Capítulo 47 - Eu congelaria esse maldito inferno por você, Meu Anjo

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Devil


Minhas pálpebras pesadas se abrem à medida que uma dor latejante queima minha cabeça. Meus músculos também latejam quando eu os contraio, me reclinando sobre o que quer que seja isso que estou deitado. Nunca imaginei como seria morrer, nem sequer cheguei a considerar que teria algo após a morte, porque, afinal, eu sou um demônio, e quando morremos, acabou ali, não há um inferno ou Calabouço para ser torturado. Quando um demônio morre, sua essência é extinguida. Não há mais o que fazer depois disso.

Mas, pelo visto, eu enganei a morte mais uma vez, porque não me sinto nada morto, embora meu corpo não diga o mesmo.

Aparentemente, estou no meu quarto. Não me recordo claramente com vim parar nessa cama. Minha memória se turva em um turbilhão de acontecimentos, como se minha mente não soubesse organizar o que aconteceu durante toda minha existência.

Um ruído ecoa entre as quatro paredes. É, eu não morri, mas meu corpo ainda não está recuperado. Não consigo nem me mexer sem gemer de dor.

Varro o quarto mais uma vez, piscando lentamente para enxergar com mais nitidez. No entanto, travo quando noto uma figura de pé à frente da porta, o olhar impassível sobre mim, como se estivesse indecisa sobre estar aqui. Engulo em seco – não há nada para engolir –, vendo Louise com os braços cruzados sobre o peito coberto por uma camisa simples.

Então, como se só precisasse de um olhar dela, tudo vai se acomodando. As memórias vão retornando e se reorganizando. A Aranha no corredor. Me atacando.

Não sei quanto tempo se passou desde aquela noite, mas Louise ainda parece estar... magoada – nem sei se essa é a palavra certa para o que ela deve estar sentindo agora – comigo. E ela tem total razão em estar. Beatrice estava errada, não há nada que eu possa fazer para conseguir o perdão dela. Porque eu não mereço.

Fico em silêncio. Não sei o que falar. Não sei o que ela está fazendo aqui, por que está aqui. Louise não diz nada, apenas me encara com aqueles olhos que um dia me salvaram. Que continuam me salvando mesmo eu não tendo salvação.

O silêncio se instaura por tanto tempo que eu considero estar em um sonho. Um sonho muito lindo. Apenas ver aquele rosto enquanto estou sofrendo não é novidade para mim. Ainda assim, continua sendo tão realista como da última vez.

– Você não morreu – ela quebra o silêncio. E eu não sei se fala isso como algo bom ou ruim. Sua voz é tão neutra quanto seu rosto.

Limpo a garganta seca.

– Não.

Louise me estuda por mais dois minutos exatos antes de falar de novo.

– Alec e Beatrice me disseram para eu escutar o que você tem a dizer.

Pisco, surpreso. Alec abrir aquela maldita boca não é surpresa, mas Beatrice? Por que ela faria isso?

Não tenho tempo para processar, porque Louise continua, com a voz totalmente fria, ainda mais fria que a temperatura do quarto:

– Levei longas horas na frente desse quarto considerando se valia a pena. Se valia a pena deixar que você falasse o que quer que tenha para falar. Contei cada criatura que vi desde quando era criança, foi o exato tempo de girar aquela maçaneta e entrar.

Vergonha queima meu rosto. Mesmo que ela esteja disposta a escutar, eu não sei nem por onde começar.

Comece pelo início, uma voz lá no fundo grita.

Entretanto, minha língua não consegue se mover. Meu corpo está completamente travado. As palavras não saem, não consigo sequer dizer um oi com meu coração acelerado dessa forma.

Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora