Capítulo 2

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• Maiara Pereira •

Filomena: Linda! Esplendorosa! — exclamou ao me ver em um dos seus vestidos.

Depois de me convencer a passar um pó, que deixou minha pele opaca, penteou meu cabelo com uma escova rotativa e me fez pôr um vestido de renda cor de rosa até o joelho, que me fazia parecer ter o dobro da minha idade, junto de uma sandália de salto meia pata.

Se eu me conhecia, jamais diria a ela que não gostei; não queria desapontá-la.

Naquele momento, minha vontade era de cavar um buraco na terra e me enfiar nele, ainda mais depois que descobri que a festa não seria na sua mansão. Sra. Filomena sempre fazia as festas em sua casa, mas deu a desculpa de que os amigos do seu filho eram fanfarrões demais e preferiu alugar o salão de um hotel.

Filomena: Gostou? Agora falta um batom vermelho... — continuou, enquanto abria as gavetas da sua enorme bancada de maquiagens cheia de produtos caríssimos.

Maiara: Precisa mesmo de batom? Eu não gosto muito dessas cores que chamam atenção..., sabe?

Filomena: É claro que precisa! Nem que seja um hidratante labial com cor. — Sem nem me perguntar, abriu o pequeno tubo e passou em meus lábios, como se eu fosse uma boneca em suas mãos.

Ela já trajava um vestido preto bem justo, que contrastava em sua pele branca e quadril avantajado. Seus cabelos lisos e pretos estavam soltos, assim como os meus.

Me levantei para me olhar no espelho e o resultado não era tão ruim. Se não fosse o vestido de terceira idade, eu iria arrasar; era de um modelo que jamais compraria, mesmo se tivesse todo o dinheiro do mundo, em especial por ser de renda. Para mim, o famoso tecido só funcionava em noivas e em ninguém mais.

Maiara: Eu vou... com a senhora? — Negou com a cabeça de imediato.

Filomena: Os velhos vão para o jantar mais cedo, você vai depois com a Taty, a prima do Fernando. Ela virá te buscar assim que a sua aula acabar. Coma alguma coisa nesse meio-tempo. Haverá petiscos e bebidas para os jovens na festa. — Com tranquilidade, penteando seu cabelo em frente ao espelho, decidiu me informar que nem com ela eu iria.

Céus.

Maiara: Se não vou com a senhora, prefiro n... — Levantou a mão para me interromper.

Filomena: Nem tente desistir. Você vai cumprir as promessas que fez para Almira e eu também. Uma jovem de vinte anos precisa sair e conhecer pessoas.

Em conflito, olhei para o chão, pensando que sairia com uma estranha, para uma festa em um hotel cheia de outros jovens desconhecidos. Sim, eu iria, mas pensava nas inúmeras desculpas que daria para não ir à próxima, se houvesse. Algo que ecoava na teia dos meus pensamentos era qual a exata promessa que ela havia feito à minha mãe.

Maiara: Qual promessa você... fez?

Ela sorriu.

Filomena: Ela disse para eu te incentivar a viver a vida, ter experiências, e eu prometi que o faria. Você já me negou vários passeios, mas sabe que não pode se negar a ir à festa de boas vindas do meu amado filho.

Acreditava na Sra. Filomena por dois motivos: ela sempre se provou honesta e sempre foi a vontade da minha mãe que eu usufruísse de maneira saudável, da juventude que ela não pôde aproveitar devido à gravidez na adolescência.

Maiara: Seu filho não vai se importar de ter uma empregada na festa dele? Eu nem mesmo o conheço.

Seus olhos se arregalaram.

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora