• Maiara Pereira •
Meus olhos estavam inchados de tanto chorar ao ouvir o Felipe falar sobre o pai. Se eu fosse sozinha no mundo, me trancaria no quarto e continuaria colocando tudo para fora até não me restarem forças e o sono viesse por exaustão. Não podia. Eu tinha um filho lindo, e que de nada tinha culpa, para cuidar. Preparar o jantar, dar banho e cantar suas canções de ninar favoritas até que pegasse no sono.
Soltei o cabelo, deixando as mechas pesadas e repicadas caírem pelas laterais do meu rosto para tentar esconder o inchaço. A vermelhidão na ponta do nariz e nos olhos não era possível disfarçar e não poderia me esconder até desaparecerem por si só.
A casa estava silenciosa, indicando que todos já haviam ido embora. Nenê pediu que eu tirasse um tempo para esfriar a cabeça e me tranquilizou ao dizer que brincaria com o Felipe na área dos fundos.
Um tipo de alívio diferente e certa calmaria me atingiram assim que avistei Nero, sentado em uma das cadeiras de balanço, aos risos com meu filho em uma de suas pernas. Seus dois bonecos favoritos, presentes dele, estavam um em cada mãozinha. Felipe os chocava, como se estivessem em uma batalha.
Vê-los felizes, ali, era quase uma anestesia para o meu coração culpado. Escolhi me recostar no armário suspenso e assisti-los pela janela, que começava a dois palmos do chão e chegava quase até o teto.
Felipe: O que é isso, Nenê? — Felipe apontou em direção ao pé de laranjeira que eu não conseguia enxergar por inteiro pela janela.
Nero: É um casulo se abrindo. Daí vai crescer uma borboletinha.
Felipe franziu o rosto em incompreensão.
Felipe: Borboletas nasce nas árvores?
Nero: Digamos que sim. A borboleta deposita os ovos nas plantas e surgem as larvas. A lagartinha cria um casulo e se transforma numa borboleta.
Felipe: Caracas! — Meu filho ficou surpreso.
Levei a mão aos lábios para conter a minha risada. A responsável por ele aprender aquela palavra era sua própria mãe. E era a primeira vez que eu o ouvia replicando.
Nero: Essa vai ser bonita. Veja só, é azul! — o vovô de mentira continuou.
Felipe: Posso pegá, Nenê?
Nero: Se pegar antes dela crescer o suficiente, vai morrer.
Felipe: Não quero que morre não.
Nero: Vamos deixá-la quietinha. Amanhã quando acordarmos, vamos ver se ainda está aqui. Se ela já tiver voado, vamos procurá-la no jardim. O que acha?
Felipe: Sim, sim! — Animou-se. — Os bebês são igual as borboletas, Nenê?
Ele riu.
Nero: Digamos, que, o bebê fica dentro da barriga da mamãe até ficar forte e poder nascer.
Felipe soltou uma gargalhada gostosa.
Felipe: O bebê fica no casulo também!
Me espantava como ele era esperto.
Nero: Digamos que sim. É possível criar um casulo para proteger quem você ama, sabia?
Felipe: Tipo guardar mamãe trancada?
Nero soltou um sorriso com a inocência do Felipe.
Nero: Trancada não, mas protegida. Vocês estão aqui comigo, porque eu protejo você e ela.
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A parte que me faltava
FanfictionMaiara Pereira é uma jovem modesta e previsível, com o sonho de passar no vestibular para medicina, até que sua patroa a convidou para uma festa de boas vindas e exigiu sua presença na noite que mudou sua vida completamente. Fernando Zorzanello é a...