Capítulo 6 - Consequências

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KEVIN:

  O olhar de reprovação do meu pai cortava o ar, fazendo-me sentir como se estivesse diante de um juiz implacável. Sua ordem para que eu me vestisse imediatamente ressoou em meus ouvidos, e ainda atordoado pelos tapas que recebi, obedeci sem questionar. Vestir-me se tornou um ato mecânico, enquanto seu olhar severo acompanhava cada movimento.

  — Kevin, sente-se. Temos assuntos a tratar. — ele me dirigiu um olhar sério.

  Sentado diante do CEO da empresa Diamond, um silêncio perturbador pairava sobre nós. Meu pai confessara sua decisão de escolher outro para assumir o cargo de presidente, deixando-me surpreso e indignado. 

  — Pai, você não pode fazer isso. Eu sou o seu filho! — retruquei irritado.

  — Exatamente, Kevin. E talvez eu tenha mimado você demais. Esqueceu-se dos valores mais importantes da vida. Onde está a educação que eu lhe ensinei?! — ele levantou a voz rispidamente.

  Um riso irônico escapou dos meus lábios, como se aquelas palavras fossem uma piada.

  — Valores? Isso é o que você chama de valores? — indaguei incrédulo.

  — Preste atenção, Kevin. Se mais uma travessura sua acontecer, eu não hesitarei em deserdá-lo. Chegou a hora de aprender as consequências de suas ações. — ele replicou seriamente.

  A tensão pairava no ar enquanto as palavras do CEO ecoavam na sala, deixando-me aturdido com a gravidade do que estava por vir.

  Neste momento, meu pai ordenou que eu entregasse as chaves do meu amado Porsche, o símbolo da minha ostentação e status. O impacto daquela ordem sem sentido me atingiu como um soco, deixando-me em estado de choque.

  — Vamos Kevin. Me dê as chaves! — ele exigiu firmemente.

  A relutância era evidente em meu rosto, mas meu pai não estava disposto a recuar. Com um suspiro fraco, retirei as chaves do bolso e as entreguei, resmungando dentro de mim essa decisão tão injusta.

  — E agora? Como vou me movimentar de um lugar para outro? — questionei sem entender.

  Meu pai, com um sorriso irônico, respondeu com uma simplicidade que me feriu mais do que a retirada do carro.

  — Você vai aprender a andar de ônibus, filho. 

  A proposta era humilhante para um herdeiro rico como eu, acostumado ao luxo e à riqueza. 

  — Andar de ônibus? Isso é ridículo! Eu não vou me submeter a essa humilhação! — exclamei revoltado.

  A firmeza do CEO indicava que ele não cederia, não importasse o quanto eu protestasse. O golpe inicial foi ferido, e eu senti a gravidade das consequências que começaram a se desdobrar diante dos meus olhos.

  A ordem de meu pai cortou-me como uma faca no peito, ordenando-me que deixasse a empresa e voltasse para casa. A ironia escorreu quando ele retirou alguns trocados do bolso, estendendo-os para que eu pegasse o ônibus. A humilhação era palpável, e enquanto as ameaças ferviam em minha mente, a fúria nos olhos do CEO deixou claro que não era o momento para confrontos diretos.

  — Pegue o ônibus, Kevin. Você precisa de um pouco de humildade. — meu pai disse debochadamente.

  Assenti em concordância e eu me retirei do escritório, carregando um ódio que nunca quis sentir vindo do meu próprio pai. Ao sair da empresa, usei meu celular para encontrar o ponto de ônibus mais próximo, mas minha inexperiência com esse meio de transporte me levou a embarcar em um ônibus aleatório.

  Ao entrar, entreguei o dinheiro ao trocador, um senhor de olhar desconfiado sobre mim.

  — Perdoe minha franqueza, senhor. Mas você não acha que está no lugar errado? — questionou o homem com sarcasmo.

  Engulo minha raiva e tento não me aborrecer naquele lugar desprezível.

  — Apenas queria tentar algo diferente hoje. — respondi, tentando controlar o tom da minha voz.

  Cruzei a catraca e me deparei com a simplicidade e pobreza do ônibus, sentimentos que me enojavam.

  Porém, entre os rostos desconhecidos, avistei uma figura familiar. Uma moça negra de beleza marcante, com cachos escuros e olhos castanhos profundos. Era Kali. A surpresa e o choque mesclaram-se em meu rosto ao ver aquela pessoa ali. Pelo seu semblante ela permanecia séria, mas seu olhar estava melancólico. 

  — O que será que aconteceu com ela? — pensei intrigado.

  Enquanto o ônibus se movia pelo caminho, eu observava Kali de longe. Seu semblante melancólico despertou uma curiosidade que eu não poderia ignorar. Decidi não me aproximar, mas meu olhar continuou fixo nela, questionando-me o motivo de tanta tristeza.

  A expressão dela era um enigma que eu gostaria de desvendar. O que poderia ter acontecido para deixar aquela moça tão impetuosa assim? 

  Mesmo que a distância entre nós no ônibus fosse grande, sua aura pesada era palpável. Eu me perguntava se talvez houvesse algo que eu pudesse fazer para mudar aquilo, ou se fosse um capítulo de sua vida que eu não deveria interferir. 

  Enquanto a incerteza pairava no ar, eu continuava a observá-la silenciosamente, respeitando a privacidade de Kali, mas, ao mesmo tempo, incomodado pela insistente curiosidade sobre o que a levava naquela profunda tristeza.

  Não sei explicar o que passa na minha cabeça ao ver a imagem de Kali. Era como se eu já a tivesse visto em algum lugar. Mas não consigo me lembrar. 


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