Louise
– Eu deveria ter trazido alguma outra roupa? – pergunto a Aren, enxergando um baú antigo nos fundos do barco. Ele é bem grande, mais do que eu pensei que seria, na verdade. E é realmente de contrabandistas, o barco parece ter sido inspirado naqueles navios piratas dos filmes de Hollywood. – Quantos dias vamos ficar fora?
Aren dá de ombros, reclinando a cabeça na madeira. Estamos no andar de baixo, e Baylor, o demônio que o diabo está obrigando a nos levar até as Águas do Sussurro, está no comando da navegação no andar de cima. Não faz nem trinta minutos que estamos na água, e Aren já está com os olhos fechados, como se estivesse tentando evitar até respirar. Ele está... com medo do mar?
– Não sabia que o diabo tinha medo de água.
Nem sei ao certo porque ele me trouxe para essa viagem, mas realmente pode ser bom ficar longe de... tudo. Se eu fechar os olhos, ainda consigo ver o desprezo na voz de Arya, no constrangimento que passei naquele jantar... Interrompo meus pensamentos antes que eles voltem ao espiral de ontem à noite.
Ainda de olhos cerrados, Aren tosse baixinho.
– Não é medo de água. – Ele parece estar prestes a vomitar o que quer que tenha tomado de café da manhã, a única coisa que ele nos deu tempo para fazer. Aren parecia muito apressado em nos botar no mar. – É só que... isso balança demais.
Perguntei a ele horas mais tarde por que não podíamos usar uma Fenda, mas ele me explicou que, assim como nos Desertos Esquecidos, há magia nas Águas do Sussurro que impedem as extensões dos Portões. Ou seja, sem viagem pelas Fendas.
– É um barco – murmuro, caminhando até o que parece ser uma dispensa e o deixando sozinho com seus medos. Pelo menos tem comida aqui. Como eu disse, o barco é grande. Além desse quarto que estamos, que mais parece uma suíte do que um quarto, há vários como esse pelo barco. Não sei quanto tempo leva de viagem para esses contrabandistas, mas, pelo visto, eles estão preparados para qualquer coisa. – Não tem como ficar parado.
– Ah, jura?
Não consigo conter meus lábios de se repuxarem enquanto eu exploro a dispensa. Há alguns balcões e comida enlatadas em cima dele. Faço uma careta, voltando ao cômodo em que Aren está. Minha alegria sobre ter comida morreu mesmo antes de começar.
– Ah, qual é? Se for vomitar, faça isso lá em cima.
Devagar, ele separa os cílios, os olhos fervilhando.
– Eu não vou... – Suas mãos tapam sua boca, como se o impedisse de fazer exatamente o que eu disse que iria fazer. Revirando os olhos com esse orgulhoso de merda, eu volto na dispensa e agarro um balde vazio. Suas sobrancelhas se franzem quando nota o objeto na minha mão. – O que é isso?
– Um avião. Não está vendo?
Aren retorce os olhos, voltando a fechá-lo e recostar sua cabeça na madeira.
– Não seja tão orgulhoso, você vai vomitar a qualquer momento, pegue a porra desse balde – chio, e logo ele está me encarando de novo. E me encara por longos minutos até me obedecer. – Idiota orgulhoso.
– Eu ouvi isso, sabia?
– Ah, jura? – Volto a explorar a suíte e abro outra porta do outro lado da dispensa. Aparentemente aqui é o quarto, já que há um roupeiro no canto esquerdo do cômodo e... uma cama. – Ah, merda.
– O que foi? – ouço-o perguntar, ainda no mesmo lugar que estava.
Eu abro a boca e fecho. Talvez a viagem seja curta e não precisaremos dormir em algum momento. Ah, que ótimo, por que eu tinha que ficar a noite toda acordada, me lamentando por algo que eu nem fazia ideia?
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Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)
RomanceSe você não leu o primeiro livro da Trilogia, não leia essa sinopse: Contém spoilers. Depois de acordar do Sono Profundo, Louise descobre que agora é a Rainha do Inferno. Algo que, a assusta e a faz precisar de um tempo no Mundo dos Humanos para pen...