Capítulo 15 - Negros X Brancos

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KALI:

  Eu estava na porta de casa, ofegante, quando, de repente, chegaram dois carros da polícia, seguidos por um terceiro, de cor vermelha. Ao ver a pessoa que saiu do carro vermelho, senti um arrepio: era o delegado da noite passada. Ele parecia surpreso ao me ver, exatamente como eu me senti em relação a ele.

  — Senhorita Kali Park? Você de novo? — perguntou o delegado olhando fixamente para mim.

  Assenti nervosamente.

  O momento entre nós foi interrompido pelos gritos preocupantes dentro de casa. Assustada, pensando que aconteceu algo com minha mãe, rapidamente o delegado e eu corremos para dentro da casa, apreensivos. Me deparei com minha mãe na cadeira de rodas e me emocionei ao vê-la. Abracei-a, e ela chorou por me ter em seus braços. 

  — Mãe! — exclamei.

  — Foi sua mãe que chamou a polícia? — indagou o delegado confuso. 

  Ainda emocionada, a pergunta é confirmada com a cabeça, enquanto seca as lágrimas.

  — Sim, sou Lilian. E essa foi a única maneira que encontrei de pedir ajuda para salvar minha filha. Não sabia mais o que fazer! — exclamou minha mãe apavorada.

  —  Fique tranquila, minha senhora. A polícia está aqui, eu sou o delegado Anthony Brown. Conte-me sobre este caso. — explicou ele.

  Então minha mãe começa a contar o ocorrido, de como fomos surpreendidas com a presença de um homem estranho e desconhecido dentro de nossa própria casa, nu tomando banho. E de como eu havia enfrentado o homem, mas ele me fez de refém para poder fugir.

  —  Você enfrentou mesmo ele, senhorita? Foi muito corajosa, mas dá próxima vez, fique longe de confusões. Sua mãe precisa de você segura. — falou Anthony surpreso.

  — Não foi tão perigoso assim, eu apenas... 

  —  O delegado tem razão, filha. Nunca mais faça algo tão perigoso. — confessou minha mãe, puxando meu braço gentilmente. 

  De repente, minha mãe começou a tossir muito, deixando-me preocupada.

  —  Mãe. Mãe, tá tudo bem? Mãe! — exasperei sobressaltada.

  — Senhora! — exclamou Anthony também angustiado.

  — Anthony, fique com ela. Vou pegar um copo de água! — falei apressadamente. 

  Corri até a cozinha rapidamente, enchi um copo de água fresca e voltei para a sala para dar à minha mãe. Anthony, o delegado, foi prestativo e me ajudou a dar água para ela.

  — Beba devagar, dona Lilian. Estamos aqui para ajudar. — ele disse gentilmente. 

  Enquanto minha mãe bebeu lentamente, fiz uma leve massagem no tórax dela para evitar que se engasgasse. Logo, ela voltou ao normal, e tanto eu quanto Anthony suspiramos aliviados.

  O restante da polícia revistou o local e revelou ter encontrado uma camisa masculina molhada na cadeira secando no meu quarto. Anthony olhou para mim, e eu tentei teatrar novamente.

  — Você acha que ele estava me espionando? — perguntei assustada.

  O delegado colocou a mão suavemente em meu ombro e tentou me tranquilizar:

  — Vamos investigar isso, Kali. Vamos descobrir o que está acontecendo aqui. 

  — É claro. Eu te levo até a porta. — digo hospitaleira.

  Ele assentiu. E me acompanhou até o lado de fora. Ao estar na escadaria do prédio, puxo levemente o braço do delegado, e ele me olha todo confuso.

  — Mais alguma coisa, senhorita? — ele questionou.

  — Delegado, se importaria de responder uma dúvida que tenho. — pedi meio hesitante.

  — Sim, é claro. O que é? — ele indagou, esperando a minha pergunta.

  — Por que você fez tanta questão de se envolver nesse caso? Com todo respeito. — comentei intrigada.

  — É o meu dever como parte da polícia, Kali. Estamos aqui para proteger e servir a comunidade. — ele respondeu imediatamente.

  Porém, minha curiosidade persistiu.

  — Você está realmente disposto a ajudar pessoas como nós? — perguntei apreensiva. 

  Anthony deu de ombros, me surpreendendo que ele não se importava com isso.

  — Não vejo diferença entre pessoas brancas e negras, Kali. Minha mãe adotiva me mostrou que a cor da pele não define o caráter de alguém. — ele explicou.

  — E onde está ela agora? 

  — Ela já partiu, mas sempre carrego os ensinamentos dela comigo. A cor da pele nunca foi um obstáculo para ela, e não será para mim. — afirmou Anthony.

  Absorvi a história do delegado, percebendo a profundidade de suas experiências de vida.

  — Ela deve ter sido uma mulher admirável! — comentei pensativa.

  Então Anthony esboça um sorriso discreto em seus lábios e revela:

  — Sim, ela era. Linda, forte e corajosa. 

  De repente, o delegado dirige um olhar sério sobre mim, o que me deixou visivelmente incomodada.

  — O que foi, senhor? — perguntei desconcertada.

  — Não é nada. É que... Você se parece com ela. Você também é linda e corajosa, Kali! — falou Anthony.

  Fico tímida com o olhar persistente do delegado sobre mim. Tento recompor a postura, e resolvo mudar de assunto:

  — Vá com cuidado, delegado. E obrigada. — agradeci.

  Ele assentiu. Porém, antes dele ir definitivamente embora, Anthony passou o seu cartão de visitas para mim.

  — Se você tiver alguma informação que possa ajudar no caso, pode me ligar a qualquer momento, Kali. — ele avisou gentilmente.

  Agradeci mais uma vez pela ajuda, enquanto Anthony coordenava a equipe de polícia em busca de mais pistas sobre o invasor misterioso na delegacia. Guardei o cartão no bolso do casaco, sentindo um misto de problema e preocupação em meu coração. 

  O que posso dizer é que a vinda do delegado me surpreendeu hoje, mas sabia que no fundo mais problemas viriam à tona nesta casa. E eu deveria estar preparada.

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