KEVIN:
Aquela tarde foi um verdadeiro inferno. Caminhar pelas ruas de São Francisco sob o sol escaldante, com os pés latejando de dor, foi uma humilhação que eu nunca pensei que teria que enfrentar. Cada olhar na rua parecia zombar da minha situação, e o calor só fazia aumentar a raiva que fervia dentro de mim.
Finalmente cheguei em casa, e encontro Joshua, esperando por mim. Seu semblante estava sereno, mas ele tinha um sorriso frouxo, como se estivesse segurando-se para não rir.
— Demorou, senhor Kevin. Teve uma tarde movimentada? — ele perguntou ironicamente.
Ignorei suas palavras e segui diretamente para a piscina. Eu precisava daquele momento para limpar a sujeira do dia.
— Pelo visto, o senhor está de mau humor. — ele respondeu, deixando escapulir uma pequena risada baixa.
— Não estou com humor para piadas, Joshua. — alertei impaciente.
Joguei a jaqueta e desabotoei rapidamente a camisa, enquanto caminhava para o banheiro externo que ficava perto da área externa. Ao trocar o traje urbano por um simples calção de banho, a água fresca da piscina pareceu o antídoto para toda a vergonha e frustração acumuladas que passei hoje.
Mergulhei na água, tentando afogar as lembranças daquela caminhada desastrosa.
Minha mente fervilhava em pensamentos de como reverter a situação imposta pelo meu pai. A piscina, porém, era um refúgio temporário, onde eu podia esquecer, pelo menos por um momento, a humilhação que sofri nas ruas de São Francisco.
A água fresca da piscina, ainda que temporariamente reconfortante, não conseguia dissipar completamente a irritação dentro de mim. Joshua, com sua postura irônica, só piorava as coisas. Seus comentários sobre a "sabedoria" e "justiça" da decisão do meu pai não ajudavam em nada.
— Você pode me poupar de seus conselhos, Joshua. Eu não pedi por eles. — respondi bruscamente, indicando com um aceno de mão para que ele saísse dali.
Quando finalmente fiquei sozinho na piscina, me permiti relaxar um pouco mais. Contudo, minha mente, teimosa como sempre, trouxe à tona a imagem de Kali. Aquela garçonete negra ousada e que parecia ter um ímã para problemas comigo. O beijo que roubei dela foi como um estalo em minha mente.
— O que há de errado comigo? — murmurei para mim mesmo, confuso.
Eu não conseguia entender a resistência que Kali tinha em relação a minha pessoa. Era como se ela tivesse medo de algo. A lembrança dos tapas que levei dela trouxe um sorriso involuntário ao meu rosto.
— Teimosa e forte. Interessante. — pensei, reconhecendo as qualidades de Kali.
A cada pensamento naquela mulher, eu me via sorrindo. Era algo que eu não conseguia explicar, mas que, de alguma forma, me intrigava. O mistério em torno de Kali era um desafio que eu estava começando a apreciar.
O sol brilhou na tarde californiana, deixando um rastro dourado sobre os jardins da mansão Bittencourt. Após um mergulho revigorante na piscina, sinto a água escorrer pelo meu corpo enquanto me dirijo para a entrada da casa. Meus pensamentos vagavam entre a presença inusitada de Kali e as complexidades da situação em que me encontrava.
No entanto, minha breve contemplação foi interrompida pela figura esbelta e implacável de Iolanda, minha madrasta. Seus olhos azuis, tão frios quanto o aço, analisavam cada movimento meu. Iolanda possuía uma beleza quase hipnótica, mas isso apenas escondia o coração cruel que pulsava dentro dela.
Iolanda usava um vestido que realçava suas curvas com perfeição. Minha madrasta era o retrato da elegância, mas sua expressão denunciava uma frieza perante a todos, excerto ao meu pai. Seus cabelos loiros caíram em cascata os ombros, e ela mantinha um porte impecável enquanto eu bloqueava a entrada.
A encontro ao cruzar a porta que dá acesso a piscina para a mansão, porém, ela bloqueou meu caminho com um olhar esnobe.
— Kevin, você não pode entrar assim! As empregadas acabaram de limpar a casa. — ela disse com uma voz suave, mas seu tom era autoritário, deixando claro que era uma ordem, não um pedido.
Um sorriso debochado permaneceu em meus lábios, enquanto eu a encarava.
— Lembre-se Iolanda, que você não é a dona desta casa. Você não tem autoridade alguma sobre mim! — a provoquei, ignorando completamente suas preocupações com o piso recém-limpado.
Subo as escadas e chego ao meu quarto, cansado. Porém, me deparo com uma bela surpresa que certamente me aguardava: Yonara era seu nome!
Yonara, a empregada mais deslumbrante da mansão, estava deitada em minha cama.
Seus longos cabelos loiros-escuros caíam em cachos delicados pelos ombros, emoldurando um rosto harmonioso. Seus olhos eram intensos, de um castanho profundo. A pele de Yonara era impecavelmente clara, destacando ainda mais suas feições marcantes. Seus lábios, naturalmente rosados, formavam um contraste suave em seu rosto.
O uniforme de empregada de Yonara, apesar de modesto, foi estrategicamente desabotoado, revelando uma sugestão sutil de sua beleza, e podia se ver uma parte de suas clavículas expostas.
— O que você está fazendo aqui? — questionei, visivelmente surpreso.
Com um sorriso malicioso, Yonara se levantou da cama e caminhou em minha direção. Ela me encurralou contra a porta, criando um clima caliente entre nós dois.
— Acho que cheguei num bom momento. Senti sua falta. — ela disse, tocando meu peito nu, com a voz cheia de desejo.
No entanto, as palavras de advertência de meu pai ecoavam em minha mente. Gentilmente, afastei suas mãos de mim, e a encarei com seriedade.
— Saia do meu quarto, Yonara. — ordenei, ignorando sua frustração óbvia.
Yonara era linda, e sempre estava lá por mim quando ficava entendiado com as outras. Mas meus pensamentos estão em outro lugar agora. Cuja mulher é tão bela quanto teimosa como uma mula. A qual chamou definitivamente a minha atenção:
— Kali. — murmurei.
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Acidentes do Coração
RomanceKevin, um rapaz rico e mimado, aceita uma aposta para conquistar qualquer garota, mas o destino o leva a Kali, uma moça trabalhadora e resiliente com um passado sombrio. O que começa como um jogo de poder, acaba revelando segredos dolorosos e uma bu...