Louise
Engasgando com a água, eu penso que vou morrer. Mas no momento em que sinto braços quentes tocando meu corpo congelado, entendo que não estamos mais na água. Aren me carrega até a areia, as roupas molhadas atrapalham, mas ele só me coloca no chão quando estamos de fato em terra firme.
Arfante, eu levo ar para os meus pulmões, evitando de olhar para o mar extenso à nossa frente. Atrás de nós, há algum tipo de cabana em frente ao que parece ser uma floresta. Talvez isso seja uma ilha. Não sei direito, minha visão meio borrada não ajuda muito. Aren parece bem. Pelo menos se compararmos à expressão de terror que estava há... Nem sei há quanto tempo estivemos imersos na água, mas, pelos menos, estamos vivos. O que não significa nada se não conseguirmos sair desse lugar frio e... totalmente isolado do resto do inferno.
– Onde estamos?
Aren funga baixinho, os braços nus estremecem. Me pergunto como ele não está congelando agora, porque eu estou.
– Não faço a mínima ideia.
Deito minha cabeça sobre a areia gelada, enxergando as nuvens carregadas. Não consigo ver o sol, então imagino que já passe do entardecer.
– O que foi aquilo? – pergunto, me referindo à sua explosão. Sei que estávamos no meio do nada e sem um navegador, mas podíamos dar um jeito de voltar para casa. Mas agora, sem o barco...
– Não quero falar sobre isso.
A sua voz grave me faz entender que não está mais sobre o efeito do veneno. Todo aquele Aren que não era o diabo desapareceu. Assim como a garota que só se importava com o beijo dele. Até porque minhas veias não estavam congelando com essas rajadas de vento naquele momento. E então me dou conta de que realmente o efeito do veneno passou, porque todas as consequências do que fizemos naquele barco vem à tona. Outra vez. Outra vez eu me entreguei. E se não bastava antes, agora com Henry, então... Ah, merda, Henry. Não pensei nele um segundo... as coisas que ele passou nesses dias, e eu aqui...
– Ah, pelos deuses, Louise, estamos no meio do nada, e você está pensando nesse idiota humano – Aren rosna, o olhar ainda preso no horizonte inundado.
Fecho os olhos, acalmando minha respiração, e pressiono minhas mãos na areia para se sentar.
– Olha, não é isso, é que... – É que eu sou uma idiota que só faz merda. Nem devia ter saído com ele no dia em que nos esbarramos no mercado, para início de conversa. – Eu ainda não expliquei as coisas para ele, e ele... ainda deve achar que estamos juntos ou alguma coisa do tipo.
Balançando a cabeça, Aren bufa.
– E que diferença isso faz, você nem ama esse garoto.
Não, não amo. Ele tem razão. Eu nem saberia se amasse. Mas essa não é a questão aqui. Eu deveria ter dito para ele que não sentia o mesmo, assim como fiz com Dylan. Ele ficou... triste, eu diria, quando eu disse, mas... mesmo com tudo, ele seguiu em frente. Ou não, né. O fato é que eu devia ter acabado isso antes mesmo de começar, e não fiz isso, fui uma idiota que não conseguiu pensar com a razão naquele momento. No fundo, bem no fundo, eu sei por que realmente fiz aquilo, e se eu admitir... então eu me torno ainda pior que o diabo.
– Mas eu me importo se ele se machucar.
– Por quê? – Finalmente ele se vira na minha direção, e mesmo com a escuridão desse lugar, consigo notar as sombras em voltas dos seus olhos.
– Por que o quê?
– Por que se importa com ele?
– Porque... – Junto o resto das minhas forças e me levanto do chão. – Henry é uma pessoa legal, nunca me tratou como nenhuma das pessoas da minha infância...
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Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)
RomanceSe você não leu o primeiro livro da Trilogia, não leia essa sinopse: Contém spoilers. Depois de acordar do Sono Profundo, Louise descobre que agora é a Rainha do Inferno. Algo que, a assusta e a faz precisar de um tempo no Mundo dos Humanos para pen...