Capítulo 28 - Alguém está me abraçando

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Louise


Ouço vozes tinindo nos meus ouvidos – essas são diferentes das outras, essas parecem de pessoas vivas – e sou obrigada a abrir os olhos vagarosamente. Minha visão se mistura, há rostos borrados, aromas distintos – um deles se destaca. Carvalho. –, passos de um lado para o outro. Estão tensos. Preocupados. Eu tento abrir minha boca, mas ela está seca. O ar consegue entrar nos meus pulmões, mas, ainda assim, tenho dificuldade de respirar. Minha memória também está borrada, são apenas fragmentos... Lembro de sangue, madeira sendo quebrada, estraçalhada...

Então tudo flutua de uma vez como em uma cachoeira.

O caixão.

A falta de ar.

A corrente com vida própria.

As belíssimas asas brancas.

O demônio.

O demônio assassinado.

O demônio assassinado por mim.

– Louise, está me ouvindo? – alguém pergunta, com a voz aflita.

Pisco algumas vezes, tentando me concentrar no rosto à minha frente. É um rosto conhecido. De fato eu o conheço. Mas minha visão ainda está embaçada. Ele fala outra vez, me forçando a apertar os olhos. Então, de repente, aquela corrente volta a soprar contra minhas veias. Ela está correndo. Não. Ela caminha lentamente, como se estivesse hesitando, como se estivesse procurando algo, alguém, em meio aos corpos presentes, seja lá, onde eu esteja.

Consigo uma visão clara do rosto à minha frente, e quando eu vejo quem está tentando falar comigo, a corrente retorna rapidamente a, sei lá, onde ela estava, murmurando algo que eu não consigo entender, quase como se estivesse frustrada.

– Louise, fale comigo, por favor – Henry pede, e eu engulo, tentando entender onde estamos.

Desvio meu rosto para trás do garoto e tenho um vislumbre de Ravena, Alec e Zion com as feições preocupadas. Até Arya está a alguns metros de distância. Não consigo ver sua expressão.

– Louise, está me escutando? – Henry tenta novamente, trazendo minha atenção a si outra vez

Faço que sim com a cabeça lentamente, e ele desmancha ao me abraçar. Sinto seu corpo aquecido esquentar o meu enquanto meus olhos encontram outros diferentes do que vi agora a pouco. As sombras ao redor da íris do diabo são reconhecíveis em qualquer lugar. Eu poderia não ter visão, poderia estar no escuro, mas ainda continuaria conseguindo ver aquelas sombras. É como se eu sempre tivesse as visto.

Henry continua me abraçando por mais alguns minutos, e durante todo esse tempo eu só consigo enxergar Aren e me lembrar do que aconteceu naquele cemitério. Eu matei alguém. Eu... acabei com qualquer resquício de pele daquele demônio. Eu estava tão cega no meu próprio ódio que nem consegui entender o que estava fazendo de verdade. Eu não... não queria matá-lo, eu... Ele me colocou naquele caixão para morrer, ele me enterrou viva, mas eu... não conseguiria ter feito aquilo que fiz se estivesse em sã consciência, não teria estômago para tudo...

– Tudo bem, já chega.

Tenho um sobressalto, voltando à realidade, quando Aren se aproxima e arrasta Henry para trás e... me levanta do chão. Nem havia notado que estava no chão. Nem sei como chegamos aqui, na verdade. Só me recordo do momento em que ele se aproximava com os olhos arregalados e... Não me lembro mais de nada.

– Ela precisa descansar – Aren insiste, apoiando meu braço no seu ombro. Sinto cheio de sangue, e não é meu.

– Mas o que acon...

Burning In Hell: A Rainha do Inferno (Livro II)Onde histórias criam vida. Descubra agora