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Thiago

02 de Abril de 2024
Vila Aurora
Zona Norte, São Paulo.

Molecote teve alta e nós saiu direto pra registrar ele e as parada tudo.

Depois, partimo pra casa. A dona loira ligou, falando que queria ir ver o neto, e a filha, mas que sabia que nesses primeiros momentos era complicado e pediu pra nós avisar quando ela e a família pudessem ir. E também pediu pra avisar se nós quisesse que fosse lá pra casa pra ajudar.

A Lívia sabia que a mãe nem podia ficar botando a cara pra fora do morro. Por mais que ela quisesse a mulher do Jacaré lá em casa, ela disse que tava bem tranquilo, pra não ficar colocando a família em risco, e disse que levava o J pra lá assim que fosse possível.

Era terça-feira, então quando nós chegou em casa, a minha mãe a Beatriz nem estavam na delas, porque tinham ido pro trabalho. Eu avisei o Cobra que meu filho nasceu, e tinha uma licença pra ficar uns dias com o moleque. Foi suave. A Lívia também ia ficar um tempo fora da faculdade, e a Allana assumiu a bronca do espaço delas, pra nós curtir nosso neném.

Eu peguei o Jorge no colo, pra Lívia conseguir descer do carro na moral. As malas eu podia pegar depois. Ela ainda tava meio com dor da cirurgia, e não se mexia tão bem. Pra evitar ficar subindo e descendo as escadas, ela entrou em casa e logo sentou no sofá, estendendo os braços pra eu entregar o bebê pra ela.

Lívia: Você tá acordado, neném - ela falou, dando um cheiro no cabelinho dele - Gostoso.

Thiago: Vou pegar as coisas no carro, morô?

Ela torceu o nariz com o jeito que eu falei, mas concordou.

Carreguei uma porrada de roupa e mala pro nosso quarto, e pro quarto do Jorge, e quando voltei pra sala, percebi que a Lívia tava chorando enquanto amamentava.

Caralho, que fita. Será que não tinha outra forma? Ele precisava comer, mas também não era maneiro ver ela chorando de dor.

Thiago: Que foi, pô? Tá com dor?

Ela me olhou e deu um sorrisinho fraco.

Lívia: Doí, mas eu nem ligo mais - sentei no sofá, do lado dela. A Lívia passou os dedos no rosto do J. Na bochecha, na orelhinha e no cabelo. Eu vi o olho dela se enchendo todo de novo - Não sei explicar.

Porra... me desmontou todo.

Thiago: Nem eu.

Era difícil de acreditar que aquilo tava acontecendo de verdade. Que meu filho tava ali, que a Lívia tava ali. Que nós era uma família, pô.

Esses momentos eram foda, a gente tava meio fora do planeta desde que o Jorge chegou. Pique que nós nem tinha o que falar direito. E a Livia sempre tinha o que falar, em outras horas.

Lívia: Quando estava grávida eu sabia que amava ele, mas não sabia que seria ainda mais forte depois de ter ele aqui - ela respirou fundo - Caramba, eu só sei chorar.

Eu ri e dei um beijo no pescoço dela.

Thiago: Me fala quando for pra pegar ele.

Lívia: O que você vai fazer? - perguntou.

Tinha o negócio que a enfermeira mandou fazer, da tabela de remédios e vitaminas que a Lívia tinha que tomar, mas acho que ela nem lembrava da parada.

Me levantei e peguei a folha de um caderno, tirando o celular do bolso e apoiando encima da bancada pra escrever as fita de nome dos remédio e das horas.

Thiago: Aquela coisa dos teus remédios.

Ela ficou quietinha, demorou pra falar alguma coisa. Depois que o J terminou de encher a barrigona dele, a Lívia se levantou e veio pro meu lado, se esticando toda pra ficar de grude comigo.

Lívia: Seu gostoso.

A desgraçada passou o nariz no meu pescoço, e eu fechei os olhos, respirando fundo.

Thiago: Sai, tu nem pode.

Lívia: Já começou a contar os dias?

Pô, com certeza. Mas não ia falar isso pra ela. Ia ser foda ficar esse tempo todo sem transar, ainda mais que agora no final da gravidez ela já tava cheia de dor e nós nem aproveitou como queria. Eu tinha só que aceitar e esperar o tempo dela ficar daora de novo.

Não queria que ela pensasse que eu ia ficar doido sem transar. Mas acho que eu ia. Ainda mais agora que o sentimento que eu tinha por ela pareceu virar umas vezes maior.

Eu tentei deixar ela tranquila.

Thiago: Eu não, fica suave.

Ela riu.

Lívia: Eu sim.

Olha, que Deus me desse muita paciência, porque essa garota adorava testar o meu juízo, e nesse caso nem podia.

Eu terminei de anotar as coisas da Lívia, e depois peguei o Jorge no colo. Eu falei pra ela ir pro quarto pra descansar um pouco, mas ela só foi depois que o Jorge dormiu, e ainda me arrastou junto. O moleque nem ficou no berço dele, que por enquanto tava no nosso quarto. A Lívia botou logo ele nos braços, e se ajeitou pra dormir daquele jeito.

O cansaço bateu legal. Eu tomei um banho, e deitei junto com eles pra dormir também.

Quando o Jorge acordou, a Lívia acalmou ele e o menor ficou quietinho, deixando nós dormir mais um pouco.

Quando deu meio dia, tive que ir fazer alguma  parada pra nós comer e ela ficou com o neném.

Parada tava intensa. Sem dormir direito e a correria fodida. Um olho nele, outro na Lívia. Tava suave, eu sabia que ia rolar mudança quando o J chegasse, e valia a pena tudo isso, pra ter esse moleque junto de nós.

Nocaute - A profeciaOnde histórias criam vida. Descubra agora