Louise
Não faço nenhum movimento brusco. Nada que possa ser entendido com um ato de fuga ou defesa. Por que Dylan está com uma adaga na mão? Até onde eu sabia, ele estava em um quarto isolado, enquanto não tínhamos mais respostas sobre quem o trouxe para cá e o porquê. Não ousei voltar lá porque não queria ver a aversão no rosto dele.
Mas ele não está em um quarto isolado. Está no meu. E com uma adaga prateada agarrada aos dedos. Ele realmente pretendia me matar enquanto eu dormia? Há quanto tempo está aqui?
– Dylan? – Minha voz corta o ar frio do quarto ao mesmo tempo que ele me encara com os olhos azul-safira brilhando em meio a escuridão.
Ele não responde, no entanto, apenas fica parado em frente ao colchão, o rosto congelado, assustado. É como se ele estivesse hesitante sobre o que fazer. Talvez não esperasse que eu iria acordar. Ou talvez só não queira fazer o que provavelmente veio fazer. Me agarro a esperança de que seja a última opção. Me prendo a ilusão de que meu melhor amigo de infância não veio ao meu quarto para tentar me matar.
Estou mais assustada pela possibilidade de ele realmente ter vindo aqui para isso do que com o fato de que ele poderia fazer algo que me machucasse de fato. Ele poderia, embora certamente o sangue de demônio me curasse em seguida. Ainda assim, não me feriria mais do que saber que Dylan fez algo assim. Ou ao menos tentou.
– Dylan. – Nesse momento, ele parece despertar do transe que estava. – O que está fazendo aqui? Por que... por que está com essa... coisa na mão?
Lentamente, seu olhar se inclina para a adaga, como se também a estudasse. Ele não responde à minha pergunta, age mais como um robô.
– Me escolha – ele murmura muito baixo. Está escuro, mas consigo ver facilidade suas roupas sujas e rasgadas em alguns lugares. – Escolha a mim e não o diabo. Se você me escolher, ele pode te ajudar, pode dá um jeito em você.
Pode dá um jeito em você. Como se tivesse algo que precisasse ser mudado em mim, como se tivesse algo errado comigo.
Com cautela, eu arrasto umas das minhas pernas por baixo do lençol. Dylan não parece perceber porque está muito escuro, apesar dos meus olhos conseguirem facilmente reconhecer cada traço do quarto e do garoto. Talvez esteja tão acostumado com esse lugar que já aprendi cada detalhe.
– Como você chegou aqui? – Afasto a perna esquerda, me reclinando devagar sobre o colchão. – Não estava...?
– Preso? Naquele quarto? Deixado para morrer?
Faço que não com a cabeça lentamente.
– Não deixamos você lá para isso. Eu só queria saber quem trouxe você e...
– E me deixar dias naquele lugar era a solução.
Tento inspirar o ar, mas não há nada. É como se tivessem roubado todo o oxigênio do quarto.
– Dylan, você não entende, o inferno... A Casa do Fogo, essa casa, está recebendo outros demônios de outros lugares, você não estaria seguro...
– Mais desculpas.
Fecho os olhos, mas logo os abro, espiando a dualidade nas suas feições. Dylan parece estar com raiva, muita raiva. Mas também há algo brilhando no interior dos seus olhos. Algo semelhante a esperança. Se você me escolher, ele pode te ajudar. Quem pode me ajudar?
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Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)
Roman d'amourSe você não leu o primeiro livro da Trilogia, não leia essa sinopse: Contém spoilers. Depois de acordar do Sono Profundo, Louise descobre que agora é a Rainha do Inferno. Algo que, a assusta e a faz precisar de um tempo no Mundo dos Humanos para pen...