Acidentes do Coração

Capítulo 57 - Um aliado misterioso

KALI:

  Fiquei em total escuridão naquela ambiente estranho, esperando ansiosamente pelo retorno de Kevin. Com receio de ser descoberta, dei alguns passos para trás e acabei esbarrando em algumas caixas que estavam ali por perto. 

  Com cuidado, retirei meu celular do bolso da saia e liguei a lanterna, iluminando aos poucos o lugar. Foi então que me dei conta de que estava em um pequeno armazém decorado como um quarto. 

  Mas então, algo inusitado chamou minha atenção. Vi uma placa metálica de carro, manchado com gotas vermelhas escuras e secas. Ao ver o número da placa, veio em minha mente uma lembrança dolorosa: o atropelamento da minha mãe, que aconteceu há quatro anos atrás. 

  — O número se encaixa. — confessei baixinho.

  Rapidamente, constatei que aquela era realmente a placa do carro que atropleou a minha mãe, dando-lhe uma vida indesejável numa cadeira de rodas. Sinto um formigamento horrível em meu estômago, ao ver tal coisa ali. Sabendo que não poderia levar a placa comigo, peguei meu celular e fiz várias fotos, usando-as como prova.

  No entanto, a descoberta não parou por aí. Enquanto explorava o local, me deparei comum computador antigo mais ao fundo. Curiosa, decidi ligá-lo e para minha surpresa, encontrei uma  lista de e-mails misteriosos que ameaçavam a vida de Kevin. 

  — Que raios é isso?! — pensei inquieta.

  Sem saber o que fazer, ouvi passos próximos ao compartimento secreto. Meu coração disparou de medo e, rapidamente, desliguei o computador. Foi então que avistei uma chave de fenda em uma das caixas. Temendo ser descoberta , me escondi, segurando a ferramenta com firmeza.

  De repente, o compartimento foi aberto e sempensar duas vezes, avancei em direção à pessoa que o abriu. Porém, antes que pudesse reagir, a pessoa segurou minha mão com o objeto afiado, imobilizando-me. Meu celular e a chave de fenda caíram no chão. Em seguida, fui colocada contra a parede do pequeno armazém.

  Com o olhar assustado, ergui os olhos e me espantei ao ver que era Kevin, que mantinha um semblante preocupado.

  — O que foi, Kali? — ele perguntou apreensivo.

  Naquele momento, senti um alívio imenso por vê-lo.

  — Kevin... Eu pensei que fosse alguém tentando nos prejudicar. Fiquei com muito medo. — expliquei.

  Com um olhar terno direcionado para mim, ele me envolveu em um abraço apertado, acalmando-me. 

  — Desculpa por te assustar. Não foi minha intenção. — ele falou suavemente.

  Me afastei de Kevin, esboçando um sorriso falso.

  — Acho que está na minha hora. O trabalho me chama. — suspirei.

  Ele assentiu, com um sorriso gentil em seus lábios.

  — Posso te dar uma carona? — ofereceu-se.

  — Claro. — respondi rapidamente.

  Então, segui Kevin até o portão da mansão, onde seu porsche azul já estava estacionado. Entramos no carro e o silêncio entre nós foi preenchido suavemente apenas pelo som do motor. Logo, Kevin começou a conversar, cada vez mais falante, no entanto, eu mal o respondia, pois meus pensamentos estavam a mil por hora.

  Apesar de estar ao lado de Kevin, que me trazia um reconforto doce, minha mente estava presa em tomar a decisão certa. Me sentia dividida entre o amor que sentia por Kevin e vingança que ansiava ao longo dos anos. 

  Cada frase que ele dizia, cada olhar que ele me dava, aprofundava-me ainda mais em confusão. Então, até chegar na casa do delegado, preferi pronunciar com acenos e gestos, e não por palavras.

  Com a ajuda do GPS, Kevin encontrou de maneira rápida o bairro onde o delegado Brown morava. Ele estacionou o carro em frente ao prédio e desligou o motor. Olhei para meu namorado com um sorriso travesso.

  — Chegamos. Muito obrigada — agradeci.

  Abro a porta do carro para sair, porém, antes que eu pudesse fazer isso, Kevin me surpreendeu com um beijo rápido. Meu olhar retribui com um brilho especial e cheio de diversão.

  — O que foi isso? — questionei, rindo.

  — Apenas para desejar a minha linda namorada um ótimo dia. — ele respondeu, brincalhão.

  Rio novamente, apreciando aquele momento entre a gente.

  — Te encontro mais tarde na empresa. — expliquei.

 Kevin assentiu, com seus olhos fixos nos meus. Nos despedimos com outro beijo, mais intenso e ardente que o primeiro, o que o deixou sem fôlego. Sinto seus olhos azuis, concentrados em mim após sair do carro e com um aceno me despeço dele.

  Quando Kevin se afastou e foi embora de vez, me aproximo do condomínio de Anthony, no entanto, sinto alguém me puxar, logo vejo que é um homem estranho e desconhecido, suas mãos seguravam meu braço à força, arrastando-me para longe de olhares alheios.

  — Me solta! Socorro! — gritei desesperada.

  No entanto, de forma ágil e brutal, o homem misterioso cobre minha boca com sua mão grande, abafando as minhas súplicas por ajuda. 

  — Escuta aqui, mocinha! Se não se comportar, eu vou perder a minha paciência... Mas se ficar quietinha, não farei nada com você. — ele disse, com uma voz áspera e grossa.

  Aos poucos, a calma vai retornando a minha mente e finalmente entendo seu aviso. Logo, paro de me mexer e gritar, apenas o encarando atentamente. Cara a cara, o homem então me entrega um pendrive vermelho em minhas mãos e solta à bomba:

  — Se quer mesmo se vingar, faça isso direito pelo menos. — ele falou, soltando-me.

  — C-Como...? Q-Quem é você? Como sabe disso? — questionei espantada. 

  — Eu apenas sirvo ao meu chefe. E acredite, ele conhece as pessoas bem ao seu redor. Foi ele próprio que me mandou vir para encontrá-la, Sra. Park. O pendrive agora em suas mãos é uma aliança entre os dois de conjurar sua doce vingança. — explicou o homem misterioso.

  Um nó seco e amargurado se forma no fundo da minha garganta e um frio na espinha  percorre por todo meu corpo. Isso não pode ser um bom sinal.

  — E o que ele quer de mim, afinal?! — exaltei sem entender.

  — Ele me pediu para avisá-la, de que, caso use o pendrive, você estará em dívida com o meu chefe e que certamente, ele virá ao seu encontro para cobrar a dívida futuramente. — expressou o homem com um sorriso enigmático .

  Sinto meu coração congelar de medo e pavor. Desvio meu olhar para o pendrive vermelho em minhas mãos, e antes que eu pudesse recusar, o homem havia desaparecido, deixando-me sozinha e pensativa.

  — Quem é essa pessoa? Como ela sabe da minha vingança? Será que... Realmente se trata de um aliado poderoso? — questionei inquieta.