Capítulo 3

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• Maiara Pereira •

Não era todo dia que eu poderia pegar na mão de um homem atraente com um olhar sedutor, mesmo que a minha situação fosse a mais constrangedora de todo o século. De ótimo grado, segurei em sua mão grande, forte e um pouco áspera para me levantar. Por um breve momento, até me esqueci da dor no tornozelo, mas o esquecimento logo deu lugar à vergonha, que fazia meu rosto queimar. Eu mal conseguia encarar seus olhos.

A iluminação baixa do jardim não me dava a oportunidade de vislumbrar com clareza se os olhos dele eram pretos ou castanhos.

Suas sobrancelhas e barba, com uma nuance de preto, harmonizavam com o cabelo, realçando o rosto atraente. O corpo robusto, com uma postura ereta, cheirava como brisa de tempestade e carvalho, e seu perfume não me enjoou como todos os outros. A expressão fria que carregava em si foi substituída por um sorriso presunçoso assim que soltei sua mão e cruzei os braços no meu corpo, sentindo um pouco de frio, dolorida e envergonhada.

XX: Saltos podem ser uma merda — comentou, movendo os olhos lindos para a minha sandália, segui seu olhar e percebi que uma estava descolando do solado.

Ótimo. Perfeito.

Parabéns, Maiara, sua gatona.

Meu vestido estava sujo de terra e minhas mãos ardiam após cair com as palmas no chão ao tentar me equilibrar. Sentindo a ardência, tirei o que restava da sandália arruinada. O outro par ainda estava inteiro, mas não duvidava da minha capacidade de estragá-lo até o horário de ir embora.

Fernando: Vai ficar descalça? — Olhei-o e sua testa estava um pouco franzida, denunciando que ele estava me achando uma esquisita. — Não ganho nem um obrigado? — continuou, deixando um sorriso tomar conta de seus lábios com aparência sedosa, exibindo seus dentes claros e perfeitamente alinhados.

Que desgraça de homem bonito era esse? Já tinha visto alguns homens jeitosos, mas ele... ele ultrapassava os limites.

Maiara: Obrigada, mas acho que não quebrei nenhum osso e teria conseguido me levantar sozinha.

Ele riu.

Fernando: Finalmente a mocinha do vestido rosa resolveu falar. Estava até desconfiando de que havia perdido a voz depois do tombo. Seria trágico.

Precisei forçar um lábio no outro para esconder o riso, e então suspirei, derrotada, olhando para a minha roupa e pensando que aquele homem bonito vestido em uma calça jeans escura, rasgada em um dos joelhos, e camisa social preta semiaberta com um blazer por cima, estava me vendo com aquela renda brega.

Maiara: Deveria ter trocado pro vestido de quenga... por que sou tão teimosa? — pensei em voz alta, fazendo-o rir outra vez.

Eu acabei mesmo de dizer isso? Cristo!

Fernando: Como é seu nome? — Ignorou minha divagação. Ainda bem.

Maiara: Mai... tê — menti, pois era mais seguro, e melhor seria nem perguntar o dele. Só o veria uma vez na vida mesmo.

Fernando: E o que faz aqui sozinha, Maitê?

Bom, parece que gostosão quer engatar uma conversa.

Maiara: Além de vestir essa coisa brega de renda e pagar um mico na frente de um desconhecido?

Sorridente, passou por mim apontando para um assento em formato de balanço, com rosas brancas entrelaçadas em cordas, em frente à cascata.

Espera.

O que está acontecendo aqui?

Ele se sentou no canto direito do balanço de aço e se virou para mim, dando um curto aceno de mão.

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora