• Maiara Pereira •
Dez dias de vida e meu filho já tinha os seus favoritos. Depois de dois minutos no colo de qualquer pessoa, começava a berrar. As exceções em que ficava bem calminho eram no colo do Nenê, quem sentia ser o próprio vovô do ano, e no da tia Áurea.
Meu chefe parecia estar sempre de alto astral, tentando me provar que estava se dando bem sozinho. Dispensou a ajuda que minha tia ofereceu para ocupar o meu lugar e queria participar da maternidade comigo.
Isabel: Com licença. — Isabel apareceu na porta do quarto que Nenê mobiliou para o meu filho. — Está precisando de algo, Maiara? — perguntou ao me encontrar na poltrona de amamentação.
Maiara: Não, Isabel, mas obrigada por se preocupar. — Assentiu de forma educada, fechando a porta antes entreaberta.
Ficava cada dia mais surpresa com o poder de um bebê fofo na vida das pessoas. Isabel me abominava, mas assim que voltei para a casa do Nero com o meu filho, me tornei querida por ela. Os outros seguiram o exemplo. Meu chefe, embora tranquilo, antes do Felipe nascer tinha muitos momentos de introspecção, entretanto seus momentos reservados se tornaram inexistentes.
Se ele tivesse peitos, amamentaria o meu filho por mim, tenho certeza.
Não passei nenhuma noite do puerpério sozinha. Roze ou minha tia dormiam comigo, intercalando para que eu tivesse algumas horas de sono. Durante o dia, Nero não saía do meu pé e eu ainda recebia visitas do Gustavo. Dez dias depois de parir, minha lombar ainda me matava, meus seios sensíveis incomodavam e eu tinha um leve sangramento.
Deixei o meu livro de lado e andei até o berço ao ver, pela visão periférica, uma movimentação. Despertando do soninho, meu filho abriu seus lindos olhos, extremamente familiares.
Meses depois eu ainda me lembrava dos olhos do Fernando. Gostaria de tê-los visto mais vezes para ter certeza de que eram iguais aos do meu filho. Por uma razão desconhecida até para mim, não conseguia pensar no Felipe como nosso.
Fernando não esteve ao meu lado em nenhum momento, afinal.
Toquei o rosto do meu filho e engoli em seco, entrando em mais uma neurose, daquelas difíceis, que machucam e que pesam. Refleti se errei em algum momento. Não queria errar. Não amei meu filho durante a gravidez, mas poucas horas depois de tê-lo comigo, algo potente surgiu dentro de mim.
A única certeza que eu tinha era de que, por ele, eu faria tudo.
O cheiro familiar de cocozinho que percorreu minhas narinas indicava que a fralda precisava ser trocada. Hora de dar adeus à melancolia. Peguei-o e o coloquei com cuidado no trocador em cima da cômoda planejada.
Descolei as pequenas fitas, abri a fralda suja e a removi. Peguei os lenços umedecidos enquanto Felipe se balançava, inquieto. Meu peito se encheu de gratidão ao lembrar que não precisei comprar nada. Tudo foi dado pelos meus amigos e familiares. Limpei meu filho com cuidado e finalizei secando com um lenço de algodão. Antes de colocar a fralda limpa, apliquei uma fina camada da pomadinha de assaduras. Escolhi um macacãozinho vermelho que foi presente da Isis.
Para que ele acordasse menos no período noturno, durante o dia eu o deixava mais exposto a luz natural, em outros cômodos da casa para que ouvisse ruídos cotidianos. Então, durante a noite, eu havia criado uma rotina de preparação para dormir. Cantava para ele, deixava as luzes mais baixas e o embalava em seu cobertorzinho macio.
Quando entardeceu, eu desejava como nunca um bolo de fubá com goiabada, mas não um comprado, um que eu mesma sabia fazer, a receita da minha falecida mãe. Comer só um pedaço não era pecado. Meus tios estavam na sala, olhando Felipe no carrinho ao mesmo tempo que conversavam com o Nenê. Era a minha oportunidade de colocar a mão na massa.
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A parte que me faltava
FanfictionMaiara Pereira é uma jovem modesta e previsível, com o sonho de passar no vestibular para medicina, até que sua patroa a convidou para uma festa de boas vindas e exigiu sua presença na noite que mudou sua vida completamente. Fernando Zorzanello é a...