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❝ É errado demais simplesmente querer outra pessoa? ❞

─ Raquel "através de mi ventana"

LYA QUILLAN

Cancún, México
12 de janeiro 

Exatamente dois dias nessa merda de hospital, e lá fora as folhas dançam ao som da chuva que não para de cair. O ambiente é triste, mas a expectativa de liberdade me faz sentir um pouco melhor.

Um homem alto, vestido com um enorme jaleco branco, entra no quarto. Ele se apresenta como "Doutor Gabriel". Com um olhar atento, ele checa minha temperatura e retira o soro que finalmente acabou.

Sinto a agulha sendo retirada do meu braço e, de repente, sua voz suave corta o silêncio.

— Pode ir pra casa, você está bem melhor.

A alegria explode dentro de mim. Finalmente! Minha expressão se ilumina como se o sol tivesse saído em meio à tempestade. Ele sai do quarto levando algumas coisas, e eu mal posso esperar para ligar para alguém.

Pego meu celular que estava ao lado da cama e discar o primeiro número que me vem à mente: Icarus.

Após alguns segundos que parecem uma eternidade, ele atende com a voz rouca.

— O que quer agora, Lya?

Como ele sabe que sou eu? Às vezes, parece que ele pode ler minha mente.

— Pode pedir para o meu irmão vir me buscar? Bjs. — desligo rapidamente antes que ele tenha tempo de responder.

Começo a arrumar minhas coisas na pequena mochila rosa com o urso que Draven me deu nos últimos dias. Cada item guardado traz uma lembrança; é quase terapêutico.

(...)

Ao chegar na portaria, ouço o ronco familiar do carro do meu irmão. A porta se ergue e eu entro, sentindo aquele cheiro característico que só ele tem.

Icarus? O que ele está fazendo aqui?

Ele me olha com um sorriso cínico nos lábios, e não posso deixar de revirar os olhos.

— Entra logo — ele manda, como se estivesse no comando.

Entro no carro e sinto o aroma dele impregnado em todos os cantos. Claro, o carro é dele.

— Cadê meu irmão? — pergunto, tentando disfarçar a preocupação na voz.

— Ele não está aqui — responde Icarus com risadas convencidas.

— Haha, arrasou — retruco sarcasticamente enquanto cruzo os braços e olho pela janela.

Paramos em um lugar com um nome duvidoso: Sorveteria? Olho para o relógio no meu celular; são exatamente 14:00 da tarde. A fome aperta no estômago junto com a ansiedade de estar de volta ao mundo lá fora.

Vejo Icarus saindo da sorveteria carregando duas casquinhas — ou melhor, cascões. Ele me entrega uma com sabor de chocolate e seu olhar desce até as minhas pernas, onde os cortes ainda são visíveis e dolorosos.

— Tá bem? — pergunta ele, sua expressão mudando para uma preocupação genuína.

A resposta fica presa na minha garganta por um momento. Sinto a mistura de emoções: a alegria por estar livre do hospital e a dor persistente das memórias ainda frescas.

— Vou ficar bem — finalmente digo, tentando soar mais confiante do que realmente estou. Mas dentro de mim, a luta continua.

Admiro a consideração que Icarus teve nos últimos dias. Nunca o vi tão atencioso antes, e isso me surpreende.

— Sim, podemos ir logo para a minha casa? — pergunto, e percebo que ele muda totalmente o caminho.

— Vamos para a minha casa! — ele confirma, e meu coração se aquece com a ideia de um novo lar, mesmo que temporário.

(...)

Ao chegarmos, tia Victória me recebe com um sorriso caloroso, como se eu fosse parte da família. Ela rapidamente ajeita um quarto especialmente para mim, e sinto uma onda de gratidão.

A casa deles é enorme, com três andares, mas fico no mesmo andar do quarto de Icarus por segurança. Ao entrar no meu novo espaço, não posso deixar de me impressionar. O quarto é todo branco, com uma penteadeira delicada e um closet gigante já preenchido com minhas roupas organizadas em cabides pretos.

O banheiro é um sonho: uma banheira luxuosa e um box amplo. As janelas enormes oferecem uma vista deslumbrante do jardim de rosas na frente da casa, e as cortinas rosa bebê acrescentam um toque suave ao ambiente. E aquela cama? Gigantesca e convidativa!

— Obrigada por tanto, tia — digo sinceramente enquanto abraço Victória.

— Você merece, princesa — ela responde carinhosamente, dando um beijinho em meus cabelos antes de se retirar. — Vou me retirar; sinta-se à vontade.

Assinto com gratidão enquanto vejo ela fechar a porta preta atrás de si.

Depois de um dia tão intenso, decido tomar um banho relaxante. Sinto a água quente escorrendo pelo meu corpo cansado, limpando não só a sujeira física, mas também algumas das preocupações que me acompanharam nos últimos dias.

Após o banho, escolho uma calça de moletom confortável e um cropped que tem um pequeno decote. Coloco as pantufas que usei no hospital; são confortáveis e trazem uma sensação de lar.

Desço as escadas rapidamente e dou de cara com Icarus. Ele está sem camisa, usando apenas uma calça moletom que destaca suas pernas malhadas. A visão é tão impactante que fico paralisada. É como se o tempo tivesse desacelerado.

Nossos olhares se cruzam; os dele me avaliam de cima a baixo com uma intensidade que me faz sentir exposta e ao mesmo tempo viva.

— Pode sair da minha frente? — ele pergunta com uma expressão neutra.

Minhas bochechas queimam enquanto sinto a vergonha tomar conta. Meu corpo se torna uma pedra; não consigo dar nenhum passo.

— É, é… ok — finalmente consigo dizer, abrindo espaço para ele passar.

Ele passa por mim com uma garrafa de água na mão enquanto continuo descendo as escadas, perdida em meus pensamentos.

Eu deveria ter beijado ele. Essa ideia martela na minha mente como um eco persistente. O momento estava ali; a química entre nós era inegável. Mas o medo sempre foi meu maior inimigo.

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