Acidentes do Coração

Capítulo 10 - Heroísmo inesperado

KEVIN:

  Minha cabeça estava confortavelmente relaxada, eu estava deitado na cama, após tomar uma ducha rápida para tirar o cloro da piscina. Peguei no meu closet uma roupa mais casual: optei por uma camisa de linho branca, levemente aberta no colarinho, vesti uma bermuda de linho azul-marinho, e nos pés, um tênis branco.

  Ainda deitado na minha cama, zapeando sem muito interesse pelos canais da televisão, me deparei com uma notícia que sacudiu minha aparente monotonia. Luke Moore, meu amigo, alegava ter sido agredido por uma funcionária do restaurante que tínhamos ido mais cedo hoje.

  No meio daquela reportagem, ele alegou de um vídeo que estava circulando na internet. Imediatamente, peguei meu celular e fico espantado ao descobrir que a tal funcionária era Kali, a mesma mulher que encontrei mais cedo no restaurante e acompanhei-a até em casa.

  A surpresa me envolveu, mas a perplexidade cresceu quando soube que Kali já estava detida. Percebo pelas informações da reportagem que a tal delegacia que Kali está, ficava perto do bairro onde eles passaram hoje a tarde. Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. 

  Sem pensar, meu corpo se moveu apressadamente para pegar um casaco preto, peguei meus documentos e celular, saindo de casa sem explicar para onde estava indo, e quando vi, eu já estava dentro de um táxi a caminho da delegacia.

  — Como Kali, que parecia tão independente e ousada, poderia estar envolvida em algo assim? —  questionei mentalmente, enquanto as imagens do vídeo se repetiam na minha cabeça.

  Durante o trajeto, conflitos internos surgiam. Parte de mim queria acreditar na inocência de Kali, lembrando dos tapas que ela me deu mais cedo, mas foi porque eu a provoquei. 

  No entanto, a voz da razão ponderava sobre o que poderia ter acontecido e se havia mais a descobrir sobre aquela mulher misteriosa que intrigava meu coração. O táxi se aproximava da delegacia, e eu me sentia dividido entre a perplexidade e a necessidade de entender essa situação tão desconcertante.

  Ao chegar na delegacia, paguei o táxi, mas hesitei por um momento antes de entrar, mas a curiosidade me venceu. Logo, avistei Luke Moore, meu amigo, visivelmente alterado, trocando olhares embriagados comigo. 

  Sua expressão já denunciava que algo não estava certo. Acenei para ele e me aproximei, e Luke, entre palavras embriagadas, mencionou Kali, lançando as primeiras pistas sobre o que estava acontecendo.

  — Você não vai acreditar no que aconteceu com a garçonete do restaurante, cara. Ela foi presa! Aquela macaca da peste vai ter o que merece! — disse Luke com um sorriso malicioso.

  A perplexidade se transformou em raiva, à medida que a verdade começou a se desdobrar diante de mim, sem pensar, desferi um soco em Luke.

  — Desgraçado! — gritei furioso.

  Com a força do golpe, Luke ficou atordoado e recuou. Neste momento, policiais apareceram e nos seguraram. Minha vontade era de socar toda a cara de Luke, afinal, tenho certeza que foi ele mesmo que aprontou algo com a Kali, para ela ser presa. A discussão começou, e as palavras ásperas preenchiam o ambiente. Foi quando um homem se aproximou, se identificando como o delegado Anthony Brown, o  qual estava tentando trazer ordem ao caos.

    — Ok, ok! Vamos acalmar os ânimos aqui! Cada um vai contar sua versão da história, e vamos resolver isso direito. — declarou o delegado.

  Meu punho doía, não apenas pelo soco em Luke, mas pela confusão que estava se desdobrando. Sabia que precisava manter a cabeça fria para entender o que realmente aconteceu com Kali.

  Ao entrar na sala do delegado Anthony Brown, uma tensão imediata pairava no ar. A sala era simples, com uma mesa de trabalho bagunçada e algumas cadeiras. Eu precisava entender o que realmente havia acontecido com Kali.

  — Delegado Brown, o que realmente aconteceu com a garçonete do restaurante? — perguntei, tentando manter a calma. 

  O delegado explicou que Kali foi acusada de agredir  o Sr. Moore no restaurante. Segundo o delegado, ela foi pega em flagrante pelo dono do estabelecimento, o que resultou na demissão imediata.

  — Sinto muito, Sr. Brown, mas a história que Luke contou não bate com a versão da Kali. Eu conheço o Luke, nós somos amigos e sei o quanto ele gosta de exagerar na bebida. Percebe-se que ele está alterado alcoolicamente.

  — De fato, o Sr. Moore apresenta sinais de alcoolismo. Porém, há o dono do restaurante como testemunha do ocorrido sobre a garçonete ter agredido o seu amigo.

 — Preciso falar com a garçonete. Onde ela está agora? — questionei, preocupado.

  O delegado indicou que Kali estava na cela provisória. Eu pedi dez minutos a sós com ela, mas Anthony Brown quis entender a conexão entre mim e Kali. Engoli em seco e decidi inventar uma mentira para ganhar sua confiança.

  — Kali é minha namorada. Sou Kevin Bittencourt, filho do CEO da Diamond. Acredito que podemos resolver isso de maneira justa e rápida. — confessei, esperando que meu suposto status trouxesse alguma influência para libertá-la.

  Contudo, o delegado deu de ombros e revelou que naquela delegacia, títulos e status não contavam para fazer justiça. Eu percebi que teria que lidar com a situação como qualquer outra pessoa.

  Peço mais uma vez para ver Kali, e o delegado consente o meu pedido. Ele me levou até a cela onde ela estava, e ao abrir a porta, uma cena dolorosa se revelou diante dos meus olhos.

  Kali estava deitada no chão frio e cinzento da cela. Seus olhos estavam fechados, mas ainda podia-se ver resquícios de lágrimas em seu rosto e olhos inchados de tanto chorar. Então, Anthony abriu a cela, permitindo que eu me aproximasse dela. O delegado lembrou-me que eu teria apenas dez minutos para conversar com Kali. Eu assenti, agradecendo sua concessão, e entrei na cela, sentindo o ar pesado do lugar.

  — Kali... — chamei, com a voz suave, temendo assustá-la. 

  Ela ergueu lentamente os olhos, revelando um misto de surpresa e desânimo.

  — O que você está fazendo aqui? Veio tirar sarro da minha desgraça? — ela questionou, com a voz rouca e frágil.

  Vê-la naquele estado era de partir o coração. Mas eu precisava ser firme naquele momento e a única coisa que podíamos fazer, é agirmos como um falso casal diante de todos.