Acidentes do Coração

Capítulo 72 - Beijo de Dor

KALI:

  Anthony havia preparado tudo de antemão para mim. Ele me informou que a polícia ficaria disfarçada em meio à festa. Antes de entrar definitivamente, resolvo usar uma escuta que ele me deu, a qual a polícia usava nas investigações secretas. Por teimosia, estava usando o vestido dourado que Luke havia me presenteado. Se eu queria causar hoje, deveria fazer bem feito!

  Mas antes de entrar, Anthony me segura pelo braço gentilmente, nossas mãos ficam entrelaçadas por um momento.

  — Kali... Depois dessa noite tudo na sua vida pode mudar. Tem certeza de que quer continuar? — ele perguntou preocupado.

  Assenti lentamente, mesmo com a incerteza em meu coração, sabendo que hoje ele ficaria mais quebrado do que nunca.

  — Nada me faria mais feliz! — menti no impulso.

  Anthony concordou silenciosamente.

  — Tenho uma coisa para você. — ele falou suavemente, retirando algo do bolso da calça formal.

  Aos poucos, vejo um lindo colar dourado, com um pingente de coração em suas mãos. Era uma peça delicada e graciosa. E me surpreendo, quando Anthony o coloca em meu pescoço.

  — Anthony... Isso é muito caro... Não posso aceitar. — falei timidamente.

  — Ele foi feito para você, Kali. Por favor. — ele disse, com um olhar carinhoso.

  Sorrio de volta para ele, agradecida. Sendo assim, me despeço de Anthony e começo a andar em direção à porta de entrada da mansão, a qual já sabia onde ficava.

  Ao entrar, vejo os olhares das pessoas sobre mim, mas de repente, meu olhar se encontra com o de Kevin, e percebo que ele estava acompanhado por Yonara. Seus olhos azuis reluzentes se cruzam com os meus em meio aquela multidão no baile. Percebo a ansiedade na expressão de Kevin por me ver ali, porém, ao dar o primeiro passo, Yonara o chama para dançar, deixando-o sem escolha.

  E sem acreditar, Kevin aceita dançar com aquela vagabunda desgraçada. Enquanto os observo de longe, sinto uma pontada de ciúmes atingir meu coração. Vejo o sorriso de satisfação no rosto de Yonara, sabendo que conseguiu me provocar.

  — Não vou permitir que isso tire o meu foco. Não vou mesmo. — pensei determinada.

  Então, sou surpreendida pela presença de Luke, com os outros amigos dele. Sei que a ideia é arriscada, mas um sentimento de ciúmes estava tomando conta de mim, e eu queria libertar-me dele. Me aproximo de Luke e faço o seguinte convite:

  — Você faria a honra de dançar comigo, querido? — digo, com um sorriso desafiador.

  — Claro, Kali. — ele diz cínico.

  De mãos dadas, Luke e eu nos posicionamos no grande salão de baile também. Enquanto dançamos, sinto os olhos de Kevin sobre nós e aproveito o momento para mostrar que sou bem mais que uma mulher de classe inferior. Logo, sinto um aperto forte na cintura, fazendo meu olhar se encontrar com o de Luke, que mantinha uma expressão indecifrável.

  — Pensa que não sei o que está fazendo? Está me usando como pretexto para causar ciúmes em Kevin. — ele resmungou baixinho, claramente irritado.

  — Agora sabe como é se sentir usado por outra pessoa. Devo me parabenizar? — provoquei de volta no mesmo tom.

  — Não me subestime, mulher! — ele declarou, aumentando a velocidade da dança.

  Nesse instante, Luke levantou a mão, e estalou os dedos. Subitamente, o DJ da festa trocou a música e logo ouço um ritmo de tango. Fico temerosa, pois só vi tango uma vez na vida, pela televisão, porém, meu parceiro louco me olhou de maneira determinada.

  Suas mãos envolveram meu corpo num embalo sedutor, atraindo a atenção de todos no baile. Percebo que a energia entre nós também mudou, e eu estava ciente de que estava correndo um grande risco por desafiá-lo.

  Em um momento inesperado, Luke tentou roubar um beijo meu, mas com rapidez, desvio o rosto, recusando-o. Sinto uma mistura de alívio e insatisfação por seu atrevimento. De repente, a música é interrompida, só vejo Kevin empurrar Yonara para longe e em poucos minutos, só sinto ele puxar-me para longe de Luke e dos olhares alheios.

  Enquanto percorríamos o interior da mansão, eu pedia para que ele me soltasse, porém, Kevin mantinha um olhar sério o tempo todo e apenas me ignorou.

  De repente, nos adentramos num cômodo, da qual nunca tinha entrado, reparo que se tratava de um escritório. Kevin me solta e tranca a porta para que eu não tivesse a chance de escapar. Depois de tantos dias sem vê-lo, fiquei dividida novamente pelos meus sentimentos.

  — O que pensa que está fazendo?! — questionei.

  Após minhas palavras, Kevin me segurou firmemente pela cintura e me chocou gentilmente contra a parede, fazendo que nossos corpos se tocassem e os nossos olhos se encontrassem. Sua expressão estava enfurecida, mas seus olhos transmitiam uma gentileza incomum quando olhavam para mim. 

  — Por que você está aqui, Kali? — ele perguntou finalmente.

  Mesmo com a aproximidade entre nós, mantive a compostura e desconversei.

  — Por que não estaria? Só tive curiosidade em vir. É proibido? — respondi friamente.

  Então, ele soltou um riso amargo e em seguida, um sorriso debochado surgiu em sua face.

  — Você está aqui porque se importa comigo. — ele me confrontou.

  — Está enganado! Não me importo nem um pouco com você. — neguei convicta, mas no fundo, eu sabia que era mentira. 

  — Desde que namoramos, Kali, sua capacidade em mentir ficou realmente abalada. Eu não acredito em você. — ele disse suavemente.

  Dei de ombros, ficando em silêncio. Ele havia me pegado e não havia nada que eu pudesse fazer para mudar aquela situação. Estávamos ali juntos, mas ao mesmo tempo, tão distantes.

  Com todo respeito, Kevin começou a esfregar gentilmente seu rosto no meu. Sinto suas mãos segurarem minha cintura, enquanto ele se aproxima e sussurra algo em meu ouvido.

  — Como seria bom se ficássemos assim... Juntos.

  Apesar disso, meu coração ansiava por um beijo dele. Como se tivesse lido meus pensamentos, Kevin me rouba um beijo irresistível. Nossos lábios se encontram em um momento de pura intensidade e paixão. Incapaz de resistir, retribuo o beijo com o mesmo ímpeto, entregando-me completamente aquele sentimento tão profundo.

  — Kali... Deixe-me senti-la mais uma vez. — ele suspirou brevemente, depois retornando a beijar-me.

  Em meio aquele beijo apaixonado, todas as dúvidas e conflitos pareciam ter desaparecido entre nós. Cada toque, cada movimento dos lábios, era cheio de emoção e anseio.

  No entanto, a realidade volta a bater em minha mente. Lembro-me de todos os atos egoístas que Kevin cometeu, todas as vezes que ele me machucou. Rapidamente, tento me afastar dele, mas ele me segurava firmemente, como se não quisesse me deixar escapar.

  Desesperada, num ato impulsivo, mordo com força o lábio dele. Sinto a resistência dos dentes e o gosto metálico de sangue. Mas dá certo e o beijo é interrompido abruptamente, com Kevin soltando um gemido de dor.

  Nossos olhares se encontram e vejo surpresa e dor em seus olhos. Sei que minha ação foi impulsiva, mas também foi uma prova em deixar ele saber que não permitirei que ninguém me magoe mais.

  — Eu não vou cair nos seus joguinhos, Kevin! — declarei irritada. — Tampouco estou aqui para reacender a chama entre nós.

  Ele passa o dedão em sua boca, limpando o sangue e sorri determinadamente para mim.

  — Depois desse beijo, Kali... Tenho certeza de que você ainda me ama. — ele afirmou corajosamente.