Capítulo 20 - Acho que não fomos formalmente apresentados

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Devil


Louise não cansa de me trazer problemas.

Nem sei quantos ela já se meteu, e ainda envolveu outros humanos dessa vez. Não se passou nem um dia inteiro que eu voltei para a Casa do Fogo, e já usei meus poderes mais do que nas semanas em que estava lutando no Death Fight. Eu já sabia que ela levaria o garoto de volta ao mundo humano. Não é novidade que Louise tenta proteger os mais fracos, mas aí ela volta para o Mundo dos Demônios não só com um humano, mas com dois deles. Isso é demais para mim. Nem sabia que humanos conseguiam fazer tanta bagunça assim.

– Nos diga exatamente o que aconteceu, Humana – Alec pede, e os dois garotos sentados em duas cadeiras com os olhos apreensivos erguem o rosto. – Ah, não é com vocês – ele aponta para Louise –, é com essa humana. Se é que podemos chamar ela de humana mesmo, mas enfim.

– Arya estava invocando um demônio quando eu cheguei – Louise conta, e eu aperto as sobrancelhas. Não é comum que humanos saibam como fazer isso. – Ele tentou nos atacar, mas eu abri uma Fenda o mais rápido que consegui, e aqui estamos nós.

– De que tipo era esse demônio?

Mesmo não querendo me olhar, devido aos acontecimentos recentes, ela afasta o olhar até mim.

– Pelo que parecia, superior. A forma física... eu achei vagamente familiar, mas não reconheci. Não consegui ver direito, porque foi tudo rápido demais, mas ele usava uma túnica preta, pelo menos parecia ser, e não tinha um rosto de verdade, só tinha uma sombra...

– Demônio dos Sentimentos? – Alec sugere, movendo o rosto na minha direção.

– Um Adfectus – assinto, encontrando os olhos de Louise. Por mais que não tenham uma forma física palpável, os Adfectus conseguem raciocinar muito bem. Eles sabem exatamente como sentir os medos e usá-los. Medos e sentimentos. – Ele não ia atacar vocês diretamente, ia usar os seus sentimentos contra vocês. Se não tivesse sido rápida o bastante para abrir a Fenda, talvez não tivessem nenhuma chance.

Um brilho acende nos seus olhos, algo parecido com orgulho. É muito breve, mas eu noto. Ainda estou intrigado como ela conseguiu aprender a dominar as Fendas entre os mundos tão rápido. E sozinha.

– Por que você estava invocando um Demônio dos Sentimentos? – pergunto para garota de cabelos verdes. Ela não falou nada desde que chegou. Nenhum dos dois falaram. O garoto está assustado demais para isso. O que me intriga, porque, pelo que parece, ele não estava tão assustado como deveria estar quando apareceu naquele corredor. Pelo menos não pelos motivos óbvios de estar no inferno.

A garota enfim ergue o olhar, encontrando o meu, e eu noto algo a mais ali. Não sei o quê, ou se pretendo descobrir. Ela usa roupas pretas e tem no mínimo vinte tatuagens espalhadas pelos seus braços e pernas. Não consigo decifrar nada superficialmente, então eu navego pela sua mente conturbada. Assim como quando eu invadi pela primeira vez os pensamentos de Louise, há uma bagunça enorme aqui. Não consigo interligar os fatos e entender o porquê a garota fez isso. Talvez por que há um sentimento maior dentro dela que sobrepuja todos os outros. Ódio. Ela está com muita raiva de...

Pisco, surpreso. Quando retirei a toxina do garoto humano, consegui ver vários momentos de quando estavam os três juntos, e em todos eles os três estavam sorridentes e se divertindo. Então por que a garota está furiosa com Louise?

– Por quê. Você. Estava. Invocando. Um. Demônio. Dos. Sentimentos. – Repito cada palavra descompassadamente, mas meu olhar vacila quando Louise se aproxima e chama minha atenção.

Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora