Capítulo 9 - Talvez devesse chamar Eva para isso

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Louise


Ainda tentando me convencer de que não morri ao cair desse penhasco, estudo as feições serias do macho que se aproxima. Ainda há alguns pontos de ferimentos nos meus braços, talvez os mais fundos, mas a maioria já cicatrizou. Por dentro, eu não estava tão tranquila quanto tentei mostrar para Aren.

Ainda assim, parece que minha quase-morte não importa muito nesse momento. O demônio que interrompe os passos a poucos metros de distância de nós dois aparenta estar mais preocupado com nossas presenças do que como chegamos até aqui.

– Vossa majestade – ele cumprimenta, e eu sinto Aren quase contorcer os olhos com a formalidade.

– Me chame de Aren, Lion. Não estou usando uma coroa e nem sentado no trono.

O líder do Clã do Norte mantém o olhar preso no diabo, me permitindo o espiar com tranquilidade. O demônio tem a pele marrom-escura, assim como a cor dos olhos, e os cabelos um tom de preto-vivo. Suas roupas são bem semelhantes às de Aren, embora Lion use uma jaqueta de nylon com uma gola alta do que parece ser de pelo.

"Eles usam essas jaquetas porque as cavernas são frias", ouço Aren explicar, talvez lendo meus pensamentos. Ou provavelmente notando meus olhos franzidos para a jaqueta de frio.

O demônio não parece reparar na minha presença. Ou talvez não se importe.

– E, mesmo assim, continua sendo o rei.

– De fato. – Aren repousa as mãos nos bolsos na calça preta. – Mas prefiro que me chame de Aren.

Lion oferece um breve aceno, que não podemos chamar de aceno realmente, apenas um leve inclinar de ombros, e faz a pergunta óbvia:

– O que está fazendo aqui? Não avisou que teríamos a visita do diabo.

Aren parece não cair na evidente provocação. Não sei se é porque ninguém gosta do diabo, mas noto um certo desprezo no tom de voz de Lion.

– O que estamos fazendo aqui – o diabo corrige, olhando de relance para mim. Penso que ele vai continuar, mas não faz isso. Ele faz uma pausa enorme enquanto espreita Lion com o olhar duro, como se esperasse que ele se corrigisse.

– O que estão fazendo aqui. – Por fim, o macho afasta os olhos até mim. E faz isso como se fosse a coisa mais árdua que fez na vida.

– Muito bem, antes de responder à sua pergunta, gostaria de apresentar... – Aren dá um passo na minha direção, arrastando seus dedos pela minha cintura. Reprimo a sensação no meu estômago. – Louise.

O demônio demora uns bons segundos observando meu rosto antes de oferecer outro daqueles acenos que não podem ser considerados acenos de fato.

– Ouvi algumas coisas sobre você. A que agora chamam de Rainha do Inferno. Como se precisássemos de uma.

– Cuidado. – Um leve movimento de Aren me faz perceber que eu havia encolhido os ombros. – Posso não ser tão piedoso como da última vez.

– Piedoso? Matar quase um clã inteiro por puro capricho é piedade?

Pisco, surpresa – não tão surpresa assim –, e estreito os olhos, tentando me convencer de que não acabei de ouvir isso. Aren... assassinou um clã inteiro?

– Você está vivo – ele murmura, como se só isso fosse o bastante para ser inocentado dos seus pecados.

O ar livre parece estar mais duro. Ou talvez seja somente minha garganta se fechando. Ele realmente fez isso...? Uma breve memória de Scarlett me vem à mente. Ela me mostrou. Me mostrou as coisas que ele fez quando estavam juntos, mas... por algum motivo tentei me convencer de que eram mentiras. Mas não. É óbvio que eu sigo tentando encontrar um fio de esperança que me faça confiar nele, me cegando de quem ele foi e é.

Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora