Capítulo 51 - O tempo do filhote está acabando

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Louise


A Biblioteca da Magia, à noite, é ainda mais esquisita. As paredes de quartzo cinzento parecem mais escuras, e os degraus mais distantes. É como se a própria Biblioteca não quisesse alguém aqui a essa hora.

Contra todos os avisos da minha mente, eu subo a escadaria enorme. Não faço a mínima ideia de que andar Reagan está, e, para completar, está escuro, embora minha visão consiga ver com nitidez cada livro empoleirado nas prateleiras e cada objeto que parece me espreitar, como se tivesse vida própria. Tudo aqui emana uma vibração diferente. Ou talvez seja apenas o medo que corre pelas minhas veias, gritando que isso é um erro, grunhindo para eu dar meia volta e ir embora, implorando para não fazer isso, porque é um erro mortal.

Ainda assim, eu as ignoro e sigo o caminho. Não sei ao certo, mas meus passos parecem me guiar, como se eles já soubessem exatamente o lugar onde Reagan está. Como se ele mesmo tivesse chamando por mim.

É terrível a sensação que meu corpo sente, meus pelos se eriçam e meu coração bate ainda mais acelerado. E só entendo o motivo quando noto a figura à minha frente.

O demônio é o mesmo, mas está diferente, tem algo diferente. Não sei dizer o quê, mas tem. Suas roupas são as mesmas que usava no Calabouço, ou talvez semelhantes. E seus olhos... são perfeitamente visíveis pela luz da lua que atravessa a janela.

– Obrigado por ter vindo – sua voz também parece diferente, embora seja a mesa.

Antes que ele consiga dizer mais alguma coisa, eu estudo o lugar, procurando algum jeito rápido de escapar se necessário. O cômodo é diferente do que eu estive com Alec, semanas atrás. Não há tantos livros nas prateleiras, elas estão praticamente vazias. Há apenas uma mesa no centro, com o que parece ser um mapa móvel do inferno. Não é um mapa muito detalhistas, há somente o nome gravado na superfície da mesa e um objeto de madeira representando cada lugar desse mundo. Pelo menos os mais importantes, pelo visto.

As Águas do Sussurro é representada por um objeto em formato de ondas, bem próximo da Floresta da Caveira, simbolizada por uma miniatura de árvore. Para as Terras Sombrias, há apenas uma pedra de obsidiana, e nos Desertos Esquecidos, o que parece ser uma mini parede rachada de granito. No Hell, há três marcações distintas. Biblioteca da Magia, Templos dos Deuses e os Portões do Inferno. Esses lugares não possuem nada para simbolizar, mas os nomes estão marcados na mesa.

É como se Reagan já tivesse planejado tudo.

Certamente planejou.

– Você se fez convincente – retruco, em um tom áspero. Tão áspero que o demônio ri.

– Não entendo por que me odeia, eu não fiz nada contra você, Rainha do Inferno.

Rosno, não deixando espaço para gentileza.

– Você o prendeu, torturou, cortou as de Aren. E ainda levou Ravena...

– Isso foi necessário. Queria conversar com ele.

E não podia fazer isso sem levá-la daquela forma?

Reagan me estuda por alguns segundos. Ele me olha como se visse através de mim.

– Entendo por que ele gosta de você. – O ar muda quando ele dá um passo na direção da mesa. – O filhote sempre foi impulsivo, sempre testando seus limites. Ele arriscou muito indo atrás de mim. Um tolo. Arriscou a liberdade e perdeu. Poderia ter deixado as coisas como estavam, mas decidiu ir em frente.

– Você matou a mãe dele. Aren tinha todo o direito de querer se vingar de você.

Ele ergue as sobrancelhas, afastando o objeto em formato de ondas para mais próximo da árvore de madeira.

Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora