Capítulo 12 - Escondidos

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KEVIN: 

  A luz prateada da lua pintava a rua vazia enquanto eu segurava os ombros de Kali, perdido em seu olhar profundo. O clima se tornava misterioso, e, fechando os olhos, eu me aproximava para um beijo. Contudo, só sinto ela me empurrar e me presentear com um tapa merecido em minha face.

  — Ai! Por que diabos você fez isso? Estava tudo romântico entre nós! — perguntei perplexo.

  Ela ri, uma risada franca que corta o silêcio da noite, e que me faz sentir desconfortável por sua reação.

  — Não confunda as coisas, Kevin! Só porque você me salvou hoje não significa que haja algo mais entre nós. — ela diz, firme.

  Fico chateado após as palavras dela, então vejo Kali ir embora rapidamente, com passos firmes ecoando na rua deserta. Fico ali, tentando entender a confusão que se desenrolou entre a gente.

  — Ingrata! Nem sequer me agradeceu. Humphf. — pensei descontente. — Mas esse tapa foi mais forte do que os outros...

  Eu me encontrei na escuridão, ainda sentindo a ardência no rosto pelo tapa que Kali me deu. As sombras rapidamente engoliram Kali enquanto eu ponderava sobre o motivo de sua reação tão intensa. Sempre fui irresistível para as mulheres, mas com Kali, as regras lógicas eram bem diferentes.

  Agora, sozinho nas ruas escuras, percebi que havia gasto todo o meu dinheiro, sem opção para voltar para casa da maneira convencional. Com um suspiro, decidi correr atrás de Kali, cuja figura se distanciava rapidamente.

  — Kali! Espere! — gritei, esperando que ela me ouvisse.

  Acelerei meus passos, determinados a alcançar Kali antes que ela desaparecesse completamente na noite escura. Cada passo se tornava mais rápido, movido pela necessidade de resolver a situação e, talvez, entender o porquê dela ter reagido dessa maneira.

  Eu finalmente alcancei Kali. Segurei seu braço delicadamente, tentando transmitir confiança. O olhar sério dela me cortou como uma lâmina, e sua pergunta ecoou em meus ouvidos: 

  — Por que raios você está me seguindo? — ela questionou irritada.

  — Estou aqui para ajudar. — respondi.

  — Ah, você quer seu meu herói então? — ela provocou com desdém.

  — Bom, eu pretendia ser. Mas não deu muito certo. — brinquei. — Porque a minha donzela é diferente de todas outras que já conheci.

  — Eu não sou a sua donzela e nem de ninguém! — retrucou Kali rispidamente.

  — Por favor, Kali, eu preciso muito da sua ajuda! Eu gastei meu dinheiro todo e não consigo voltar pra minha mansão. Será que você pode me levar para sua casa? — perguntei desesperadamente.

  A hesitação nos olhos de Kali me cortou, mas persisti, e finalmente ela cedeu em me ajudar. No entanto, suas condições eram claras: eu precisaria ficar escondido para não chamar a atenção de sua mãe. Acho que é porquê a mãe dela se assustaria em vê-la trazendo um rapaz bonito e charmoso como eu para casa no meio da noite. 

  — Tudo bem. Eu não quero assustar a minha futura sogra tão cedo. — comentei brincando.

  Mas Kali ficou chateada e me deu um soco leve no ombro, em sinal de reprovação. Faço um sinal com as mãos, dizendo que guardarei minhas piadas para esta noite.

  — Obrigado, Kali. Prometo que não vou causar problemas. — agradeci, tentando transmitir sinceridade. 

  Ela apenas concordou, descer o caminho até sua casa. O silêncio entre nós era tenso, mas ao menos, por enquanto, eu estava a salvo.

  A noite estava calma enquanto caminhávamos pelas ruas escuras em direção à casa dela. A luz amarelada dos postes de rua lançava sombras dançantes sobre o asfalto, criando uma atmosfera de suspense. Ao chegarmos à porta da casa de Kali, ela parou e olhou para mim, seus olhos brilhando com determinação.

  — Certo. Agora você fique aqui e espere. — ela alertou.

  — Pra quê? — indaguei sem entender.

  — Eu tenho que distrair minha mãe primeiro, depois você entra. — Kali explicou baixinho.

  Tentei argumentar, apontando um plano alternativo, mas Kali me lançou um olhar afiado e de negação, fazendo-me calar na mesma hora. Era como se ela soubesse algo que eu não sabia, algo que a tornava confiante naquele plano arriscado.

  — Confie em mim, Kevin. Isso vai dar certo. Espere aqui, e eu volto em breve. — disse ela, de forma enigmática.

  Ela virou-se, abriu a porta cuidadosamente e desapareceu dentro de sua casa. Fiquei ali, à espera, com o coração batendo acelerado. A tensão não era palpável enquanto eu me perguntava o porquê de Kali insistir tanto que eu não visse sua mãe. Era misterioso, suspeito até. Por que ela tinha esse medo?

  Enquanto eu a aguardava, olhava ao redor, notando o céu noturno da cidade e sentindo a brisa suave da noite. Cada segundo parecia uma eternidade, e mal podia esperar para que Kali retornasse e me levasse para dentro da casa.

  Minha impaciência crescia à medida que eu verificava repetidamente o horário no celular. Era quase meia-noite, e Kali ainda não havia aparecido. De repente, o céu se abriu em trovões, anunciando uma tempestade iminente. Para o meu azar, as primeiras gotas começaram a cair, transformando-se em uma chuva intensa.

Completamente desamparado, vi-me encharcado pela chuva que caiu impiedosamente do céu. Não havia outra opção além de permanecer ali, observando os minutos se arrastarem enquanto a água gelada me envolvia. Após uma agonia de trinta minutos, a porta finalmente se abriu, revelando Kali.

  Ela se moveu rapidamente, estendendo a mão para me ajudar a me levantar. Com um gesto silencioso, pediu que eu entrasse cuidadosamente. A água escorria meus cabelos enquanto a seguia para dentro da casa.

  — Por que você demorou tanto? — sussurrei baixinho, irritado.

  — Tive que inventar uma desculpa para a minha demora na delegacia e depois ajudar minha mãe a ir para a cama. Foi mais complicado do que eu esperava. — sussurrou ela de volta. 

  Franzi o cenho, visivelmente descontente.

  — Bem, enquanto você inventava desculpas, eu fiquei aqui embaixo daquela chuva fria. — respondi sarcasticamente.

  Kali suspirou e disse meio sem-graça:

  — Desculpe por isso. Vamos para o meu quarto, vou pegar uma toalha para você se secar.

  Assenti, mas não consigo disfarçar um sorriso em meu rosto. 

  — O que foi? — Kali perguntou.

  — É a primeira vez que ouço uma mulher me chamando para ir ao seu quarto. — brinquei. — Geralmente sou eu que faço esse convite.

  Kali então saiu na frente, e não pude rir com sua reação. 

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