Capítulo 1 - Eu não sou um demônio

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Louise


Eu me sinto diferente.

Não um diferente extraordinário, como se toda minha vida tivesse mudado de um dia para noite, ou como se eu tivesse mudado. Eu me sinto a mesma, embora venha sentindo minhas veias mais frias desde que abri os olhos. Me sinto mais leve. É bem difícil de explicar, mas é como se todo esse tempo eu estivesse buscando por algo que não fazia a mínima ideia de que estava procurando.

Piscando algumas vezes, consigo ter um vislumbre de Alec, Zion, Ravena e... Aren. Eles estão boquiabertos, de pé em frente a cama em que estou deitada. Ela é diferente, o lugar é diferente, as paredes não são de obsidiana, mas de madeira. O quarto é diferente do meu. Não há runas no teto e muito menos no chão.

Sinto um déjà vu percorrer meu corpo enquanto abro a boca para perguntar o porquê do assombro.

– Tudo bem, eu sei que não fico muito bonita quando acordo, mas não sabia que era tão horrível assim.

Cinco segundos em completo silêncio se passam até todos caírem na gargalhada. Até Zion estica um pouco os lábios.

– Pelo menos ela não perdeu o senso de humor – Alec zomba, caminhando até mim. Ele se aproxima da cama e deixa um pequeno beijo da minha testa. – Que bom que ainda é uma das minhas, Humana.

– E por que eu não seria, Demônio?

– Nem sei por que duvidei disso por um segundo sequer.

Sorrio.

– Deveria ter mais fé em mim, Alec.

– Tem razão, Louise – Ravena concorda, também se aproximando da cama. – Não importa em que mundo esteja, sempre vai ser nossa garota. Nada vai mudar.

Ela me abraça, e eu estico levemente os lábios novamente, ciente de que talvez ela esteja errada. Porque algo já mudou. Antes mesmo de eu acordar, consegui sentir a escuridão ao redor do meu corpo. E ela é diferente. É mais fria, dura, primitiva...

– Que bom que está bem. – Interrompo meus pensamentos com Zion também dando um leve aceno.

– Obrigada.

Ele dá um indício de um sorriso, mas Alec se adianta, desviando minha atenção a ele.

– Mas nos conte, como foi estar nesse mito do Sono Profundo que nós nem acreditávamos ser real?

– Alec.

Meu olhar é afastado para Aren sem que eu possa ter consciência. Embora tenha reprendido Alec, seu olhar está fixo no meu. Desde que abri os olhos, na verdade. Consegui sentir, mesmo que minha atenção estivesse nos outros.

É tão estranhamente natural a forma com que ele me olha nesse momento. Aren não fala nada, e ainda assim diz tudo. Ele está feliz que eu tenha acordado. Não sei o que fizeram para isso acontecer, mas seus rostos, o dele em específico, está mais do que aliviado em me ver acordada.

– Ah, qual é, A? Não seja tão rabugento. Só quero saber como foi. – Alec inclina o rosto até mim, erguendo as sobrancelhas, o divertimento nos olhos, como todas as outras vezes. – Não liga para esse sem humor, ele andou muito rabugento esses dias. Ainda bem que acordou, não aguentávamos mais. Mas, e aí?

Intercalo olhares entre os dois antes de responder. Aren parece se segurar para não esfolar o caçador vivo pela insistência.

– Eu...

Pouco a pouco, minha memória vai retornando como fleches brilhantes.

A névoa.

O fogo.

Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora