Capítulo 29 - Pânico

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KALI:

  Eu estava na minha cozinha, ansiosa para preparar o jantar. O aroma de temperos enchia o ar enquanto eu ajustava o fogo na panela. Apesar de eu trabalhar, nem sempre conseguia dinheiro suficiente para manter a casa reabastecida de comida. Era quase difícil. Mas com minhas habilidades culinárias, eu conseguia arranjar um jeito.

  Ao abrir a geladeira, esperava encontrar os ingredientes usuais, mas, para minha surpresa, me deparei com prateleiras repletas de comida fresca. Meus olhos se arregalaram com a visão inesperada.

  — Mas quem fez isso? — perguntei em voz alta, perplexa.

  Nesse momento, minha mãe, Lilian, que estava na sala de estar, ouviu minha pergunta e disse:

  — Ah, querida, foi o delegado Anthony. Ele foi tão gentil. Ao sair do hospital, ele passou no supermercado e comprou esses mantimentos para nós. 

  Aquilo me surpreendeu muito. Eu nunca teria imaginado que Anthony, conhecido por sua seriedade no trabalho, também tinha um lado tão atencioso.

  — Isso é incrível. —  murmurei, ainda processando a bondade do delegado. — Eu preciso agradecê-lo.

  Enquanto continuava a preparar o jantar, minha mente estava repleta de pensamentos sobre como agradecer o delegado pelo que fez. 

  Decidi pensar nisso depois. Desviei minha atenção de volta para o jantar de hoje. Coloquei os pratos, talheres e copos, criando um ambiente aconchegante. 

  — Está pronto, mãe. — avisei, enquanto ajudava-a a se movimentar com a cadeira de rodas.

  Levei-a até a pequena mesa da cozinha, e seus olhos se arregalaram ao ver a fartura diante dela. A mesa estava repleta de pratos cuidadosamente arranjados, emanando um aroma irresistível.

 — Filha, você fez tudo isso? — perguntou ela, visivelmente espantada.

  — Sim, mãe. Queria fazer algo especial para nós duas hoje. — respondi com um sorriso.

  Sentamo-nos à mesa, e enquanto saboreávamos cada garfada, os elogios não paravam. Foi realmente a melhor refeição que já tivemos na vida!

  Após o jantar, lavei a louça e ajudei minha mãe a se deitar. Com tudo em ordem, segui para a sala e abri o celular. Uma mensagem de um número desconhecido chamou minha atenção, e ao abrir, descobri que era Kevin. 

  — Como raios ele conseguiu o meu número? — murmurei intrigada. 

   A mensagem explicava que às onze horas ele viria buscar o casaco que havia deixado comigo. Olhei para o relógio do celular e percebi que faltava meia hora para o horário marcado.Mas só de lembrar a confusão que deu quando deixei Kevin entrar em minha casa, não havia cabado bem. Aquilo me fez agir rapidamente.

  Corri para meu quarto e coloquei o casaco dele em uma sacola para devolvê-lo. Saindo de casa, fiquei do lado de fora, aguardando a chegada de Kevin. Enquanto esperava, meu celular vibrou, e ao atender, a voz do outro lado revelou ser Anthony, o delegado. Um pequeno sorriso escapou dos meus lábios gratos pela sua ajuda.

  — Estou feliz em ter ajudado. Como você está agora, Kali? — disse ele, gentilmente.

  Antes que eu conseguisse responder Anthony, percebi uma van preta entrando em meu bairro. Aquilo parecia suspeito. De repente, quatro brutamontes de terno saíram do veículo e correram em minha direção. Tentei fugir para dentro de casa, mas um deles me agarrou pela cintura com tanta força que ficou difícil de escapar.

  — Anthony, me ajuda! Eles estão me sequestrando! — gritei desesperada ao telefone, esperando que ele pudesse ouvir e fazer algo.

  Ao ouvir meu chamado, um dos homens arrancou o celular das minhas mãos e o jogou brutalmente no chão, esmagando-o.

  — Rápido! Vamos levá-la para a van! — disse um dos brutamontes.

  Eu me debatia e tentava me soltar, mas a força daqueles homens eram muito maiores do que eu. A sensação de impotência aumentava a cada minuto, mas eu me recusava a desistir. Sou arrastada e empurrada para dentro da van. A porta se fecha rapidamente, e o veículo segue a estrada velozmente. 

  Tento me mover, porém, os homens seguram meus braços, impedindo-me de fazer qualquer coisa, e outro dois caras, amarram-me com cordas bem grossas nas mãos.

  — Quem são vocês? — exclamei em pânico.

  De repente, ouço uma risada fina e feminina. Ao erguer o olhar, me deparo com uma moça linda, de pele clara, mas seus olhos expressavam frieza e sua face estava áspera.

  — Quem é você, afinal? O que quer de mim? — questionei seriamente.

  — Argh! Ela é negra! Eu me perguntava como uma ladra poderia roubar em plena luz do dia, mas sendo macaca, não é tão difícil adivinhar. — disse a moça a minha frente, de forma exagerada.

  — E por acaso você já viu algum sequestrador selecionar pessoas só pela cor dela? — perguntei debochadamente.

  A moça franziu a testa diante de mim, e sua reação foi direta. Ela desferiu um tapa na lateral do meu rosto. A força foi média, mas pude sentir a ardência da agressão, eu a encaro com raiva.

  — Como ousa se dirigir a mim dessa maneira?! — discutiu ela. — Nesse mundo, macacas pretas como você devem permanecer silenciadas. E se você aprontar, posso garantir que sua hora chegará!

 Engoli em seco, amedrontada por suas palavras. 

  — Por favor, me deixem ir embora! Eu não fiz nada! — contei.

  Porém, a moça me dirige um olhar cínico e ordena em voz alta:

  — Ela está falando demais. Calem-na de uma vez! 

  Assim, pega de surpresa por trás, colocaram um pano e amarraram-no em minha boca, impedindo que eu gritasse.

  — Meu Deus... Por favor, tenha piedade de mim! — supliquei aterrorizada.

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