Louise
A primeira reação que tenho é erguer os ombros. Não faço a mínima ideia do porquê, mas meu corpo age antes do que minha mente. É como se minha memória muscular me mandasse ficar em posição de defesa, embora eu não saiba nada sobre o assunto, como se, apesar de o treinamento que venho fazendo seja apenas para conseguir equilíbrio e mobilidade no meu corpo, ela estivesse dizendo que não vou me encolher, não vou ter medo desses demônios que poderiam facilmente arrancar minha garganta com um golpe só.
Eu me encolhi toda as vezes antes disso. Me encolhi quando passava nos corredores da escola. Me encolhi em todos os almoços de família. Me encolhi quando me diziam o quanto eu era uma aberração demoníaca. Mas não agora. Pode até ser visto como um ato suicida, mas é como se algo dentro de mim me dissesse que não preciso mais me encolher, que está na hora de se erguer.
No entanto, para minha sorte, Harper não me golpeia com as garras. Ela apenas as levanta como se quisesse as expor. A luminosidade do entardecer reflete sobre a prata enquanto ela tamborila os dedos sobre o ar como se estivesse dando um tchauzinho.
– Não vou ferir você, projeto de demônio – ela avisa, o olhar brilhando em expectativa. Ela espera que eu ataque primeiro. Pelo menos seus olhos sedentos por dor aparentam isso.
– Não sou um demônio.
Me arrependo no mesmo minuto da repulsa que soa na minha voz. Não importa o quanto eu tente desprezá-los e dizer que são maus, que ele é mau, isso não irá mudar o fato de que eu tenho sangue deles. Isso me torna um demônio? Aren disse que não sou um, mas ter descoberto sobre minha origem só deixou tudo mais complicado. Antes eu era apenas a humana tola no meio de todos aqueles seres sombrios, mas agora...
– E como quer ser chamada, então? – o demônio de cabelos ruivos ergue as sobrancelhas. Tenho um levo vislumbre de Harper revirar os olhos, mas não consigo ver mais que isso porque meu olhar está em alerta a qualquer movimento que os demônios possam fazer.
– Louise.
– Humana era mais interessante. – Uma lembrança de Alec me vem à mente com o comentário de Harper. – Como eu estava dizendo, Louise, não tenho a intenção de feri-la hoje. Não sou louca a esse ponto. Ele nos caçaria até a morte.
– Ele está fazendo isso, na verdade.
Os dois demônios se entreolham sugestivamente enquanto esticam levemente os lábios.
– Se o diabo estivesse nos procurando até a morte, não estaríamos nos falando agora.
É, ela tem razão. O que é uma surpresa, na verdade. Conhecendo-o como conheço, esperava que Aren estivesse movendo céus e terras para achar os demônios que estavam contra ele, e planejando mil formas de torturá-los. A Tríade do Inferno estava com Scarlett, por que ele está mais preocupado se eu vou aceitar ou não ser a Rainha do Inferno do que se vingando desses três demônios? O que me faz lembrar de algo.
– A Olho de Metal morreu?
Os dois esperam apenas três segundos enquanto trocam olhares antes de cair na gargalhada. É desconcertante ver os dois seres que eu achava estar prestes a me matar rindo.
– Se Beatrice souber o que disse agora, eu duvido que o diabo consiga proteger você.
– Beatrice leva as coisas muito a sério – Harper acrescenta, com um certo rancor no tom de voz. – E é muito arrogante para receber esses elogios.
– A Olho de Metal seria elogio desde quando, Harper? – Ren ergue as sobrancelhas cor de cobre queimando, sem desviar o foco de mim.
– Ela tem um olho de metal.
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Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)
RomansaSe você não leu o primeiro livro da Trilogia, não leia essa sinopse: Contém spoilers. Depois de acordar do Sono Profundo, Louise descobre que agora é a Rainha do Inferno. Algo que, a assusta e a faz precisar de um tempo no Mundo dos Humanos para pen...