Capítulo 21 - Louise é minha

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Devil


– O que você quer aqui?

Espreito o garoto humano que se ergue da cama, os olhos assustados e amedrontados, totalmente diferente de quando estava com Louise no mundo humano. Ele realmente parece diferente daquele garoto eufórico. Talvez tenha sido o ataque da Aranha-Marinha. Quem se importa?

Dou de ombros, bisbilhotando o que vejo pela cômoda.

– Bater um papo de diabo para humano. – Estico levemente os lábios, indicando para que ele se sente no divã ao lado da cômoda. E quando ele obedece, mesmo parecendo querer continuar distante de mim, eu arrasto uma cadeira até o meio do quarto e me sento nela. – Me fale sobre você, Henry.

Confuso, o garoto aperta o rosto. Consigo sentir as batidas apressadas do coração dele mesmo a alguns metros de distância. Ele está com medo. Com muito medo. Ótimo.

– Eu, e-eu, é... Falar sobre mim?

Aceno.

– Me conte como chegou até aqui.

– Minha irmã...

– Não isso, idiota. Quero saber como conheceu Louise, o real motivo para estar aqui hoje.

Engolindo em seco, ele encolhe os ombros. Louise disse que só aceitou o pedido porque Harper e Ren estavam por perto, mas ninguém pede para ficar com alguém do nada. Tem que ter algo a mais, ele não pode simplesmente ser um idiota apaixonado como pareceu nas memórias recentes que vi.

– Conheci Louise em uma cafeteria há alguns meses. Ela trabalhava lá, e eu a chamei para sair. Ela... aceitou, mas não apareceu.

Meus pensamentos vagam por um momento. Não me lembro de Louise trabalhando em uma cafeteria enquanto estudava... Ah. O encontro que ela havia pensado no dia do jantar. Então esse é o garoto que se salvou da morte somente porque eu estava caridoso. Poderia rir agora. O idiota se salvou de uma tortura dolorosa só para ter outra ainda mais cruel.

– Era só ter ficado na sua, garoto – murmuro muito baixo, navegando nos meus pensamentos, mas ele consegue escutar, porque a expressão muda do medo para confusão.

– O quê?

– Nada. Prossiga sua historinha.

Henry hesita, e eu o incentivo retirando uma adaga do casaco. A lâmina cintila sobre a luz da lua atravessando as janelas de vidro, e o garoto estremece quando eu brinco com a ponta entre meus dedos. Uma única gota de sangue escorrega na manga da minha camisa, e ele arregala os olhos, não sei se pelo corte ou se pela coloração do sangue.

– É... – ele gagueja. – Mas eu esbarrei com ela no supermercado, e ela me disse que não conseguiu ir ao encontro porque o pai dela tinha passado mal.

– Ela disse disso? – Sorrio, maravilhado como Louise aprendeu a contar mentiras tão convincentes. Há quase um ano atrás ela ao menos gostava de fazer isso quanto mais saber. Dou os créditos a mim, obviamente. Talvez o diabo realmente não seja uma boa influência. O que só faz meu sorriso crescer. – Então sinto muito dizer isso, mas ela mentiu.

– Como?

– Louise mentiu para você, e você caiu direitinho pelo visto. O pai dela não estava doente, ela estava aqui no dia do encontro de vocês, jantando comigo.

Confusão e descrença giram em torno dos seus olhos claros. Ele talvez não acredite que Louise poderia fazer algo assim, mas devido aos acontecimentos recentes não seja tão impossível como parece. Na verdade, Henry acredita que ela fez isso, mas não quer admitir que acredita. E só então eu consigo notar a diferença do garoto que está aqui e do que estava com Louise no mundo humano. Ele foi afetado pelo Demônio dos Sentimentos. Parece que Louise não conseguiu ser rápida o bastante, afinal. E agora faz total sentido. A última lembrança do garoto antes de estar na presença do Adfectus foi Louise e eu no corredor. Ele estava inseguro sobre haver algo entre ela e eu, e o demônio expandiu essa insegurança. E parece que eu estou fazendo o resto do trabalho dele.

Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora