Capítulo 62 - Contra a parede

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KEVIN:

  A luz suave do sol da tarde banhava meu quarto, revelando minha figura deitada na cama, olhando fixamente para o teto.  Meus pensamentos se formam num redemoinho, todos centrados em Kali. Lembro do momento em que confessei a verdade para ela, sobre a aposta cruel que eu havia feito.

  Tudo que falei para Kali, havia sido frio, distante e quase desumano com ela. E no fundo, eu merecia isso. Eu menti e usei como um peão em meu jogo egoísta. A culpa pesava em meu peito, um grande peso recaía sobre mim e confesso que estava sendo doloroso em suportar.

  Em um acesso de ódio e frustração, me levanto abruptamente e jogo todos os objetos ao redor do quarto. O som de vidro quebrando ecoa pelo espaço, mas eu mal noto. Tudo o que eu consigo fazer é pensar em Kali.

  Encaro as sacolas que continham garrafas de cerveja, e não hesito em bebê-las. Aos poucos, tomava três garrafas ou mais. E logo, sentei no chão e de repente, um filme com todos os momentos que passei com ela surgiu em minha mente. Cada sorriso, cada risada e olhar... Era indescritível!

  Sinto uma lágrima escorrer de meus olhos e com um nó no estômago, percebo que acabei de perder alguém que realmente me amou. 

  — Kali... — murmurei em meio ao vento. — Eu sinto muito... E-Eu... Nunca quis te machucar. 

  Pego e bebo mais duas garrafas de cerveja, afogando minhas mágoas. Já quase embriagado, decidi ir atrás de Kali e me explicar para ela. Mesmo que ela não quisesse me ver ou ouvir, eu estava determinado a encontrá-la.

  Meio cambaleando por causa do efeito da bebida, saí e peguei um táxi em direção à casa de Kali. Mas ao descer do carro me surpreendo ao flagrar Kali e Anthony abraçados numa posição bem íntima, em plena luz do dia.

  Tomado por uma onda de ciúmes, avancei sobre os dois. Foi uma discussão bem acalorada. Depois que o delegado finalmente nos deixou a sós, confesso meus sentimentos verdadeiros por Kali, mesmo antes de ter feito tal aposta. Porém, a reação dela foi abrupta e sem hesitar, ela me desferiu um tapa em meu rosto.

  Em seguida, ela me ameaça a chamar Anthony e denunciar-me para a polícia e prender-me ali mesmo. Fico surpreso com sua resposta. Nuca imaginei que Kali tivesse a ousadia de me ameaçar. Mas não deixei isso me intimidar.

  — Seria bom mesmo! — digo firmemente. — Porque aí poderíamos resolver o que você continua escondendo de mim. Você decide.

  Ela franze a testa, claramente confusa.

  — Do que está falando? — ela questionou.

  Peguei meu celular e mostrei a ela uma foto que tirei daquela fotografia antiga.

  — Já sei de tudo. — digo confiante. — Eu sei que essa menina na foto é você. Exatamente há quatro anos atrás. Isso quer dizer que nós já nos vimos antes. Agora, me pergunto, para que tanto mistério?!

  Percebo a surpresa em seu rosto, mas ela não se atreveu a responder.

  — Ótimo! Abrirei um novo caso na polícia. Eu quero descobrir a verdade e acredite, vou conseguir! — ameacei com desdém.

  Finalmente, ela se pronunciou: 

  — Você tem razão, Kevin. Nós nos conhecíamos no passado. Mas o engraçado dessa história, é que você nunca me reconheceu.

  — Quem é você exatamente, Kali? — perguntei frustrado com aquela enrolação. — Como nós nos conhecemos?

  Então, Kali suspira profundamente, e tenta entrar em casa, porém, guardo o celular no bolso, e avanço em sua direção e a seguro fortemente pelos ombros, fazendo-a ficar de frente para mim, encarando-na com total intensidade.

  — Eu exijo saber a verdade! — digo seriamente.

  — Me solte! — ordenou Kali, impaciente.

  De repente, uma nuvem passageira passa e começa a chover. Ainda mantenho Kali nos meus braços e aos poucos, ambos começamos a ficar molhados. Aquela chuva me fez lembrar da noite que passei na casa de Kali.

  — Isso te parece familiar, linda? — perguntei baixinho.

  Porém, ela desvia o olhar, tentando se soltar ainda de mim.

  — Vai pra casa, Kevin. — ela retruca. — A partir de agora, nós devemos seguir caminhos separados.

  Me aproximei suavemente do ouvido dela e cochicho em sinal de provocação.

  — Pode pensar o que quiser de mim, Kali. Mas saiba que eu não vou desistir de você! — avisei seriamente.

  Finalmente, soltei Kali e comecei a caminhar na chuva, seguindo de volta para a mansão. Cada passo era um esforço, com meu corpo exausto e quase sem forças. Sinto a água da chuva escorrer pelo meu rosto e pelo meu corpo, misturando-se com as lágrimas que não consigo conter.

  Cheguei ofegante na sala da mansão, com passos pesados ecoando pelo ambiente. Percebi a presença de Joshua e Ethan lá, conversando, mas ao me verem, eles se espantam com o estado em que me encontro.

  — Kevin, meu Deus, o que aconteceu?! — exclamou Joshua, correndo em minha direção.

  Pálido e fraco, caio nos braços de Joshua e Ethan, incapaz de ficar de pé por mais tempo. Eles me seguraram, preocupados com minha condição.

  — O que houve? — Ethan perguntou apreensivo.

  Mas não consigo responder nem isso. Sinto uma exaustão profunda tomando conta de mim, com um sono irresistível que me chamando. Meus olhos pesavam e cada vez ficava mais difícil lidar com o cansaço. 

  De repente, tudo ficou escuro e literalmente caí. Por fim, consegui formular uma única palavra:

— Kali. 

  Não consigo mais resisitr, e me entrego a um sono profundo e adormeço nos braços de Joshua e Ethan, esquecendo de tudo e todos ao meu redor, pensando somente nela. 

Acidentes do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora