Capítulo 1 - Um playboy irritante

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KALI:

  A luz suave do sol começou a invadir o espaço, preenchendo minha cozinha simples, com tons dourados. Determinada, eu me movi com agilidade entre os armários e a mobília.

  Desde o acidente de carro que mudou nossas vidas praticamente, minha mãe, Lilian, ficou confinada a uma cadeira de rodas. Adaptar-se a essa nova realidade tem sido desafiador, mas estou decidida a fazer o melhor que posso.

  — Por sorte, ontem ganhei uma gorjeta maior no restaurante, e agora, posso fazer uma surpresa para minha mãe. — pensei orgulhosa.

  A cozinha se encheu com o som suave dos ovos sendo quebrados contra a borda da frigideira quente. O aroma reconfortante do café recém-passado pairava no ar, enquanto eu me movia com a destreza de quem domina os segredos da culinária.

  Com a parte do dinheiro que ganhei, consegui comprar ingredientes frescos. Ouço os ovos fritarem na frigideira, soltando um crepitar suave que preenchia o ambiente. Cortei o pão em fatias generosas e espalhei manteiga sobre cada pedaço. Logo, arrumei a mesa pequena da cozinha com cuidado, colocando ovos fritos num prato, o pão na cesta a garrafa de leite ao lado.

  Quando minha mãe entrou na cozinha, seus olhos se iluminaram ao ver aquele café da manhã preparada com tanto esmero e carinho. Nos juntamos a mesa para desfrutar daquele desjejum simples, mas memorável.

  — Kali, o seu café está maravilhoso hoje! Como você conseguiu fazer isso? — perguntou minha mãe, com um sorriso grato em seu rosto.

  Acomodei-me na cadeira, feliz por ver sua reação. 

  — Eu quis fazer algo especial para nós hoje, mãe. Comprei ingredientes frescos ontem, depois do trabalho. — expliquei.

  O ambiente acolhedor da cozinha foi abruptamente interrompido pelo som estridente do celular sobre a mesa. Eu lancei um olhar surpreso para o aparelho, e antes que pudesse perceber, minha mão já estava atendendo.

  — Kali, venha para o restaurante imediatamente. - expressou a voz incisiva do Sr. Paul do outro lado da linha.

  — Mas, Sr. Paul, hoje é meu dia de folga. A cuidadora, está prestes a chegar para ficar com minha mãe, e... —  tentei explicar, segurando a frustração que começava a se instalar dentro de mim.

  O Sr. Paul, cínico como sempre, respondeu: 

  — Eu sou o chefe aqui, e quando eu digo que você precisa estar no trabalho, é melhor que fique. Agora, mova-se! — ele exigiu.

  Mesmo engolindo a raiva que cresceu em mim, respondi com a melhor calma possível. 

  — Estou indo, Sr. Paul. 

  Encerrei a ligação, olhei para minha mãe e suspirei.

  — Desculpe, mãe, parece que eu tenho que ir para o trabalho. A Ruth estará aqui em breve para ajudá-la.

Minha mãe assentiu, de forma compreensiva.

  Eu me levantei rapidamente, pegando minha mochila de crochê e alguns documentos importantes. 

  — Ligue para mim se precisar de alguma coisa, ok? Voltarei assim que puder. — falei apressada.

  E com essas palavras, deixei minha casa, determinada a enfrentar o dia no trabalho, mesmo que isso significasse lidar com o Sr. Ranzinza.

  Caminhava apressada em direção ao ponto de ônibus, conferindo impacientemente o horário no meu celular. Vinte minutos de espera. Respirei fundo, frustrada. Olhei na bolsa, percebendo que não tinha dinheiro suficiente para um táxi. Parecia que o ônibus seria minha única opção.

  De repente, um carro luxuoso e azul escuro parou diante de mim. Um rapaz bonito, usando óculos escuros, com roupas descoladas e um sorriso decochado, chamou-me com uma expressão confiante. Já até imaginava o tipo de pessoa que ele seria, um playboy mimado, sem dúvida. Eu mereço!

  — Ei, gatinha, que tal dar uma volta comigo? Conheço um lugar bem legal. Vamos nos divertir! — ele propôs, tentando parecer charmoso.

  Decidi ser direta.

  — Não, obrigada. Prefiro esperar pelo ônibus. — neguei de imediato.

  Ele insistiu, usando um flerte exagerado. 

  — Vamos lá, você vai gostar. Não seja tão dura.

  — Duro é ter que aguentar esse tipo de abordagem. Eu disse não. Eu espero pelo ônibus. — falei seriamente.

  O playboy rico continuou, ignorando minha recusa. 

  — Você não sabe o que está perdendo, gatinha.

  Revirei os olhos. 

  — Acho que sei muito bem. Boa sorte com suas conquistas, mas eu passo. — retruquei com deboche.

  Ele tirou os óculos escuros, revelando um rosto surpreendentemente bonito e olhos azuis intensos. Fiquei momentaneamente atônita, surpresa pela reviravolta na situação.

  — Você é difícil, hein? Mas quem sabe um dia você muda de ideia. — ele disse, antes de partir.

Deixei escapar um suspiro de interrupção quando o carro se afastou. Voltei minha atenção ao ponto de ônibus, tentando afastar as dúvidas que me cercavam sobre o playboy rico.

  — Era ele, tenho certeza! Finalmente você apareceu. — pensei com um olhar determinado.

Acidentes do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora