Capítulo 37

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• Fernando Zorzanello •

Minha mãe se chocou quando contamos a ela que Maiara foi a cuidadora do Nero. Só não houve drama pela partida antecipada porque o motivo principal era o velório. Roze e, infelizmente, o merdinha do Gustavo, também participariam dele.

Se eles esperavam que a Maiara voltasse a morar em Poços de Caldas, poderiam esperar sentados de maneira bem confortável, porque a espera seria eterna. E como eu tinha tanta certeza? Bastava fazer uma simples análise considerativa:

Eu não entrava em uma partida se não fosse para sair com o troféu de ouro. Maiara nunca deixou de ser minha. Uma das formas de perdê-la era se nossos sentimentos não fossem recíprocos, mas até os cachorros da rua notariam meus olhos apaixonados. A outra maneira seria se eu a desrespeitasse ou maltratasse, coisas que eu jamais faria.

Maiara se amava demais para aceitar quaisquer migalhas;

E tudo bem, estava disposto a ser abundante.

A curta viagem para a São Paulo não foi alegre. Se aproximava o momento de se despedir do seu grande amigo. Ver suas antigas colegas de trabalho a animou um pouco, ao menos.

Nunca havia visto Nete dar um sorriso tão amplo em todo o tempo que esteve trabalhando conosco. A única funcionária que não se alegrou ao ver a minha garota foi Suzana e me perguntava o porquê.

Quando segurei Maiara pela cintura e lhe dei um beijo na testa, enquanto conversava com a sua antiga amiga, o olhar de Suzana acompanhou os gestos com mistura de desdém e desapontamento.

Peguei Felipe no colo e ele me direcionou um olhar questionador. Me curvei para próximo ao seu ouvido para revelar o plano:

Fernando: Vou levar você para conhecer o cinema, mas a mamãe não pode saber — sussurrei.

Felipe: Por quê, papai? — Entrou na onda, sussurrando também.

Fernando: Porque vou mostrar pra ela depois.

Felipe: Tá bom.

Saí de fininho para atravessar a sala em direção ao elevador. O cinema ficava no andar subterrâneo. Ao passar pela escada larga e atapetada, bem mais segura do que a da casa dos tios da Maiara, achei pertinente ter uma conversa sobre esse tipo de perigo.

Fernando: Filho, você nunca pode subir ou descer essa escada correndo. Também precisa apoiar a sua mãozinha aqui. — Apontei para ele o corrimão.

Felipe: Pra não caí?

Fernando: Isso.

Felipe: Mamãe disse que faz dodói.

Fernando: Exatamente.

Caminhei com ele até o elevador e segurei a sua mão para apertar com o seu dedinho o botão. Ele tirou o dedo, achando o bipe engraçado, pois se pôs a rir. As portas se abriram e ele olhou para tudo com muita curiosidade.

Fernando: Esse botão vai para o andar de baixo e esse para o andar de cima. — Mostrei a ele no painel. — O cinema fica no de baixo.

Ele apenas assentiu, deslizando os olhos pelas paredes e espelho. Me perguntava no que ele deveria estar pensando. Suas sobrancelhas arquearam quando o elevador fez o seu caminho. A porta se abriu e entrei com ele na primeira entrada do corredor, onde se instalava o cinema.

Além da tela projetada de cinco metros, o espaço contava com largas poltronas e suportes para alimentos, individuais. Coloquei-o no chão e ele se apressou para subir na poltrona do meio, da primeira fileira.

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora