Capítulo 33

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• Fernando Zorzanello •

Suspirei pesado ao ouvir o implícito desabafo do garoto que eu já amava. Fui tomado por uma profunda agonia. Meu peito parecia queimar para gritar em alto e bom som que eu era seu pai, e que eu enfim havia chegado.

Virei-me para a Maiara, que parecia ter ficado ainda mais mexida. Eu simplesmente não poderia continuar visitando o meu filho sem revelar a verdade. Como ficaria a cabeça dele quando eu de fato pudesse dizer?

Maiara: Filho, você... gosta do Fernando? — Ela está introduzindo o assunto?

Encarei-a, em busca de uma confirmação, e ela assentiu. Caralho, estava acontecendo, e eu fiquei com medo da reação dele. Fernando Zorzanello estava com medo, tremendo na base.

Felipe: Gosto! — respondeu sem rodeios.

Não queria passar por cima do pedido da Maiara de esperar para revelar, então a olhei mais uma vez em busca da certeza. Outra vez, assentiu.

Fernando: Felipe. — Esperei que fixasse sua atenção em mim. — E se eu te disser que... o seu pai já voltou?

Meu filho olhou para os lados, ansioso, como se buscasse mais alguém no ambiente. Ele estava procurando pelo pai. Foi difícil assistir àquilo, imaginava o quanto estava sendo difícil para Maiara também.

Felipe: Onde, "Fenando"? Ele não vai vir me vê?

Fernando: Seu pai queria que você gostasse dele primeiro. Você já o conhece. — Franziu o rosto, confuso. — Vem. — Peguei em sua mão e o fiz ficar de pé na cadeira. — Olha bem nos meus olhos, bem de pertinho. — E assim o fez. — Percebeu que eles são iguais aos seus?

Felipe: Sim, igualzinho, só que mais grande. — Sorri com a sua explicação.

Direcionei outra vez os meus olhos para a Maiara, os dela já estavam marejados. Como eu falo? Como?

Maiara: Filho... olha pra mamãe — pediu, com a voz embargada. Felipe seguiu seu comando. — Fernando voltou de viagem apenas por você. Ele é seu... pai... e te ama muito.

Espantado, se virou para mim e outra vez para a sua mãe.

Felipe: Mamãe, é verdade? — O biquinho que se formou e as sobrancelhas curvadas para baixo anunciavam que ele choraria. Eu também estava quase lá.

Maiara: Sim, filho. Fernando é o seu papai.

Engoli a bile entalada em minha garganta e usei toda a força do meu corpo para não deixar as lágrimas escorrerem assim que Felipe se voltou para mim outra vez.

Felipe: Papai? — perguntou, com a voz trêmula. Assenti, pressionando meus dentes com força.

Fernando: Perdoe o seu pai por ter demorado tanto tempo...

Felipe fungou e deixou as lágrimas que se acumulavam escorrerem. Segurei nas laterais do seu abdômen e trouxe para o meu colo.

Abracei seu corpo trêmulo, estendendo o meu pedido de perdão. Ele chorou, com a bochecha recostada em meus ombros. Doía ouvir seu choro. Maiara também se debulhou em lágrimas, tornando a minha missão de parecer forte impossível de manter.

Dentro do abraço daquele garoto, removi os esforços e a barreira e deixei a minha muralha cair. Pedra por pedra, tudo desabou.

Que eu pudesse recompensá-lo por todo tempo que o fizemos pensar que estava só.

Daquele dia em diante, a palavra solidão seria riscada de seu dicionário.

***

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora