Epílogo

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Louise


O inferno congelou.

Não sei se é algum tipo de estação diferente da que costuma ter – estou há meses aqui e nunca havia visto nevar no Hell, o sol sempre surgia ao amanhecer –, ou se realmente congelou. Talvez tenha congelado mesmo, o rei deles está... em algum lugar. Não ouso perguntar a ninguém. Não tenho coragem sequer para olhar nos olhos de algum deles. Muito menos Ravena. Ela não tem falado muito comigo. Na verdade, não trocamos uma palavra desde... o Templo dos Deuses.

E não a culpo. Ela tem total razão em estar... distante. Eu menti, falei que não iria me encontrar com Reagan às escondidas... dei o rei dela de presente àquele monstro. Não julgo nenhum deles se não me quiserem naquela casa ou... nesse mundo.

A neve cobre toda a extensão das ruínas do Hell. Estão reconstruindo as casas e lojas, mas levará meses para de fato o inferno voltar a ser como era antes. Talvez nunca volte.

Giro o anel entornado em chamas – o anel dele – no meu dedo anelar da mão direita. O da esquerda está vazia. Prometo que quando voltarmos para o Hell, vou comprar o anel mais brilhante que você já viu. Suas palavras são como punhaladas no meu peito.

Um grito de pássaro ressoa nos céus enquanto eu caminho por entre as casas e as lojas destruídas – todos estão realmente empenhados em reconstruir o inferno, até os Clãs estão ajudando na última semana do Ardens –, me fazendo erguer o rosto. É um corvo. Um corvo negro. Ele me segue a cada passada que dou sobre os flocos de gelo no chão. Seus olhos escuros piscam de longe para mim como se quisessem dizer algo.

Vozes conversando tiram a minha atenção do corvo. São membros do Death Fight. Nem havia notado que cheguei tão longe. Os Portões do Inferno – onde deveria estar as duas colunas enormes ao redor do arco feito de granito – são bem próximo do ringue em que Aren lutou por tanto tempo.

Um dos membros murmura algo sobre reforçar a segurança na entrada, mas nem dou atenção, seguindo até a loja de flores que ele havia comprado dálias azuis para mim. Como eu imaginava, ela não existe mais. O Hell's Flowers era apenas algumas bancadas com jarros e rosas sobre eles. Deve ter sido o primeiro lugar a ruir.

Respirando fundo, eu volto para casa. Casa. Sem ele aquele lugar não passa de um lugar qualquer. Ainda assim, tenho que ser forte, não posso desistir agora. Vou encontrá-lo. Tenho que encontrá-lo. Minha vida não tem sentido sem ele, minha alma não está completa sem ele.

O corvo negro continua a me seguir em todo meu trajeto de volta. E algo familiar cintila naqueles olhos antes que eu entre, como se até um simples animal alado soubesse do peso que há nas minhas costas. Ele corveja com aquele bico minúsculo como se dissesse: eu sei que o você fez, eu sei da sua traição.

[...]

Encontro Harper e Ren em uma das salas que mais parece um refeitório. Ofereci proteção aos dois, caso Reagan tente alguma coisa. E, para minha surpresa, ele não o fez. Não dá as caras há uma semana – parece mais um ano, anos na verdade. Ainda não consegui calcular seu próximo passo. Ele simplesmente contou a verdade sobre mim, mas não fez nada a respeito. Disse que me mataria para juntar os dois mundos, mas... não fez nada além de matar...

Afasto o pensamento. Ele não está morto, uma voz rosna dentro mim, repuxando a corrente na minha mente.

Pigarreio, minha garganta se fechando.

Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora