Capítulo 53 - Existência miserável

431 63 40
                                    

Louise


No momento em que os olhos de Aren encontram os meus, eu percebo que cometi o maior erro da minha vida.

Nada pode ser pior que aqueles olhos sem cor, sem vida. O brilho cor da noite está apagado, extinguido pela minha traição. Minha garganta se fecha e o frio toma conta do meu corpo. É como se minha alma estivesse em um estado inconsciente, como se estivesse congelando de forma gradual.

– Me perdoa – meu coração grita, junto com meus lábios. Me perdoa por ter o trazido para o ser que mais te machucou. Me perdoa por... ter o traído dessa forma tão dolorosa.

Ele não fala nada, no entanto. Seus olhos estão imóveis sobre os meus, como se quisesse entender o porquê fiz isso, por que o trouxe para o demônio que matou sua mãe, que o torturou, arrancou suas asas...

Minha mente vacila enquanto eu baixo os escudos, tentando fazer um contato com ele.

"Aren."

Entretanto, ele não dá um sinal de que está consciente, embora suas pálpebras estejam separadas.

"Aren, me escuta. Todos estão a salvo. Estão na Biblioteca da Magia nesse momento." Eu convenci Ravena, Beatrice e Zion de que lá seria o lugar mais seguro e que suportaria mais demônios. Não podia os trazer para cá. Ainda assim, trouxe o amor da sua vida, uma voz sussurra dentro mim, esmagando o meu coração, minha alma. Aren nem pisca. "Por favor, me deixa explicar."

Mas nem o desespero da minha mente faz com que ele demonstre alguma reação. É como se ele estivesse perdido nos próprios pensamentos, talvez nas próprias lembranças. Lembranças antigas e recentes. Quando prometemos...

"Aren, por favor...", imploro, as paredes do meu peito se rachando, lágrimas ameaçando cair.

Nada, no entanto, o laço que há entre nós permanece silencioso. Só há um vazio. Um vazio que me quebra de dentro para fora. O vazio da traição.

Me forço a respirar, desviando meu olhar para Reagan, que parece se divertir como nunca com a cena que estamos fazendo. Que eu estou fazendo. Ele prometeu tirar minha irmã do Calabouço. Ele prometeu acabar com o sofrimento dela. As explosões... Achei que fosse um aviso para que eu me decidisse sobre ela. E eu decidi. Decidi que não valia a pena quebrar Aren dessa forma. Não valeria a pena viver no mundo em que ele não estaria. Decidi escolher ele e não minha irmã.

Mas então ele falou sobre uma forma de deter Reagan. Supor que talvez conseguíssemos convencer Beatrice outra vez. E, se sua magia é tão forte para deixar o Hell em destroços, talvez fosse realmente capaz de prender Reagan no Fosso. E eu... Poderia ter minha irmã de volta.

Não a vejo aqui, mas sei que está com Ren em algum lugar das sombras. Ainda há tempo, a voz urge dentro de mim, não está perdido, ainda pode salvá-lo, salvar a todos.

Mas não pode salvar aqueles olhos sem vida, outra voz mais profunda murmura na minha alma, não pode salvar o que você destruiu. A confiança dele.

Como se para testemunhar minha traição, uma Fenda se abre à esquerda de Aren e quatro demônios passam por ela. E quando olhar de Ravena encontra o meu, entendo perfeitamente que ela sabe o que eu fiz. E nunca vai me perdoar por isso. Eu disse que não me encontraria com Reagan. Menti para ela. Pior. Trouxe o rei dela – deles – para uma armadilha. Consigo sentir que algo se partiu naqueles olhos. Somos uma família, por mais maluca que seja. Uma família que se ajuda quando precisa. A lembrança de suas palavras me atinge no estômago. E você faz parte dessa família agora.

Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora