Capítulo 46 - Eu quero é que ele morra

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Louise


– Ele vai ficar bem.

Eu quero é que ele morra. Não digo a Beatrice porque, no fundo, minha mente sabe que é mentira. Por mais que eu tenha descoberto que Aren foi o culpado por todos os cenários de horror na minha infância, minha maldita humanidade ainda fala mais alto. Por mais que, quando lembro daqueles olhos cheios de escuridão, minha mente retorne a cada terror que passei, minha respiração fica mais leve por saber que ele não vai morrer ou até passar pela transição.

Beatrice acordou o corredor inteiro horas atrás. Aren foi atacado por uma Aranha-Marinha. Para a sorte dele, a fêmea percebeu antes que ele sequer completasse a transição.

Sorte a dele também que Alec tem essa coisa de aliviar a dor. Caso contrário, talvez Beatrice não tivesse conseguido extrair a toxina da Aranha com um feitiço de bruxa – ela não é uma, mas conviveu dezenas de anos com uma delas. E para a sorte de todos ainda mais, a fêmea matou o demônio inferior antes que ele atacasse mais alguém.

Então nosso único problema no momento é esperar que o maldito diabo acorde.

O meu, em específico, é querer que ele acorde quando quero fugir para longe dele ao mesmo tempo. Há uma semana venho me escondendo no meu quarto, tentando juntar as rachaduras do meu coração, rejeitando qualquer tentativa de aproximação de qualquer que seja. Então isso acontece...

É como se o maldito destino quisesse brincar comigo.

– Humana? – a voz de Alec ressoa por trás da porta da sala de reuniões. Nem sei porque estou aqui, quando esse lugar era o que ele ficava praticamente todo o dia. No fundo, você sabe, Louise.

Limpo a garganta.

– Sim.

Um clique. Alec entra. Os olhos estão um pouco cansados, e não sei se por ter gasto bastante energia aliviando a dor de Aren – obviamente, sem que ninguém soubesse –, ou se por já passar da madrugada. Talvez os dois. Certamente os dois.

– Como você está?

– Estou bem – minto descaradamente.

Alec não sabe que nós brigamos, mas deve imaginar, já que, em nenhuma noite dessa semana, eu participei do Ardens.

– Você sempre mentiu mau. – Ele se senta na cadeira em frente à mesa retangular que estou, a mesa dele, a cadeira dele. – A não vai morrer, não precisa se preocupar.

– Não estou preocupada.

O Caçador estreita os olhos.

– Ah, você está. Não estaria acordada até essa hora se não estivesse. – Maldição. Fico calada. Alec continua: – A briga foi feia assim?

Desvio o olhar.

Meu peito aperta só de lembrar. Como ele conseguiu fazer isso comigo? Como conseguiu continuar me olhando nos olhos depois de tudo? Depois do que eu passei. Depois de tudo o que ele me fez passar.

– Olha, eu não vou defender...

Giro o rosto de volta a Alec.

– Você sabe o que ele fez?

Para meu alívio, o demônio faz que não com a cabeça.

– Só ia dizer que estou do seu lado se precisar de um tempo. Posso ficar de olho nele até ele acordar.

Relaxo meus ombros, reclinando as costas na cadeira.

– Eu... tudo bem, não tenho nada para fazer mesmo. Você tem que lidar com os demônios que acordaram com toda a barulheira.

Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora