Capítulo 17 - Preciso de ajuda

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Devil


Me agachando de um soco que provavelmente quebraria meus dedos, eu estudo o brutamonte à minha frente. Esse com certeza ganharia o nome que Ravena costuma nos chamar. O demônio dever ter no mínimo uns dez centímetros a mais que eu, e o corpo desse filho da puta é feito de nada além de músculo. O macho deve respirar e ganhar um músculo, porque ele não cansa, não para de tentar me socar no rosto. Eles sempre tentam me acertar no rosto, é indiscutível. E eu não discuto, apenas sigo bloqueando os golpes. O importante é que cada um que lutei nessas semanas não me tratam com a porra do diabo que eu sou. Eu sou apenas mais um demônio que está a fim de entrar nessas jaulas revestidas de espinhos de aço.

E exatamente por isso estou aqui.

Há semanas que estou enfiado no Death Fight, fazendo nada além de lutar até a morte com demônios qualquer. Confesso que senti falta disso, da adrenalina correndo pelo meu corpo enquanto um há uma única possibilidade de que eu não saia vivo dessa jaula. A mínima chance de morrer – não que eles consigam me matar apenas com socos, mas a sensação de poder não existir por um único momento renova todas as minhas veias e meus pensamentos, fazendo com que eles não retornem ao momento em que sempre volta.

Me abaixo novamente, e dessa vez não apenas bloqueio. Ergo o punho, conduzido toda a força restante do meu corpo, e o fecho no seu maxilar. O brutamente cospe sangue, mas não cai. Muito pelo contrário, ele bufa, os olhos escuros ardendo em raiva, e avança na minha direção. Ao redor, a plateia grita palavras que eu não escuto, porque foco minha audição somente nas batidas do coração do careca correndo na minha direção. Se eu usasse meu fogo, ele já estaria morto há horas, mas prefiro luta corpo a corpo dentro desse ringue. A adrenalina é muito maior.

– O último que lutou com ele acabou com a cara partida – ouço uma voz masculina do lado de fora do ringue dizer, e um sorriso lento alcança meu rosto.

– Semana passada eu tive que tirar dois olhos do chão, porra. Ninguém mais aguenta ele.

Bem, a culpa disso foi totalmente do demônio que estava lutando comigo. Ele não calculou a velocidade certa que estava vindo na minha direção e acabou com os meus dois dedos no seu globo ocular.

– Qual órgão ele vai partir desse dessa vez?

Olho de relance para a voz masculina enquanto dobro os joelhos, desviando meu rosto de outro golpe – previsível demais – e encontro um macho com a aparência jovem observando a luta com os olhos vidrados. Não que ele seja especial, todos nesse espaço estão atentos a cada movimento que nós dois damos. Mas ele me olha de um modo diferente. Seus olhos parecem buscar algo a mais. Ele tem a cabeça raspada de um lado e um traço na sobrancelha esquerda. Baixo meu olhar, estudando seu corpo. Assim como Zion, ele é puro músculo. O demônio franze o rosto, como se questionasse por que eu perdi a atenção na luta. Mas é a aí que ele se engana. Meu foco está totalmente no macho erguendo os dois braços e tensionando os músculos do bíceps para atingir meu rosto. Meus olhos estão no demônio atrás da jaula, mas meus outros quatro sentidos – e mais um, que podemos chamar de sentido da mente – estão no brutamonte, que, ao usar todo a força nos braços, esquece o mais importante de estar em uma luta corpo a corpo.

Ficar de pé.

Dobro apenas um joelho, deslizando minha perna direita sobre o chão, e derrubo o brutamonte. Antes que ele consiga se erguer, eu afundo minha mão no seu tórax e arranco seu coração. Líquido preto se espalha no piso e nas minhas mãos, respingando algumas gotas no meu rosto suado.

– Eles nunca esperam nos pés – ofego baixinho, jogando minha cabeça para trás conforme me ergo do corpo sem vida do demônio. Sinto alguns fios do meu cabelo se arrastarem pela minha testa, mas nem faço questão de tirá-los enquanto caminho até a saída.

Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora