Capítulo 32 - Não sou como Scarlett

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Louise


Os olhos azul-safira de Dylan me encaram com terror enquanto eu tento dizer algo.

Nada sai, no entanto. Eu me lembro. Me lembro de tudo. Ele se lembra? Mas como, se Aren apagou a memória dele? E sei o que você é. Pelos deuses, ele sabe o que eu sou? Minha cabeça anda em tropeços. Nada faz sentido. Ele não deveria estar no inferno... Mas está. E está no meu quarto. Como isso é possível?

– D-dylan?

Ele pisca uma vez, e eu noto algo diferente no seu olhar. Ainda não sei decifrar o que é, mas tem algo de estranho. Isso só se comprova quando eu tento me aproximar e ele dá um passo para trás.

– O que você...? Como... como você... chegou aqui?

Reparo o momento exato em que ele se move, como se tentasse se proteger de algo.

– Um homem – sua voz está cautelosa como nunca havia escutado antes. – Eu não conheço ele. Tinha o cabelo mais ou menos grande, olhos castanhos.

Um homem? Não conheço ninguém com essas características tão comuns.

– Eu não... Ele disse algo? Como ele trouxe você até aqui?

Pelos deuses, eu não sei o que fazer ou falar. Ainda aperto a toalha sobre o meu corpo. Nem sequer tive tempo para me vestir.

– Ele não disse nada – Dylan responde, com os olhos fixos nos meus. Ele parece procurar algo. – Eu simplesmente estava no meu quarto e, segundos depois, aqui.

Fenda. Alguém usou uma Fenda para o trazer até aqui, então.

Penso no que fazer por um momento. O correto deveria ser o levar de volta ao Mundo dos Humanos. Aqui não é seguro para ele. Mas a curiosidade sobre quem o trouxe até aqui e por que me deixa com uma pulga atrás da orelha. Se usaram uma Fenda, provavelmente foi um demônio, já que nenhum humano é capaz de usá-la. E ainda superior. Nenhum demônio inferior tem a capacidade de fazer isso. Talvez Harper e Ren, ou até Beatrice outra vez. Mas acho que não. Segundo Ravena, ela só queria o império deles de volta. Como Dylan se encaixaria nisso?

A Bruxa e o Metamorfo também não se encaixam na descrição que ele deu. Mas se bem que, só porque não tenham sido eles que tenham o trazido para cá, não significa que não estão envolvidos.

Mas... Eles disseram que queriam liberdade. Como Dylan poderia ajudar nisso?

– Dylan...

– Eu me lembro de tudo, tá?

O leve estremecer dos seus ombros faz meu peito tremer. Ele se lembra. Não só do que aconteceu na igreja, mas...

– Me lembro de quando me trouxeram para esse lugar pela primeira vez – ele continua, os olhos cheios de terror. – Me lembro... Eles... ela entrava na minha cabeça. Eu não sabia quando era real ou não. Eu tentava dormir, mas não conseguia em nenhum momento, porque todas aquelas criaturas estavam nos meus sonhos.

Algo dentro de mim se parte. Todas as coisas que ele passou... E eu nem havia me dado conta, porque, dias depois, Aren tirou as memórias dele do Mundo dos Demônios, e pensei que tudo ia ficar bem, que ele iria ficar bem, mas... nunca havia me dado conta...

Aren me alertou.

Não importa se ele não lembra, não importa se suas memórias foram arrancadas, o sentimento da tortura vai continuar dentro dele, sucumbindo pouco a pouco até que ele não consiga mais suportar toda a pressão.

Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora