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LYA QUILLAN

San Angel, México
08 de Janeiro de 2017

Tudo estava ótimo até eu escutar meu irmão falar, ou melhor, gritar algo incompreensível. Olho para a porta e lá está ele, vestido no uniforme da escola. Pego meu celular e vejo que são 06:20 da manhã; geralmente sou eu quem acorda meu irmão, mas por algum motivo que não consigo entender, hoje ele se levantou mais cedo. Suspeito! Levanto e jogo uma almofada de coração nele.

- O que aconteceu? - pergunto.

- Nada, só não posso mais acordar a minha irmãzinha? - responde ele, com um tom desdenhoso. - Bom dia também, Sr. Quillan.

- Bom dia, Draven. - digo enquanto me levanto.

- Se arrume, porque hoje vamos com o Icarus para a escola! - ele diz, saindo do quarto.

"Icarus, ouvi direito..."

Fecho a porta com um leve estrondo e sigo diretamente para o banheiro ao ver a banheira já preparada, cheia de água morna e pétalas vermelhas que flutuam suavemente, perfumadas com essência de baunilha e morango. Um toque inesperado de cuidado em meio ao caos que se instalou em casa.

- Draven, quem fez isso? - pergunto, um pouco intrigada.

Depois de um banho relaxante, seco meu corpo e separo meu uniforme, colocando-o sobre a cama junto com minha tiara de brilhos e pérolas. Um toque de glamour para contrastar com o ambiente opressivo. Pego minha mochila preta, onde estão alguns acessórios que costumam me fazer sentir mais confiante, e desço para a sala de jantar.

(...)

O café da manhã já está à mesa, uma cena que deveria ser reconfortante, mas que agora só me causa uma leve tristeza. Pego algumas uvas suculentas e morangos frescos, além de uma pequena torrada com geleia de damasco. Enquanto isso, Draven se entedia, mastigando um pão enquanto mexe no celular, completamente alheio ao que acontece ao nosso redor.

- Larga o celular, Draven! Estamos fazendo uma refeição - diz mamãe, sua voz carregada de frustração. - Bom dia, Lya. Dormiu bem?

Assinto com a cabeça enquanto mordo um pedaço da torrada, tentando ignorar a tensão no ar.

- Eu não estou comendo mais - declara meu irmão abruptamente, largando a torrada como se fosse veneno.

- Mas eu, seu padrasto e a Lya estamos! - ouço a raiva da nossa mãe ecoar pela casa como um trovão.

O clima aqui só tem piorado. A perda do meu pai há um ano ainda pesa como uma âncora no meu peito. Mamãe nem passou pelo luto; parece que ela simplesmente decidiu seguir em frente - ou tentar substituir o que foi perdido - trazendo outro homem para dentro de casa. Arthur é uns quatro anos mais novo e não consegue esconder o olhar avaliativo sobre mim.

Sr. Thomas é insubstituível!

Draven se diverte atormentando nossa mãe todos os dias; aliás, esse é seu passatempo favorito. O sorriso sarcástico dele é quase insuportável.

E quanto a Arthur? Não suporto aquele homem. Ele me observa como se eu fosse uma prostituta à espera dele, com aqueles olhos nojentos que me fazem sentir exposta e vulnerável. Cada olhar dele é como um toque indesejado na minha pele.

Enquanto me forço a engolir minha torrada, percebo que essa casa não é mais um lar; é apenas um palco onde todos desempenham seus papéis em uma tragédia familiar sem fim.

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