Capítulo 28

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• Fernando Zorzanello •

Dias depois

Fernando: Mãe, já disse que volto em breve.

Filomena: Fernando, não há nada para você fazer nessa cidade sozinho! Volte, volte, volte! Tudo foi resolvido! — Ouvia seus gritos histéricos pelos alto falantes do meu carro.

Fernando: O que deu em você, mãe? Torcia para que eu descansasse, mas quando resolvo tirar umas férias, enlouquece.

Filomena: Tire férias em outro lugar! Você pediu ao motorista para levar o seu carro, Fernando! Roupas! Uma mala de roupas!

Fernando: Estou conseguindo trabalhar à distância. Aqui tem muito verde, sabe? Uma paz gigantesca — dissimulei.

Filomena: Deixe-me ir até você! Pare de me proibir!

Fernando: Já disse que não. Vamos ter problemas se me contrariar. — Minha mãe só iria atrapalhar.

Filomena: Filho, me escut...

Fernando: Chega, mãe. Ficarei alguns dias e isso é assunto encerrado. Não venha para cá, a não ser que me queira puto com você. Fique bem. Vou desligar.

Filomena: Fernando...

Fernando: Até mais, Filomena. — Desliguei antes que ela pudesse me pirraçar mais uma vez.

Verifiquei minha figura no espelho retrovisor interno. Meu cabelo estava bem penteado e os óculos escuros de modelo aviador, que eu usava junto de um terno acinzentado, combinavam com o papel que eu estava desempenhando.

Descobri o seu telefone de maneira ilegal. Não fui atendido, então averiguei onde estava morando com o filho e resolvi ir ao seu encontro. Minha Porsche preta de vidros fumês estava estacionada em frente à mercearia.

Minha obstinação era de causar inveja, mas o pouco que conhecia da Maiara, imaginava o quão desgostosa ficaria ao me ver.

E o problema era todo dela.

Perguntava-me se, após abocanhar os seus milhões ao fim do inventário, ela continuaria morando ali. Ela ajudaria a tia? A mercearia de bairro não era tão derrubada, mas uma reforma viria a calhar.

Decidido a não perder mais tempo, destravei a porta e coloquei os meus pés calçados em um sapato social para fora do carro. A senhora, que antes se sentava no caixa, se levantou e entrou por uma pequena porta aos fundos.

Acionei o alarme na chave, ouvindo o bipe, e quando voltei os olhos para o interior da mercearia, o vão entre as prateleiras não estava mais vazio. Um garotinho, de cabelos escuros me observava com curiosidade.

Tirei os óculos escuros e sorri para ele, que retribuiu com certa timidez. Desviando os olhos de mim, passou a encarar o carro e a se aproximar. Suas mãos seguravam um boneco do Capitão América.

Felipe: Puxa, que carro grande! — exclamou, chegando à calçada e logo após ergueu o rosto para olhar para mim, a cerca de dois metros de distância.

Fernando: É bem grande mesmo. Quer dar uma volta?

O pequeno suspirou, frustrado.

Felipe: Queria... mas mamãe disse que não pode ir com estranho.

Fernando: Ela está certa. Vai que o estranho é um bandido.

Sua boca se entreabriu. Havia algo muito familiar em seu olhar. Seria loucura se eu pensasse que já o vi em algum lugar antes?

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora