Capítulo 7

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• Fernando Zorzanello •

Em um estado de extrema tensão e vestindo apenas uma calça de moletom, ignorei o elevador da mansão e desci as escadas correndo. Ao chegar lá embaixo, vi a minha mãe sentada no extenso sofá modular, debulhando-se em lágrimas enquanto segurava um pedaço de papel nas mãos trêmulas. Com a potência da raiva apossada do meu corpo, eu seria capaz de desferir golpes em quem quer que a tenha feito chorar.

Agachei-me em sua frente, segurando seus ombros. Funcionários da casa que eu nunca havia visto nos cercavam, visivelmente assustados.

Fernando: O que aconteceu? — Forcei seu queixo para cima e seus olhos eram os de alguém em completo desespero. — O que fizeram com você?

Filomena: Filho! — berrou, entrando em mais uma crise de choro. Me abraçou, jogando os braços sobre os meus ombros, e chegou até a soluçar. Encarei os funcionários às costas da minha mãe com um olhar mortífero. Todos arregalaram os olhos como se dissessem: nada temos a ver com isso.

Veríamos.

Fernando: Me fale agora o que houve ou farei a caça às bruxas nessa casa até descobrir quem te fez chorar!

Filomena: Quem me machucou já se foi... — Afastei-me do abraço e ela esfregou os olhos, borrando o lápis preto.

Fernando: Quem?

Filomena: Maiara... — Fungava como uma criança que acabou de perder o brinquedo favorito.

Fernando: Quem é Maiara?

Filomena: Minha funcionária, filho. Ela foi embora e me deixou! Me deixou!

Não acreditei quando ela enfim revelou o motivo do desespero.

Fernando: É só arrumar outra.

Seu rosto se franziu, mostrando que ficou ofendida.

Filomena: Não! Eu a amo como filha!

Entendi com aquela fala que eu não tinha direito de julgá-la. Ela ficou sem mim por muito tempo. Acovardei-me ao não segurar a sua mão no seu processo de luto, mal conseguindo lidar com a minha própria carga emocional. Não sabia nem como alcancei o primeiro lugar entre os melhores formandos.

Talvez tenha me dedicado em excesso aos estudos para tentar aliviar a dor de perder o meu pai, meu melhor amigo, o homem no qual eu me espelhava. Meu espelho havia se quebrado. Perdi a visão da minha própria imagem e consciência da minha identidade como ser humano.

Me perdi, até voltar para onde deveria ter ficado quando a tragédia aconteceu: ao lado da minha velha.

Precisava ter paciência para aquele drama. Em vez de questioná-la, ofereci meu afago e minha companhia. Quem era eu para duvidar da sua dor? Subi com ela pelo elevador apenas para deixá-la tomando um banho. Desci outra vez em busca de um chá calmante.

Várias funcionárias estavam na cozinha. Uma delas, me olhava com pavor, enquanto as outras duas me olhavam de cima a baixo com certa cobiça em suas feições.

Fernando: Boa tarde, sou o Fernando. Qual é o nome das senhoras?

Suzana: Suzana! É um prazer. — A mais alta se aproximou, oferecendo a mão. Aceitei, para não ser indelicado. — Essa é a Tamara — apontou para a outra —, e essa é a Nete.

Fernando: Irei esquecer o nome de vocês e eventualmente perguntarei outra vez, mas não é por mal. Não sou bom em memorizar nomes, apenas artigos — brinquei, para aliviar a tensão. Nem teve muita graça, mas Suzana fingiu uma gargalhada. Limpei a garganta. — Quem de vocês pode me auxiliar a fazer um chá calmante para a minha mãe?

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora