Capítulo 14

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• Maiara Pereira •

5 meses depois

Minhas tardes com o Nero, que carinhosamente comecei a chamar de Nenê, comendo pão caseiro com doce de leite, estavam me custando caro e vários quilos a mais. Hoje seria divertido. Me lembrei de que, há meses, comecei a escrever um diário e queria ler algumas partes para ele. Buscava em meu humilde guarda-roupa de madeira uma peça para ir trabalhar e as que serviam por serem mais soltas estavam todas sujas.

Frustrada, abandonei a calça jeans que não fechava mais na minha barriga e peguei uma legging, que já estava no cesto de roupas sujas. Quando a aproximei do nariz, percebi que ainda estava cheirosa. Por genética, eu suava pouco, então minhas roupas não fediam.

Tinha todas as bactérias do dia em que usei, eu sabia disso, mas não havia escapatória. Vesti uma das minhas camisetas pretas e largas que eu amava, peguei meu diário e calcei o meu tênis branco. Com o cesto de roupas sujas nas mãos e o diário embaixo do braço, desci as escadas, encontrando minha tia com um sorriso aberto.

Maiara: Bom dia, tia! Qual o motivo desse sorriso?

Ela apontou com o rosto para o sofá.

Havia uma cesta de café da manhã bem grande nele. Deixei o cesto aos pés da escada e me aproximei. Pelos corações na embalagem e o laço vermelho, parecia ter vindo de alguém apaixonado.

Áurea: Adivinha para quem é?

Maiara: Tio João mandou pra você?

Balançou a cabeça, negando.

Áurea: Claro que não, minha filha. Fiz o motoboy me contar, foi o Gustavo que mandou pra você.

Maiara: O Gustavo?

Áurea: Sim. Tem o cartão.

Mordi os lábios, apreensiva, e peguei o cartãozinho branco colado ao lado do laço.

"Feliz aniversário para a garota mais linda de Poços de Caldas.
Eu amo você.
Do seu Gustavo."

Fui capaz de me esquecer do meu próprio aniversário. Eu me esqueci, mas ele não. Fiquei em silêncio por um momento, ainda chocada por ele ter se lembrado da data, mesmo depois de tantos anos. Em tempos de Facebook, que avisava sobre o aniversário dos seus amigos, não seria nada demais, mas eu nem mesmo tinha redes sociais.

Áurea: Maiara? — tia Áurea me chamou para a Terra.

Maiara: É meu aniversário. Eu tinha me esquecido, mas o Gustavo não.

Áurea: Filha! Perdão! Eu também esqueci! — Se apressou para me abraçar.

A notícia se espalhou pela casa e, além do meu tio, recebi felicitações da ajudante da minha tia. A mercearia estava evoluindo e a clientela havia aumentado, então foi necessário contratar uma funcionária.

Abri a minha cesta linda, com tudo que eu mais amava dentro: pães doces, lanches naturais, cookies, suco de uva de caixinha, chocolates Amandita, Bis branco. Não tinha tempo de tomar café com calma, então ofereci os produtos para as pessoas e peguei o lanche natural, junto do suco de uva, para comer no caminho do trabalho.

Coloquei os pés para fora de casa e a melancolia me bateu. Minha mãe sempre fazia o meu bolo favorito no meu aniversário: fubá com goiabada. Mesmo que estivéssemos trabalhando, ela garantia que o meu dia fosse especial.

Que eu me sentisse amada.

Peguei o lanche da sacolinha e comecei a comer enquanto eu andava, segurando as lágrimas que ameaçavam escorrer. Tirei meu celular do bolso e não só o Gustavo havia se lembrado. Roze me enviou uma sequência de mensagens como as que mandava todos os anos, me fazendo prometer que sairia com ela depois do trabalho.

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora