Capítulo 34 - Mas você deveria estar aqui

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Louise


– Todos já sabem que eu tenho asas? – pergunto a Zion, arrumando a fivela do cinto. Quando Aren me falou que eu treinaria minhas asas, voltei correndo para o quarto e vesti roupas adequadas para o momento.

Asas. Eu realmente tenho asas, não foi só uma visão da minha cabeça. Eu tenho asas de anjo e vou usá-las agora. Poderia estar mais nervosa? Aren está sentado em uma rocha à alguns metros daqui. Não faço a mínima ideia do por que ele não quis me treinar. Segundo Aren, Zion tem mais habilidade em voo, já que, na forma de Grifo, ele as usa sempre. Ainda assim, por algum motivo desconhecido, eu preferiria que ele estivesse aqui agora.

As minhas eram cinzas, ele me confessou dois dias atrás. Ainda não tive coragem de perguntar o que aconteceu com elas, mas minha mente sempre trava nessas quatro palavrinhas.

– Se não sabem – Zion murmura, trocando a posição da perna, a cor marrom-escuro perfeita da sua pele reluzindo à luz do sol –, irão saber em breve.

Quase bufo uma risada. Ele fala como se eu fosse abrir asas em um segundo e logo depois sair voando pelos céus. Se eu pelo menos consegui fazê-las aparecer...

– Fiquei pensando aqui. E quanto as roupas. – A camisa que Zion usa não tem mangas, e isso me permite ter uma visão perfeita dos músculos enormes dos braços e coxas, embora a calça feita de um tecido maleável que ele use não seja tão apertada. – Quando você se transforma na sua forma animal e depois retorna a essa, suas roupas também voltam?

Ele assente sem pressa, mas eu franzo o rosto, me recordando de algo.

– Mas naquele dia...

Vejo o guardião do Portões do Inferno estremecer de leve.

– Naquele dia eu estava muito ferido, não tinha consciência o bastante para trazer minhas roupas quando me transformei. Mas, normalmente, as roupas somem com a transformação e retornam quando volto a forma imortal.

Interessante.

– Então, se eu consegui fazer minhas asas surgirem por algum motivo desconhecido, elas não vão destruir essa camisa, né? – Zion deixa um quase sorriso acender em seu rosto enquanto eu continuo: – As camisas estão em falta no meu guarda-roupa, então...

"Podemos resolver isso fácil-fácil, indo ao Madame Lilith", uma voa – a voz dele – entorna minha mente, me fazendo lembrar que não estamos sozinhos, que ele está atento a tudo, escutando tudo.

Olho na direção do diabo e ergo as sobrancelhas, questionando mentalmente o motivo de ele se meter nessa conversa se decidiu não estar perto para ensinar.

"Não estou perto o suficiente, Meu Anjo?"

Retorço os olhos. Eu deveria ter aprendido a como bloqueá-lo da minha mente antes de tudo.

– E então, como começamos? – Afasto o olhar para Zion, que observa as nuvens como se fossem metais preciosos.

Ele pigarreia baixinho e volta os olhos a mim.

– Primeiro, relaxe.

Eu relaxo. Pelos menos tento.

– Esvazie seu corpo e sua mente – ele continua, os olhos avermelhados brilhando em paciência. Ele vai precisar de muita. – Não há nada mais aqui além de você e eu.

Errado. Aren está à nossa direita. E nos observando, me observando. Não consigo me concentrar com aqueles olhos cor da noite sobre mim.

– Respire e inspire. – Assim eu o faço. Inspiro pelo nariz e expiro pela boca. – Sinta toda a musculatura do seu corpo, sinta seu corpo. Ele está escondendo algo seu, elas estão se escondendo sobre eles, na verdade. Então tente encontrá-las. Nade sobre a sua mente e procure por elas em algum lugar.

Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora