensão genuína.
– Você não está sozinha. Todos estamos aqui com você e vamos conseguir encontrar um jeito de arrumar essa bagunça que você fez, certo?
– Obrigada.
– Por mais que... – Ela faz uma pausa, tomando minhas mãos, as suas aquecem a minha, me fazendo notar o quanto eu estava congelado. – Somos uma família, por mais maluca que seja. Uma família que, embora nos ameacemos de vez enquanto, e quando digo ameaçando, você sabe quem faz isso, se ajuda quando precisa. E você faz parte dessa família agora, então se tiver alguma preocupação ou problemas, não só pode como deve nos deixar dividi-los como você. Porque é isso que uma família faz, certo? Mesmo... doida como a nossa.
Sorrio sem perceber. Sim, é isso que famílias fazem. No entanto, uma breve lembrança de Mia faz meu sorriso sumir. Ela não confiou em mim para falar tudo. Talvez não achasse que eu conseguiria suportar com tudo o que já vinha carregando nas costas, mas... Assim como Ravena, eu gostaria de ter dividido os problemas da minha irmã comigo. Talvez ela ainda estivesse aqui agora...
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Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)
RomanceSe você não leu o primeiro livro da Trilogia, não leia essa sinopse: Contém spoilers. Depois de acordar do Sono Profundo, Louise descobre que agora é a Rainha do Inferno. Algo que, a assusta e a faz precisar de um tempo no Mundo dos Humanos para pen...