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DRAVEN QUILLAN

Cancún, México
00:30h

Assim que recebi a notícia de que encontraram minha irmã, peguei meu carro e saí em busca do local, acompanhada pelos Zephyr. A Lya estava em um canto isolado, longe do centro de Cancún, cercada por casas verdes com janelas de madeira que pareciam gritar histórias de dor e perda.

Perder minha irmã para uma facção seria a pior coisa que poderia acontecer. Não apenas pela brutalidade da situação, mas porque essa era a mesma facção que levou meus pais para sete palmos abaixo da terra.

A facção de Arthur Blosson.

Lembro do dia em que vi meu pai dentro de um caixão aos 16 anos; foi traumatizante. Ele foi o único que realmente me amou naquele inferno disfarçado de lar. E Lya também me amou. A ideia de perder isso novamente me consome.

Icarus acelera, fazendo o motor rugir como um monstro faminto enquanto atravessamos a pequena cidade. O som ecoa, como se estivéssemos desafiando os fantasmas do passado a se revelarem.

Essa cidade pode ser pequena, mas carrega significados secretos nas sombras que cercam cada esquina. Olho para Icarus à frente, sua Lamborghini reluzindo sob a luz fraca do entardecer. Logo avisto Keldan, o irmão mais velho, passando por nós e levantando o dedo do meio em um gesto provocador — uma chama acesa em meio à escuridão.

É como se estivéssemos em uma corrida mortal, competindo para ver quem consegue salvar Lya primeiro.

Estacionamos os carros antes da casa quando ouço dois tiros ressoando na mata. Zion.

Viro o olhar e vejo Zion estourar a cabeça de um dos homens armados perto da porta. Ele é inusitado; por trás daquele semblante de bom moço se esconde um verdadeiro psicopata, pronto para eliminar qualquer um que ame com uma frieza assustadora.

Icarus arromba a porta branca e antiga com um único chute, como se estivesse quebrando as correntes do passado. Saio do carro e olho ao redor da casa; o silêncio é ensurdecedor. Não vejo nenhum dos capangas de Arthur. Eles devem ter fugido.

Deixei Arthur amarrado no fundo do porão da nossa casa, cercado pelos capangas profissionais de Keldan. Keldan comanda uma facção que tem os melhores atiradores do México.

E Zion? Com certeza ele foi treinado para isso.

Matar é seu ponto forte?


Vejo Icarus sair da casa carregando Lya, que está ensanguentada, seu vestido com um decote profundo revelando a fragilidade de seu estado. O coração aperta ao ver a dor estampada em seu rosto.

Logo em seguida, ouço mais dois disparos. Viro-me rapidamente e vejo Zion furar o corpo do homem caído no chão, cada golpe uma afirmação de sua brutalidade. A cena é grotesca, mas não consigo desviar o olhar.

Lya chora como uma criança de cinco anos, e pela primeira vez, percebo quão vulnerável ela realmente é. Uma parte de mim deseja que nosso pai estivesse aqui; ele não hesitaria em matar todos que fizeram isso com ela. Mas ele está morto.

Então sou eu quem fará isso.

Entro em meu carro e arranco do local, passando por entre os matos que cercam a casa. O carro de Icarus passa voando ao meu lado, quase como se estivesse desafiando a gravidade.

— Minha hermana, hijo de puta! — grito, as palavras misturadas pela preocupação que me consome.

(...)

Entramos no coração de Cancún e vejo o carro de Icarus se afastar do caminho que leva à nossa casa. Decido segui-lo.

O carro para no hospital principal de Cancún. Assim que estaciono, vejo Zion sair com Lya nos braços, desacordada. Um frio percorre meu corpo.

— Lya? — minha voz falha enquanto sinto meu peito arder. Pela primeira vez, a vontade de chorar surge como uma onda avassaladora. Estaciono rapidamente e entro correndo.

(...)

Lya está deitada em uma cama com lençóis brancos e azuis, seus olhos perdendo o brilho. Trouxemos roupas para ela vestir; seu vestido está em estado de calamidade.

— Como me acharam? É quase impossível encontrar essas máfias — pergunta Lya, sua voz fraca quase um sussurro.

— Nada é impossível para nós — responde Zion, envolvendo-a em um abraço protetor.

Ela parece tão frágil quanto é; seus olhos estão vermelhos e suas bochechas têm cortes visíveis. O som da porta se abrindo chama minha atenção; Icarus entra com uma bandeja de sopa na mão esquerda e sacos de comida mexicana na direita.

— Trouxe sopa para você — diz ele, colocando a bandeja sobre as pernas de Lya.

Ela balança a cabeça, afastando a bandeja dos ferimentos expostos.

— Você precisa comer — insisto, a preocupação transparecendo na minha voz.

— Eu não quero! — Lya responde com um tom cansado e determinado ao mesmo tempo.

Tento levar uma colher da sopa até a boca de Lya, mas ela recusa com um movimento brusco. O silêncio na sala é pesado, e a preocupação aumenta.

— Lya, eles te abusaram? — exclamou Keldan, sua voz cortante como vidro.

Vejo a cabeça de Lya balançar negativamente, mas seu olhar diz tudo. Sua expressão muda, e não parece estar preocupada; há um traço de nojo em seu rosto que me deixa inquieto.

— Na verdade, não lembro! — afirma ela, a voz tremendo levemente. — Lembro apenas de ter encontrado um velho com cabelos grisalhos que tem o mesmo rosto que o de Arthur. Depois... eles me bateram e me trancaram em um quarto escuro que mais parecia uma cela.

— Acho melhor levá-la ao ginecologista — sugere Keldan, sua preocupação evidente.

— Não precisa, sei do que estou falando! — Lya se levanta da cama, arrastando o soro que está preso ao seu braço.

Ela está vestida com um short preto e um cropped rosa, coberta pela jaqueta de Icarus. Nos pés, pantufas de coelhinho rosa fazem dela uma princesa em meio ao caos.

Ela avança em direção a Keldan, apontando o dedo na cara dele com uma determinação feroz.

— Acha que estou mentindo? — pergunta ela, quase tocando o nariz dele com a ponta do dedo.

— Não, senhorita — responde ele, levantando as mãos em rendição e mantendo um sorriso provocador no rosto.

Lya volta para a cama e se senta, olhando para a janela onde respingos de chuva desenham caminhos nas vidraças. O som da água caindo parece ecoar seus pensamentos confusos e dolorosos.

O ambiente é denso; cada um de nós sente o peso do que aconteceu. É como se estivéssemos esperando por respostas que não podemos dar. A fragilidade dela contrasta com a bravura que tenta mostrar.



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