Capítulo 59 - Injustiçada

13 1 0
                                    

KALI:

  Enquanto termino de esfregar o chão da casa de Anthony, confesso que meus pensamentos estavam em outro lugar. Exatamente no tal homem misterioso que me deu o pendrive vermelho. 

  — Me pergunto que tipo de conteúdo têm dentro disso. — pensei inquieta.

  Mas, para ser sincera, a vingança não tinha mais tanta importância para mim. Então, eu decidi seguir em frente, deixar o passado para trás e focar em construir uma vida melhor para mim mesma.

  Após terminar as tarefas na casa do delegado, arrumo minhas coisas e me preparo para ir à empresa. Ao sair da residência, vejo meu ônibus parado no ponto e então, começo a correr em sua direção. Felizmente, o motorista me vê e para o ônibus para eu poder subir.

  Respirei aliviada e o agradeci. Procurei um cantinho vago para sentar, até encontrar um e fico ali esperando até chegar no meu ponto certo. Peguei meu celular dentro da bolsa e mandei uma mensagem para Kevin que daqui a quinze minutos estaria na empresa.

  De repente, percebi certos olhares incômodos sobre mim dentro do ônibus. Algumas pessoas me encaravam fixamente e rindo, deixando-me totalmente desconfortável. Tentei ignorar ao máximo aqueles olhares penetrantes e desviei meu olhar para a janela, guardando o meu celular de volta na bolsa. 

  No entanto, a sensação de ser observada persiste, o que só aumenta minha inquietação.

  — Que droga! — resmunguei baixinho.

  Olhei ao redor, procurando por algum rosto conhecido, alguém em quem eu possa confiar e pedir ajuda, mas todos pareciam estranhos. A ansiedade então toma conta do meu corpo e da minha mente, incomodada, decido confrontar aquela situação desagradável.

  Levanto-me de meu assento e, pergunto com a voz alta e indignada para todos que estavam ali presentes no ônibus.

  — Eu queria saber o que é tão engraçado em mim? Será que alguém pode me responder? — Tem algo de errado com a minha cara? — questionei.

  O  silêncio tomou conta do ar por um momento, e então, uma mulher de aparência mais velha se aproximou de mim e desferiu um tapa em meu rosto. Fico chocada e confusa, sem entender o motivo da agressão.

  — Por que você fez isso?! O que eu fiz de errado? — retruquei com raiva.

  A mulher visivelmente, com um olhar furioso, respondeu-me com amargura:

  — Você, mulher desavergonhada! Como ousa andar de transporte público com a cabeça erguida depois do que fez?! Estou insatisfeita com pessoas como você que não têm vergonha na cara! Prostituta!

  As palavras dela ecoaram por todo ônibus e logo, outras pessoas começaram a murmurar contra mim também, usando xingamentos como "vaca", "vadia", "puta" e outros comentários maldosos. Diante daquilo tudo, fiquei envergonhada e magoada, sem entender o que está acontecendo.

  No meio dessa confusão, um jovem universitário se aproxima e mostra um vídeo em seu celular, dizendo que a moça no vídeo sou eu. Com curiosidade e incredulidade tomo o celular das mãos dele e fico abismada ao ver a gravação completa.

  No vídeo, eu aparecia completamente sem roupa em uma situação tão comprometedora, e logo, percebo que era a minha transa com Kevin na noite passada. O rosto de Kevin estava distorcido, mas a imagem da moça estava nítida, e todos podiam ver que era eu. 

  Sinto uma mistura de raiva e tristeza percorrerem por minhas veias, pois eu não conseguia entender por que alguém faria isso comigo.

  — A câmera mostra claramente que foi filmado dentro do quarto dele... S-Será que ele tem algo a ver com isso? Será que eu caí de novo em sua armadilha? — pensei abalada.

Retorno meu olhar para meus julgadores, devolvo o celular para o universitário, no entanto, decido não me intimidar perante a eles.

  — Eu sei quem eu sou e não vou permitir que vocês definam a minha vida! — declarei determinada.

  Minha ousadia e persistência calaram momentaneamente eles, no entanto, as pessoas me olham com reprovação, e sem hesitarem, eles pegam o que tinham nas mãos e começam a jogar em mim, como tomates, ovos, bolinhas de papel, me xingando de tudo que é jeito, e mesmo tentando permanecer firme, por dentro eu me sentia usada, manipulada e destruída. 

Rapidamente, fiquei suja e melequenta dos pés a cabeça, até que puxei a cordinha do ônibus pedindo para descer. Ao sair do veículo vi pessoas me filmando e me difamando ainda mais. Para afastar aqueles maus pensamentos de mim, decidi andar sem rumo, absorta em meus pensamentos, até que me deparo com Luke, o amigo de Kevin.

  Percebo seu olhar espantoso sobre mim ao me encontrar naquele estado humilhante. Incerta sobre o que estava rolando, decido abordá-lo e pergunto:

  — Você tem algo a ver com isso?! Quero dizer, o Kevin, você sabe me dizer se ele fez isso comigo?! — questionei impaciente.

  Então, Luke baixou a cabeça e suspirou profundamente. 

  — Demorou um pouco, mas enfim você descobriu. — disse Luke, deixando-me pasma. — O Kevin só se aproximou de você para ganhar uma aposta em dinheiro. 

  Sinto meu coração afundar em meu peito com essa revelação chocante. Ele... Sempre ele! A pessoa em quem decidi confiar mais uma vez, por quem me apaixonei e me entreguei... Usou-me como um mero objeto em uma aposta cruel?!

  Estava completamente arrasada, como se o chão tivesse sido retirado sob meus pés de maneira brusca e impiedosa. Antes que eu pudesse processar tudo aquilo, percebo a presença de Kevin perto de nós. Seu olhar é frio e desprovido de qualquer remorso. Corro em sua direção, deixando Luke para trás, eu precisava confrontá-lo e ver com meus própios olhos o que acabei de ouvir.

  — O que seu amigo diz, é verdade? — indaguei seriamente.

  — Sim. Usei você para ganhar uma aposta em dinheiro. Você foi apenas um meio para um fim. Nada mais. — ele confessou indiferente.

  As palavras dele ecoaram por meus ouvidos, cortando-os como uma lâmina afiada. Senti tristeza, raiva e traição dentro de mim. As lágrimas logo começaram a escorrer de meu rosto, enquanto tentava formar frases para expressar minha dor e indignação.

  — Como você pôde?! Como ousou brincar com os meus sentimentos dessa forma?! Eu confiei em você, eu acreditei em você! — esbravejei.

  Porém, ele apenas dá de ombros, mostrando total falta de empatia.

  — Não significou nada, Kali. Era apenas uma aposta, nada mais, nada menos. — ele disse.

  — Eu nunca devia ter confiado em você outra vez! — declarei, desferindo um tapa merecido em sua face.

  — Já terminou? A propósito, está despedida. Eu não preciso mais dos seus serviços. — ele debochou maldosamente.

  — Desgraçado! — gritei, depois enxuguei as lágrimas com calma. — Você pode ter me usado, mas eu não irei permitir que os outros, muito menos você, me defina por quem eu sou. Nunca mais quero te ver!

  Fui uma tola! Fui uma tola em me apaixonar por ele e confiar nele. 

  Com a raiva ardendo em meu peito, desejo uma vingança ímplacável que reduza Kevin a nada e o faça sentir a mesma dor e humilhação que ele me causou!

 








Acidentes do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora