Nocaute - A profecia

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Lívia

24 de Abril de 2024
Vila Aurora
Zona Norte, São Paulo.

Dei mais uma olhada no J, deitado na cadeirinha de balanço dele, enquanto eu lavava a louça da cozinha e tentava fazer um almoço pra gente.

O pai dele?

Batendo em um saco de pancadas sem parar, lá na rua.

Até estranhei, porque ele tinha me dito que ia treinar hoje lá na academia, então não fazia sentido treinar em casa também.

Por sorte, o Jorge estava bem calminho , e eu pude fazer algo além de ficar agarrada pra tentar acalmar meu pacotinho.

Quando o almoço ficou pronto, o bebê acordou, mas ficou quietinho. Eu chamei o pai dele, que entrou, tomou um banho e depois veio pra cozinha comer.

Ele não falou comigo, ou com o Jorge. Mal olhou pra nós dois.

Lívia: O que tá acontecendo? - perguntei, antes de começar a comer.

O Thiago terminou de colocar o arroz no prato, e me olhou... acho que pela segunda vez naquele dia.

Thiago: Tu tá com esse negócio no olho de novo - ele comentou, meio bolado.

Eu até tinha conseguido ficar sem ela, em alguns momentos, na nossa casa. Mas hoje não me senti bem pra isso.

Lívia: Fala pra mim.

Ele respirou fundo.

Thiago: Não é nada, deixa quieto.

Lívia: Não vou deixar quieto, você tá estranho - eu reclamei. Ele desviou o olhar, encarando o prato.

Thiago: Vou te fazer uma pergunta.

Ele esperou que eu respondesse, mas eu continuei quieta.

Na minha cabeça, já começaram a passar várias e várias teorias. Eu sabia que alguma coisa estava incomodando ele.

Imaginei que fosse algo sobre o Gustavo, mas eu nunca mais soube nada sobre ele.

Thiago: Tu quer ser advogada e pá... e se pra ser uma advogada, tu precisasse ficar uns dias longe daqui, tu ficaria?

Não entendi nada.

Lívia: Longe de casa?

Ele me olhou.

Thiago: Longe de mim e do Jorge.

Larguei o garfo de volta no prato e me encostei na cadeira, pensando naquilo.

Lívia: Quanto tempo?

Thiago: Sei lá... quinze dias.

Eu neguei na mesma hora.

Ficaria longe do Thiago. Mas eu não conseguiria ficar todo esse tempo longe do meu filho.